sábado, 12 de setembro de 2009

O Cavaleiro do Rei (55). Novela



Um polícia chega. Até ao momento não conseguiu lixar a vida de ninguém. Irá para casa com as mãos cheias de fome. Ouve o barulho de aves no cimo da igreja. Vai ao carro e retira uma carabina de cano curto. Não é a ideal para tiro. Mas vale a pena tentar, sempre se consegue algo para comer. Aponta a arma, dispara e um corvo cai quase aos seus pés. Acto contínuo, os crentes que estavam em oração profunda, assustam-se e pensam num castigo de Deus, abandonam a igreja incluindo o padre. O polícia surpreso olha para a multidão. Pensa em pedir reforços. Depressa vê o erro que cometeu. Atrapalhado confessa:
- Pensei que fosse outra ave! Alguém a quer?
- Seu parvo! Isso era uma ave disfarçada de feiticeiro. Fujam enquanto temos tempo.
O polícia não sabia o que fazer. Foi ensinado desde criança a temer o feitiço. Aliás na sua família eram todos feiticeiros. Achava que tinha que dizer algo. Era esse o seu dever.
- Hum! Essa igreja deve ser uma célula da Al-Qaeda. Esta cidade parece a capital do terrorismo internacional.

Epok sentiu o que restava da sua alma, ao vibrar com a informação do marquês das Epidemias. Além das existentes, outras mais poderosas estavam a chegar. É certo e sabido que somos demasiado desumanos com os nossos súbditos. Achou que o rei devia tomar medidas para que acontecimentos demasiado notórios não acontecessem jamais. Sob pena de uma revolta protagonizada pelos mais pacíficos. Quando estes se revoltam, não há quem os segure.

Capítulo XVII
A misse zungueira

Um país “descobre” que falta energia, e organiza-se de última hora um sistema de racionamento energético, como se o abastecimento e o consumo de energia não fossem previsíveis. Isto depois de décadas de incessante martelamento publicitário incitando-nos a comprar maiores geladeiras, aparelhos de ar condicionado e outras formas de maximização de consumo energético. Os Estados Unidos “descobrem” que estão chegando ao fim das suas reservas de petróleo, e se lançam em aventuras militares, quando todo o seu modelo foi organizado na promoção do uso perdulário da energia, inclusive como fator de “status” social. Os países produtores de petróleo contabilizam a venda dos seus recursos como se fosse produção, fator de aumento do Pib, quando na realidade estão vendendo hoje os recursos que faltarão às próximas gerações: a conta dos recursos naturais dilapidados não entra na contabilidade nacional. Os residentes de uma região não são informados sobre o uso de agrotóxicos que podem estar contaminando os lençóis freáticos, gerando doenças, reduzindo o valor dos seus imóveis: pelo contrário, os agrotóxicos só entrarão nos nossos sistemas de informação aumentando o Pib dos produtores.
In Informação para a cidadania e o desenvolvimento sustentável.
Ladislau Dowbor

Um Frequentador das cantinas de rua sentia-se orgulhoso em estar com os seus amigos e olhar para a devastação à sua volta. Um imenso cemitério de garrafas e latas vazias que poluíam o chão. Quase não se podia andar, sob risco de tropeçar numa delas, e a queda inevitável, desamparada, sem sobriedade traz sempre imprevistos.
Aí umas oito bonitas zungueiras em fila, passam como se estivessem num concurso de misse. O Frequentador aborda-as:
- Ó bonitas… venham cá!
- Diz lá.
- Vamos fazer um concurso de misse zungueira.
- Ah! Vamos embora, esse está bêbado!
- Estou a falar verdade. Vá, desfilem aí uma de cada vez. O prémio para quem ganhar é mil dólares. A segunda classificada quinhentos e a terceira duzentos.

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