terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Cavaleiro do Rei (64). Novela


Na tentativa de sobrevivermos a este inferno, lembrei à Lwena que se adoecermos não temos dinheiro. Não sei como será. E os filhos são como se não existissem. Não se preocupam com os pais.

Eleições?! Quem deixará o poder depois de mais de trinta anos?! Quem?! Estão tão agarrados, tão colados ao dinheiro que ganham, que nunca permitirão as eleições. Quem pensar o contrário, só os incautos.

A liberdade de expressão a todos os vice-reinos continua suspensa. A Rádio Oráculo, por exemplo, não está autorizada a emitir. Isto é um grande reforço para que as eleições não se realizem. As vias de comunicação intensificam a intransitabilidade quando a estação das chuvas se aproxima. Uma coisa é certa: o reino não pode ficar mais tempo sem eleições.

O professor americano Mac Millan da Universidade de Stanford disse que a corrupção é a única instituição que funciona no reino Jingola. Na guerra que o Marquês dos Cofres Gerais faz ao FMI, por causa disso, os economistas da nobreza Politburo, apoiam a carta que o Marquês enviou ao director do FMI.

Na informação diária sobre incêndios, os Bombeiros Reais Jingola disseram que um cidadão abasteceu combustível no gerador com um candeeiro aceso. Além dos estragos no gerador e no local, o cidadão ficou queimado.
Lembro-me que há uns meses num barco de pesca, à noite, cheirava a gasolina. Alguém disse para acender um fósforo para ver o que se passava. O barco ficou destruído. Só um pescador se salvou.
Numa residência, à noite, às escuras, cheirava a gás. Alguém se lembrou de acender um fósforo para ver donde vinha a fuga.

O general construiu um pórtico de ferro no extremo do terceiro andar. Será para acesso a helicópteros? Ou para um elevador externo?

O meu cliente mandou buscar as pastas com os documentos por causa do advogado, para confirmar os pagamentos que lhe fez. O advogado diz que ele lhe deve 6.000 dólares. Vai-me pagar ainda esta semana. Disse-lhe que se não me pagar vou fazer uma exposição ao Marquês dos Cofres Gerais. O reino sofre um grande rombo em fugas ao fisco. Pior que o Titanic.

No fim de cada ano se em média, uma empresa inventar documentos no valor de um milhão de dólares, vezes mil, duas mil, três mil empresas, isto dá uma quantia astronómica. Daria para criar empregos. Não estou a gostar nada disto. Estamos pior que no colonialismo. Como o reino não tem contabilistas, não os quer, despreza-os, odeia-os, eles aproveitam e enriquecem com muita facilidade. Ainda tem coragem de conspirar contra o Governo do reino Jingola.

A Lwena foi pedir a conta da luz. Estamos aflitos porque não temos dinheiro. Estou a ver que vamos ficar desligados.

Na Rádio Oráculo, o Tona disse que há um provérbio Bacongo onde só uma pessoa não consegue tocar batuque, dançar e apitar. Para isso são necessárias três pessoas. Em Jingola são sempre as mesmas pessoas que tocam o mesmo instrumento.

Unicef informa que morrem de fome 200 crianças por mês.

Basta ver pela varanda que a cidade capital Jingola está completamente gradeada, e com as traseiras dos prédios fechadas. Se houver um incêndio num prédio, não sei como os bombeiros farão. Parece-me que ninguém se lembrou ainda disso. De qualquer modo é só facturar, colonizar. Isto é tudo para destruir.

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