MICHEL LAMY
O reino latino de Jerusalém
No entanto, os cruzados tinham fincado pé na Terra Santa e tencionavam ficar por lá. Foi fundado o reino latino de Jerusalém. Godofredo de Bouillon foi nomeado rei, mas recusou-se a cingir a coroa naquele lugar onde Cristo apenas usara uma coroa de espinhos. Godofredo, o rei cavaleiro do cisne, morreria pouco depois, em 1100.
Para além do reino de Jerusalém, que se estendia do Líbano ao Sinai, formaram-se progressivamente três outros Estados: o condado de Edessa, a norte, meio franco meio armênio, fundado por Balduíno de Bolonha, irmão de Godofredo de Bouillon; o principado de Antioquia, que ocupava, grosso modo, a Síria do Norte, e, finalmente, o condado de Antioquia.
Godofredo foi substituído por Balduíno I. A conquista fora realizada, mas agora se tratava de conservar e administrar os territórios obtidos. Era conveniente conservar as cidades e as praças fortes e velar pela segurança das estradas. O inimigo fora vencido, mas não eliminado. Fundaram-se ordens, a que foram atribuídas missões diversas. Houve, entre outras, a Ordem Hospitaleira de Jerusalém, em 1110, a Ordem dos Irmãos Hospitalários Teutónicos, em 1112, e a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo (futuros Templários), em 1118, quando Balduíno II era rei de Jerusalém.
O nome de Ordem do Templo só aparece em 1128, por ocasião do Concilio de Troyes, que codificou a sua organização. Em 1130, São Bernardo escrevia o seu De laude novae militiae ad Milites Templi, para assegurar a divulgação da Ordem. Dentro em pouco, as doações tinham-se tornado importantes, o recrutamento progredia e, quando o primeiro Grão-Mestre, Hugues de Payns, morreu, em 1136, sucedendo-lhe Robert de Craon, a Ordem do Templo já era coesa. Três anos mais tarde, Inocêncio III reviu alguns aspectos da regra e concedeu ao Templo privilégios exorbitantes.
Em 1144, Edessa foi retomada pelos muçulmanos, o que levou à organização da segunda cruzada, pregada por São Bernardo em 1147, enquanto a Ordem do Templo continuava a adaptar-se e desenvolver-se. A operação viria a saldar-se num malogro, mas, no terreno, os cruzados resistiam, ainda assim, bastante bem aos assaltos muçulmanos. Todavia, Saladino conseguia, pouco a pouco, unificar o mundo do Islão. Em 1174, apoderava-se de Damasco e, em 1183, de Alepo. Em seguida, após o desastre de Hattin, onde morreram inúmeros cristãos, Saladino conseguiu retomar Jerusalém, em 1187, reduzindo assim o reino latino à região de Tiro.
Uma terceira cruzada foi organizada em 1190, quando Robert de Sablé era Grão-Mestre da Ordem do Templo. Viria a permitir reconquistar Chipre e Acra, em 1191. Reunia Filipe Augusto, Frederico Barba Ruiva e Ricardo Coração de Leão. Este último bateu Saladino em Jafa e, depois, tendo sido vencido, tentou regressar a Inglaterra disfarçado de templário. Reconhecido, foi feito prisioneiro, uma história que é bem conhecida de todos quantos, na infância, vibraram com as aventuras de Robin dos Bosques. Infelizmente, ao contrário do que reza a lenda, Ricardo Coração de Leão não foi o rei nobre que é descrito com bonomia e esteve longe de se comportar sempre de forma cavalheiresca. Morreu em 1196, três anos depois de Saladino e de Robert de Sablé.
Em 1199, foi decidida a quarta cruzada que teve muitas dificuldades para se pôr a caminho. Quando os cruzados avistaram Constantinopla, em 1204, esqueceram o seu objectivo, conquistaram a cidade, pilharam aquele reino cristão e organizaram os Estados Latinos da Grécia.
No desenrolar desse século XIII, Wolfram von Eschenbach escrevia o seu Parzifal, onde os Templários apareciam como os guardiões do Graal.
Depois de se ter desviado do seu objetivo, a Palestina, para pilhar o reino bizantino, a cavalaria ocidental - nomeadamente a francesa- deve ter dito a si própria que não era necessário ir tão longe para enriquecer. Em 1208, foi pregada nova cruzada, mas esta consistia em ir sangrar o Sul de França, onde os Cátaros opunham a sua heresia a um clero local pouco convincente, porque demasiado corrompido. Os barões do Norte preferiram ir matar os Albigenses a esbarrarem nas cimitarras dos muçulmanos.
Mesmo assim, foi organizada uma quinta cruzada, entre 1217 e 1221. Terminou com a tomada de Damieta, no Egito, e sem mais êxitos. Foi esta a época escolhida pelos Mongóis para lançarem uma operação de invasão, criando uma nova frente, muito difícil de manter. Sem muita dificuldade, apoderaram-se do Irão. Todavia, Frederico II de Hohenstaufen, imperador germânico excomungado pelo papa, devolvera Jerusalém aos cristãos. O que as armas não haviam conseguido, obtivera Frederico II mediante negociações diplomáticas. Infelizmente, em 1244, a Cidade Santa viria a cair nas mãos dos Turcos.
