quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ravensbrück. Campos de concentração nazis que parecem de Luanda




Porque muitas vezes o esquecimento leva ao renascer do horror; para que não emerjam movimentos que se alimentam de ódios cegos e ignorantes.
http://anatomiadeuminferno.blogspot.com/

Histórico
Localizado na antiga Alemanha Oriental perto de Furstenberg, o campo de concentração de Ravensbrück foi construído no outono de 1938. Em maio de 1939, com a transferência de prisioneiras de Lichtenburg (como Olga) tornou-se o único grande campo de concentração feito exclusivamente para mulheres.

Inicialmente o campo oferecia condições higiênicas e uniformes limpos, mas já tinha punições e trabalho escravo como norma. As condições pioraram com a guerra e a super população.

Durante sua existência cerca de 132.000 prisioneiras de 23 países, junto com centenas de crianças, passaram por Ravensbrück, estimando-se que 92.000 foram vítimas de fome, fraqueza e execuções.

Em março e abril de 1945, a Cruz Vermelha Sueca conseguiu liberar milhares de mulheres de Ravensbrück com a concordância do chefe da SS, Heinrich Himmler. Em 27 e 28 de abril, as mulheres restantes e que podiam andar foram forçadas à uma marcha da morte. Em 30 de abril de 1945 o exército soviético liberou o campo de Ravensbrück, onde encontrou somente 3.000 mulheres, muito doentes.

Cotidiano
Em Ravensbrück as prisioneiras eram classificadas em categorias conforme mostra o quadro ao lado. Por exemplo: um triângulo amarelo indicava que a prisioneira era judia. As de comportamento anti-social (como Olga) usavam também um triângulo preto, formando uma estrela de David.

Construído para 5.000 detentas, o campo chegou a comportar até 6 vezes mais, com 3 a 4 dormindo na mesma cama e até no chão, sem cobertores.

As prisioneiras eram acordadas às 4 da manhã e ficavam do lado de fora até serem contadas. Era então servido uma imitação de café. Voltavam aos barracões ao meio-dia e à noite para uma sopa. Trabalhavam cerca de 12 a 14 horas por dia, com folga no domingo.

Elas eram forçadas (assim como em 70 sub-campos) ao trabalho escravo para empresas como Siemens, AEG e Daimler Benz, fazendo inclusive peças para as bombas V1 e V2, uniformes de prisioneiros e da própria SS além de construção de estradas.

As que sabotavam ou resistiam sofriam com espancamentos e torturas. Também foram submetidas à experimentos médicos onde eram usadas como cobaias humanas.

No inverno/primavera de 1942, algumas mulheres, incluindo Olga Benário, foram executadas na câmara de gás no centro de eutanásia de Bernburg. Posteriormente Ravensbrück teria sua própria câmara de gás e fornos crematórios.

As mulheres de Ravensbrück
Mais do que números e estatísticas, cada uma das milhares de mulheres que sofreram em Ravensbrück representa uma história individual e rica, como a de Olga Benário contada neste filme.

Apesar do sofrimento e da falta de material, as mulheres faziam pequenos objetos de afeição, para presentear as amigas, nos aniversários e feriados. Também fizeram desenhos e escreveram poemas, peças e até um livro de receitas para preservar as histórias familiares.

Organizavam aulas de línguas, história e geografia e até um jornal secreto (como no caso de Olga). Também participaram de sabotagem na produção e tentaram manter registro das chegadas, punições e mortes para a posteridade.

A Última Carta de Olga
Só muitos anos depois de escrita, Prestes receberia a última carta que Olga escrevera a ele e à filha, ainda em Ravensbrück, na noite da viagem de ônibus para Bernburg, onde ela morreu na câmara de gás.

"Queridos:
Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças - ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês ? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte."

Os Personagens
Olga Benário (Camila Morgado) - Judia alemã, militante comunista, viaja ao Brasil se passando por mulher de Prestes. Presa após o fracasso da Intentona Comunista de 1935, é deportada grávida de 7 meses para a Alemanha Nazista onde morre na câmara de gás em 1942.

Luís Carlos Prestes (Caco Ciocler) - Comunista brasileiro, líder da "Coluna Prestes", vai para Moscou após marchar 25.000 km. Resolve voltar ao Brasil, viajando sob o disfarce de marido de Olga. Preso junto com ela, é libertado em 1945.

