segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Os Templários, esses grandes senhores de mantos brancos. Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos (9)


MICHEL LAMY

Os Francos contentavam-se com vagos pactos de não agressão e obrigavam-nas a pagar um tributo. Alguns senhores árabes aproveitavam-se desta situação para efetuarem golpes de mão e assaltarem as caravanas de peregrinos. Os camponeses muçulmanos, para resistirem ao invasor, não hesitavam em organizar o bloqueio econômico das cidades a fim de as reduzirem à fome ou capturavam cristãos isolados e vendiam-nos como escravos. Nas próprias cidades ocorriam atentados. Em resumo, a segurança era uma palavra vã.
Havia uma estrada que era especialmente considerada exposta e pouco segura. Ligava Jafa a Jerusalém, e os egípcios de Ascalon faziam amiúde incursões contra ela. Os peregrinos só podiam circular por ela agrupados em pequenas hostes, melhor armados que fosse possível. Hugues de Payns teria decidido remediar essa situação constituindo uma equipa «para que guardassem os caminhos, lá por onde os peregrinos passavam, dos ladrões e salteadores que grandes males aí soíam fazer», como dizia Guilherme de Tiro.

Hugues de Champagne e o nascimento da Ordem
A Ordem do Templo foi fundada a 25 de Dezembro de 1118. Hugues de Payns e Geoffroy de Saint-Omer tinham prestado juramento de obediência entre as mãos do patriarca de Jerusalém no preciso dia em que Balduíno era coroado rei.
Mas nove cavaleiros não seriam bem poucos para guardar as estradas da Terra Santa? É certo que poderemos supor que cada um deles deveria ter consigo alguns homens, sargentos de armas ou escudeiros. Isto era muito corrente, mesmo que tal não fosse referido.
Mesmo assim, os primórdios foram bastante modestos e não devem ter permitido que os primeiros Templários desempenhassem a missão que, aparentemente, se haviam atribuído. Diz-se que guardavam o desfiladeiro de Anthlit, entre Cesareia e Caifa, no preciso local onde, mais tarde, edificaram o famoso Castelo-Peregrino. Tal tarefa não deveria ser muito fácil, estando sediados em Jerusalém.

Quase desprovidos de meios, não podiam fazer muito. A lógica exigia que procurassem recrutar pessoas para desempenharem melhor a sua missão. Era indispensável. E, no entanto, nada fizeram. Evitaram, inclusive, com muito cuidado, durante os primeiros anos, qualquer aumento da sua pequena hoste. Guilherme de Tiro e Mathieu de Paris são formais: recusaram toda e qualquer companhia, excepto, em 1125 ou 1126, a do conde Hugues de Champagne, filho de Thibaut de Blois, um senhor cujo condado era mais vasto do que o domínio real.
Porquê esta recusa? Como é possível que aqueles nove cavaleiros não tenham participado em qualquer operação militar, embora o rei não tenha parado de combater, de Antioquia a Tiberíades, passando por Alepo? Tudo isto não convence e o papel de polícias das estradas parece, nestas condições, uma simples capa que disfarça uma outra missão que deveria permanecer secreta.

É talvez graças à chegada de Hugues de Champagne que vamos perceber um pouco melhor o que se passou.
Em 1104, depois de ter reunido alguns grandes senhores, dos quais um se encontrava em relação muito estreita com o futuro templário André de Montbard, Hugues de Champagne partira para a Terra Santa. Tendo regressado rapidamente (em 1108), deveria voltar lá em 1114 para regressar à Europa em 1115, a tempo de doar a São Bernardo uma terra onde este construiu a Abadia de Clairvaux.

Em todo o caso, a partir de 1108, Hugues de Champagne tinha entabulado contactos importantes com o abade de Cister: Estêvão Harding. Ora, a partir dessa época, embora os cistercienses não fossem considerados habitualmente homens de estudos - ao contrário dos beneditinos -, eis que começaram a estudar minuciosamente textos sagrados hebraicos. Estêvão Harding pediu mesmo ajuda a sábios rabinos da Alta Borgonha. Que razão poderia ter originado um entusiasmo tão repentino por textos hebraicos? Que revelação se pensava que esses textos poderiam trazer para que Estêvão Harding tenha posto, assim, os seus monges a trabalhar com o auxilio de sábios judeus?

Neste quadro, a estada de Hugues de Champagne na Palestina pode parecer como uma viagem de verificação. Podemos imaginar que documentos descobertos em Jerusalém ou nos seus arredores tenham sido trazidos para França. Foram traduzidos e interpretados, e Hugues de Champagne teria ido então procurar informações complementares ou então verificar, no local, a correcção das interpretações e a validação dos textos. Sabemos, por outras fontes, o papel importante que São Bernardo, protegido de Hugues de Champagne, devia desempenhar na política do ocidente e no progresso da Ordem do Templo. Escreveu a Hugues de Champagne, a propósito da sua vontade de ficar na Palestina:

Se, pela graça de Deus, te fizeste conde, cavaleiro, e de rico, pobre, felicitamo-nos pelo teu progresso, dado que é justo, e glorificamos a Deus em ti, sabendo que isto é uma mutação à mão direita do Senhor. Quanto ao resto, confesso que não suportamos com paciência sermos privados da tua alegre presença por não sei qual justiça de Deus a menos que, de tempos a tempos, mereçamos ver-te, se tal for possível, o que desejamos mais do que todas as coisas.

Esta carta do santo cisterciense mostra-nos até que ponto os protagonistas desta história estão ligados entre si e são capazes, portanto, de guardar o segredo em que trabalham. Aliás, o próprio São Bernardo interessou-se muito de perto por antigos textos sagrados judeus. Em todo o caso, parece que Hugues de Champagne considerou as revelações suficientemente importantes para legitimarem uma fixação na Palestina. Era casado e, para entrar na Ordem do Templo que acabara de se criar, era necessário que a sua mulher aceitasse entrar para um convento.

A cara esposa não entendia assim as coisas. Hugues de Champagne hesitou durante algum tempo mas, como a sua mulher lhe era notoriamente infiel, repudiou-a. Aproveitou esse fato para deserdar o filho, em relação ao qual tinha fortes desconfianças de não ser seu, e abdicou de todos os seus direitos em favor de seu sobrinho, Thibaut. Entrou para a Ordem do Templo e nunca mais deixou a Terra Santa, onde faleceu em 1130.

Iamgem: http://www.maconaria.net/regaleira_fotos/regaleira_04.jpg

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