O fim de um reino e de uma ordem
Durante todo este tempo, os Templários estiveram praticamente em todas as frentes, alimentando, graças à gestão genial de um patrimônio ocidental colossal, o esforço de guerra no Oriente. Mas o povo, os nobres, começavam indubitavelmente a cansar-se. As vitórias e as derrotas sucediam-se, tornavam-se banais. Já não existia o entusiasmo inicial. Em contrapartida, o Oriente influenciara o Ocidente. O contacto com outra civilização deixara marcas. Tinham aparecido produtos novos nos mercados da Europa; haviam-se desenvolvido técnicas e ciências graças a frutuosas relações estabelecidas entre sábios e letrados das duas civilizações. O Ocidente abria-se ao fascínio do Levante.
Um homem pensava ainda ter o dever de levar o ferro, em nome de Cristo, ao seio dos infiéis: São Luís. Em 1248, iniciou a catastrófica sétima cruzada. Em nome de um ideal, desdenhava das realidades, recusando-se a ouvir aqueles que, como os Templários, conheciam bem os problemas locais. Acumulou erros e sofreu uma grave derrota em Mansurá, enquanto os Mamelucos turcos consolidavam o seu poder no Egito. Em 1254, São Luís regressou a França. Quatro anos mais tarde, os Mongóis apoderaram-se de Bagdá, pondo fim ao califado abássida. Em 1260, foram repelidos para a Síria pelos Turcos e, no ano seguinte, os Gregos retomavam Constantinopla.
Em 1270, São Luís, que nunca percebera nada e nem sempre retirara as lições da sua primeira campanha, participava na oitava cruzada. Encontrou a morte em frente a Túnis, nesse mesmo ano.
Em 1282, foi concluída uma trégua de dez anos com o Egito, enquanto os Cavaleiros Teutónicos haviam decidido levar as suas espadas mais para norte e criar um reino na Prússia. Em 1285, Filipe III, cognominado o Audaz, que sucedera a São Luís no trono de França, extinguia-se, deixando o lugar a Filipe IV, o Belo. Seis anos mais tarde, com a derrota de São João de Acre, no decurso da qual foi morto o Grão-Mestre da Ordem do Templo, Guillaume de Beaujeu, a Terra Santa foi perdida e evacuada. Os Templários retiraram para Chipre.
Imagem: http://www.maconaria.net/regaleira_fotos/regaleira_14.jpg
O reino latino de Jerusalém
No entanto, os cruzados tinham fincado pé na Terra Santa e tencionavam ficar por lá. Foi fundado o reino latino de Jerusalém. Godofredo de Bouillon foi nomeado rei, mas recusou-se a cingir a coroa naquele lugar onde Cristo apenas usara uma coroa de espinhos. Godofredo, o rei cavaleiro do cisne, morreria pouco depois, em 1100.
Para além do reino de Jerusalém, que se estendia do Líbano ao Sinai, formaram-se progressivamente três outros Estados: o condado de Edessa, a norte, meio franco meio armênio, fundado por Balduíno de Bolonha, irmão de Godofredo de Bouillon; o principado de Antioquia, que ocupava, grosso modo, a Síria do Norte, e, finalmente, o condado de Antioquia.
Godofredo foi substituído por Balduíno I. A conquista fora realizada, mas agora se tratava de conservar e administrar os territórios obtidos. Era conveniente conservar as cidades e as praças fortes e velar pela segurança das estradas. O inimigo fora vencido, mas não eliminado. Fundaram-se ordens, a que foram atribuídas missões diversas. Houve, entre outras, a Ordem Hospitaleira de Jerusalém, em 1110, a Ordem dos Irmãos Hospitalários Teutónicos, em 1112, e a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo (futuros Templários), em 1118, quando Balduíno II era rei de Jerusalém.
O nome de Ordem do Templo só aparece em 1128, por ocasião do Concilio de Troyes, que codificou a sua organização. Em 1130, São Bernardo escrevia o seu De laude novae militiae ad Milites Templi, para assegurar a divulgação da Ordem. Dentro em pouco, as doações tinham-se tornado importantes, o recrutamento progredia e, quando o primeiro Grão-Mestre, Hugues de Payns, morreu, em 1136, sucedendo-lhe Robert de Craon, a Ordem do Templo já era coesa. Três anos mais tarde, Inocêncio III reviu alguns aspectos da regra e concedeu ao Templo privilégios exorbitantes.
Em 1144, Edessa foi retomada pelos muçulmanos, o que levou à organização da segunda cruzada, pregada por São Bernardo em 1147, enquanto a Ordem do Templo continuava a adaptar-se e desenvolver-se. A operação viria a saldar-se num malogro, mas, no terreno, os cruzados resistiam, ainda assim, bastante bem aos assaltos muçulmanos. Todavia, Saladino conseguia, pouco a pouco, unificar o mundo do Islão. Em 1174, apoderava-se de Damasco e, em 1183, de Alepo. Em seguida, após o desastre de Hattin, onde morreram inúmeros cristãos, Saladino conseguiu retomar Jerusalém, em 1187, reduzindo assim o reino latino à região de Tiro.
