quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O Cavaleiro do Rei (61). Novela


O Grande Destilador enfrenta os convidados, atira-lhes o seu discurso:
Como resolver problemas no lar?
Beber uma caixa de cerveja, chegar em casa e dar uma grande surra na esposa e nos filhos.
Como perder amizades?
Beber muito todos os dias.
Como perder o medo de falar com o chefe?
Beber uma garrafa de uísque. Virá uma coragem que nunca mais acaba.
Exigimos subvenções para bebermos. As bebidas estão muito caras. É por isso que nunca temos dinheiro.
Quando algum trabalhador aparecer no local de trabalho bêbado, deverá ser tratado como herói do trabalho.
Quem conseguir beber três dias e três noites sem parar, terá direito a ser enterrado no Panteão Real.
Existem poucos locais de venda, queremos mais. Isto é o caminho de Deus. Bebam sempre. Andem, tendo por companhia uma garrafa. Droguem-se à vontade. Comprem armas que disparem bebida. Suicidem-se quando quiserem.
O congresso durou apenas três horas porque ninguém aguentou mais. O álcool encerrou os trabalhos. As latas, garrafas e garrafões vazios eram de tal monta que parecia uma grande maré, um maremoto vindo do sem mar.

Epok preparou-se, rejubilou com o aniversário do rei.
Para os festejos são criadas dezassete comissões organizadoras nos vice-reinos. No reino são às centenas.
Todos os funcionários do reino e das empresas reais aguentarão dois meses de atraso nos seus vencimentos para que nada falte. Serão suspensas as obras em curso, incluindo as mais prioritárias. As suas verbas serão desviadas para o grande acontecimento. Afinal é apenas uma vez por ano. Todos são obrigados a participar. Serão organizados grandiosos torneios com os melhores cavaleiros do mundo. Uma semana de maratonas para que os esfomeados e alcoólicos se lembrem do seu rei. As comissões organizadoras ficam dispensadas da apresentação de contas.

O Nobre Epok recebe um convite da empresa, Única Cargas Real, para uma visita. Não tem nada de extraordinário porque tudo foi montado pelo reino sueco. Foi chegar, sentar e trabalhar. O nobre marquês máximo recebe-o. Entra no departamento das finanças e pára, sente-se incomodado. As portas, os computadores, a alcatifa muito peluda… é tudo de cor negra. Os doze trabalhadores também são negros. Como se não bastasse, o chefe usa óculos muito escuros. Tem no seu gabinete um quadro grande com uma fotografia em que aparece a mexer num teclado de computador negro. Epok pergunta:
- Isto é humor negro?!
- O carro do chefe também é negro.
- A alcatifa muito peluda provoca electricidade estática!
- Até agora ninguém sentiu nada.
- Só faltam flores negras.
- Andam à procura delas.
- Nobre marquês máximo… porquê?!
- É por causa do feitiço.

Capítulo XX
Diário do Reino

«Uma vez mais, como frente à globalização de uma parte da economia não se desenvolveram as correspondentes capacidades mundiais de política econômica, setores inteiros da economia de um país podem ficar inviabilizados por produtos importados incomparavelmente mais baratos, ou a poupança arduamente acumulada de uma sociedade pode evaporar sob o impacto de algumas iniciativas de especulação financeira. É importante lembrar que o processo caótico de globalização que sofremos gera regras únicas para realidades desiguais, confrontando economias onde se trabalha 12 horas por 20 centavos a hora, com outras onde se trabalha 7 horas com remuneração de 20 dólares por hora, para mencionar só este fator.
In o que acontece com o trabalho?» Ladislau Dowbor

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