Dona Leocádia Prestes (Fernanda Montenegro) - Mãe de Prestes, batalhou incansavelmente pela libertação de seu filho, nora e neta. Morre 2 anos antes da libertação do filho.

Sarah (Jandira Martini) - Companheira que chega junto com Olga à Ravensbrück. É a maior confidente de Olga neste campo que seria sua última prisão.

Elise Ewert - Sabo (Renata Jesion) - Mulher de Arthur Ewert e melhor amiga de Olga. Sofreu bárbaras torturas na prisão, sem nada revelar. Ficou presa com Olga no Brasil e em Ravensbrück.

Hannah (Milena Toscano) - Outra companheira de Olga em Ravensbrück . Jovem de 20 anos , revoltada à princípio, acaba cedendo aos apelos de Olga e ajuda na limpeza e organização do barracão.

Arthur Ewert (Werner Schünemann) - Comunista alemão, foi encarregado por Moscou de participar da revolução de 1935, junto com Prestes. Mesmo com todas as torturas nada revelou de suas ligações.

Otto Braun (Guilherme Weber) - Líder da Juventude Comunista Alemã e primeiro companheiro de Olga. É libertado por ela e fogem juntos para Moscou. O envolvimento de Olga com a carreira acabou ocasionando o afastamento dos dois.

Getúlio Vargas (Osmar Prado) - Presidente do Brasil desde 1930 após um golpe. É o principal alvo da revolução comunista. Só saiu do poder em 1945 após a queda de Hitler na Europa, de quem era admirador. Voltou à Presidência pelo voto popular, de onde só saiu morto após um suicídio que abalou o país.

Filinto Muller (Floriano Peixoto) - Chefe da Polícia do Distrito Federal, temido e mais poderoso que os ministros de Vargas. Teve um empenho pessoal na captura de Prestes, de quem foi companheiro na Coluna, posição que abandonou levando armas e dinheiro.

Equipe Técnica
Diretor: Jayme Monjardim - Olga, baseado no livro homônimo de Fernando Morais, é seu primeiro longa-metragem. Nele Jayme coloca toda sua experiência de muitas novelas e minisséries, e seu estilo próprio de filmagem. O tema, um épico histórico, também é o seu favorito. O estudo de uma época, nos ajudando a compreender o passado e o presente é uma constante em sua obra.

Diretor de Fotografia: Ricardo della Rosa - Nascido em São Paulo, Brasil em 1968. Estudou cinematografia na UCLA - Los Angeles (1990-1992). Como Diretor de Fotografia atuou em campanhas internacionais para Pepsi e Gatorade, nacionais para Coca-Cola, Nike, Itaú, Volkswagen, Honda, entre outros. Recebeu o prêmio de melhor fotografia nos Festivais de Gramado e Recife - 1997 pelo curta "Recife de Dentro pra fora" e duas vezes recebeu o premio da ABC - Associação Brasileira de Cinematografia pelos videoclipes - Aonde quer que eu vá - Paralamas do Sucesso (2002) e Bullet in the Blue Sky - Sepultura (2003), o qual tambem ganhou o premio de melhor fotografia no MTV - Video Music Brasil (2003).

Roteirista: Rita Buzzar - Roteirista e produtora, estudou cinema na Escola de Comunicações e Artes de São Paulo. É autora de sucessos para a televisão como a mini-série Rosa dos Rumos (Rede Manchete, 1990-91), Ana Raio e Zé Trovão (novela, Rede Manchete, 1990-91) e escreveu a história de A Queridinha (Rede Manchete), de Walter Avancini. Também escreveu os roteiros de "Lara", "Zuzu" e "Maria dos Prazeres", uma produção internacional de Carlo Ponti. Trabalhou com Gabriel Garcia Marquez na série "Amores Posibles", para a televisão espanhola. E participou no Sundance Institute, em Utah, com o projeto selecionado "Luz no Céu". Dirigiu vários documentários para a televisão. Entre eles, "Carandiru.doc", sobre a Casa de Detenção e as filmagens de Hector Babenco. E está agora produzindo, em conjunto com a Globofilmes "Olga", do qual também é roteirista.

http://www.webcine.com.br/notaspro/npolga.htm

Imagens:
http://www.jewishgen.org/ForgottenCamps/Images/Ravensbruck5.gif
http://www.ravensbrueck.de/mgr/Archiv/deutsch/frauen- kz/images/befreiung.jpg

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