Uma terceira cruzada foi organizada em 1190, quando Robert de Sablé era Grão-Mestre da Ordem do Templo. Viria a permitir reconquistar Chipre e Acra, em 1191. Reunia Filipe Augusto, Frederico Barba Ruiva e Ricardo Coração de Leão. Este último bateu Saladino em Jafa e, depois, tendo sido vencido, tentou regressar a Inglaterra disfarçado de templário. Reconhecido, foi feito prisioneiro, uma história que é bem conhecida de todos quantos, na infância, vibraram com as aventuras de Robin dos Bosques. Infelizmente, ao contrário do que reza a lenda, Ricardo Coração de Leão não foi o rei nobre que é descrito com bonomia e esteve longe de se comportar sempre de forma cavalheiresca. Morreu em 1196, três anos depois de Saladino e de Robert de Sablé.
Em 1199, foi decidida a quarta cruzada que teve muitas dificuldades para se pôr a caminho. Quando os cruzados avistaram Constantinopla, em 1204, esqueceram o seu objectivo, conquistaram a cidade, pilharam aquele reino cristão e organizaram os Estados Latinos da Grécia.
No desenrolar desse século XIII, Wolfram von Eschenbach escrevia o seu Parzifal, onde os Templários apareciam como os guardiões do Graal.
Depois de se ter desviado do seu objetivo, a Palestina, para pilhar o reino bizantino, a cavalaria ocidental - nomeadamente a francesa- deve ter dito a si própria que não era necessário ir tão longe para enriquecer. Em 1208, foi pregada nova cruzada, mas esta consistia em ir sangrar o Sul de França, onde os Cátaros opunham a sua heresia a um clero local pouco convincente, porque demasiado corrompido. Os barões do Norte preferiram ir matar os Albigenses a esbarrarem nas cimitarras dos muçulmanos.
Mesmo assim, foi organizada uma quinta cruzada, entre 1217 e 1221. Terminou com a tomada de Damieta, no Egito, e sem mais êxitos. Foi esta a época escolhida pelos Mongóis para lançarem uma operação de invasão, criando uma nova frente, muito difícil de manter. Sem muita dificuldade, apoderaram-se do Irão. Todavia, Frederico II de Hohenstaufen, imperador germânico excomungado pelo papa, devolvera Jerusalém aos cristãos. O que as armas não haviam conseguido, obtivera Frederico II mediante negociações diplomáticas. Infelizmente, em 1244, a Cidade Santa viria a cair nas mãos dos Turcos.
O fim de um reino e de uma ordem
Durante todo este tempo, os Templários estiveram praticamente em todas as frentes, alimentando, graças à gestão genial de um patrimônio ocidental colossal, o esforço de guerra no Oriente. Mas o povo, os nobres, começavam indubitavelmente a cansar-se. As vitórias e as derrotas sucediam-se, tornavam-se banais. Já não existia o entusiasmo inicial. Em contrapartida, o Oriente influenciara o Ocidente. O contacto com outra civilização deixara marcas. Tinham aparecido produtos novos nos mercados da Europa; haviam-se desenvolvido técnicas e ciências graças a frutuosas relações estabelecidas entre sábios e letrados das duas civilizações. O Ocidente abria-se ao fascínio do Levante.
Um homem pensava ainda ter o dever de levar o ferro, em nome de Cristo, ao seio dos infiéis: São Luís. Em 1248, iniciou a catastrófica sétima cruzada. Em nome de um ideal, desdenhava das realidades, recusando-se a ouvir aqueles que, como os Templários, conheciam bem os problemas locais. Acumulou erros e sofreu uma grave derrota em Mansurá, enquanto os Mamelucos turcos consolidavam o seu poder no Egito. Em 1254, São Luís regressou a França. Quatro anos mais tarde, os Mongóis apoderaram-se de Bagdá, pondo fim ao califado abássida. Em 1260, foram repelidos para a Síria pelos Turcos e, no ano seguinte, os Gregos retomavam Constantinopla.
Em 1270, São Luís, que nunca percebera nada e nem sempre retirara as lições da sua primeira campanha, participava na oitava cruzada. Encontrou a morte em frente a Túnis, nesse mesmo ano.
Em 1282, foi concluída uma trégua de dez anos com o Egito, enquanto os Cavaleiros Teutónicos haviam decidido levar as suas espadas mais para norte e criar um reino na Prússia. Em 1285, Filipe III, cognominado o Audaz, que sucedera a São Luís no trono de França, extinguia-se, deixando o lugar a Filipe IV, o Belo. Seis anos mais tarde, com a derrota de São João de Acre, no decurso da qual foi morto o Grão-Mestre da Ordem do Templo, Guillaume de Beaujeu, a Terra Santa foi perdida e evacuada. Os Templários retiraram para Chipre.
Imagem: http://www.maconaria.net/regaleira_fotos/regaleira_14.jpg
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