sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Cavaleiro do Rei (54). Novela


Um feiticeiro infiltrado na igreja fugiu com a família para o estrangeiro, levando os quinhentos mil dólares dos donativos.
Outro feiticeiro digno de menção é o que está na EDVR, a Empresa Distribuidora das Velas do Reino que vai deixar de fornecer velas. Ninguém paga as contas.
O Feiticeiro do Centro interrompe.
- Como é que os coches vão andar nas ruas sem velas? Sem luz os esfomeados pilharão tudo.
- O Santo Oficio já criou esquadrões da morte.
- E os mosquitos?
- Apanhem-nos e comam-nos. Contém o mínimo de minerais essenciais à saúde.

- O Nosso Feitiço!
- Voa! Voa!
- Um só!
- Feitiço!
- Escravos para sempre!
- Da fome e do feitiço!

Nos três dias que duraram os trabalhos as áreas circundantes do Palácio viveram momentos de grande terror. Logo no início a luz e a água foram-se. Um denso nevoeiro era constante, fazia os vultos parecerem fantasmas. As noites eram tão escuras que quem se aventurasse a circular sentia-se como dentro de um poço sem fundo. Como se não bastasse, raios e fortes trovões vindos do céu iluminavam a cena desencorajando mesmo os mais audazes transeuntes. As mães em pânico não sabiam o que fazer com as crianças. Estas imploravam:
- Mamã tira daqui os feitiços.
- Não posso fazer nada, estes feiticeiros são poderosos.
Sobre a água e a luz as vozes eram concordantes.
- Como se não bastasse o rei e os cortes constantes que os nobres nos fazem, agora aparecem os feiticeiros.

Os morcegos e especialmente os corvos vigiavam. Poisavam nas varandas, nas janelas, nos postes da escura iluminação. As baratas, os ratos e as aranhas entravam nas casas atentas a qualquer comida que chegava em casa. Os esfomeados rezavam.
- Meu Deus, por favor acaba depressa com a reunião deles.
As crianças destemidas devido à sua inocência pediam feitiços.
- Faz-me um feitiço para ter uma boneca muito bonita.
- Faz um feitiço para que não vá mais à escola.
- Tenho fome, quero um feitiço com muita comida.
Um esfomeado pegou numa espingarda e disparou para um corvo. Preparou o fogareiro. A ave ficou bem assada acompanhada por quase um quilo de jindungo. No fim da refeição é que foram elas. Uma chuva de corvos e morcegos invadiu-lhe a casa. Os bicos das aves nos corpos pareciam ferros em brasa. Foi para a rua e gritou:
- Tetézinha, atira tudo cá para baixo incluindo os filhos! Porra! Estes feiticeiros não são para brincadeiras!
Como alternativa escolheram a igreja. O padre surpreendeu-se pela repentina aparição de tantas almas.
- Não vão trabalhar? Estão à espera do fim do mundo?
- Salva-nos por amor de Deus, liberta-nos dos feiticeiros!

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