terça-feira, 15 de setembro de 2009

Os Templários, esses grandes senhores de mantos brancos. Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos (4)


MICHEL LAMY

Primeira parte
O nascimento da ordem do templo
Breve história da ordem do templo

Esta obra não tem a ambição de retomar toda a história da Ordem do Templo sob o ângulo dos acontecimentos factuais mas sim de esclarecer as suas zonas mais obscuras. No entanto, para compreender o que se passou, há que ter presente no espírito que esta Ordem viveu dois séculos e evoluiu necessariamente. À data da sua morte, não podia ser idêntica ao que era à nascença. Mudou porque o seu ideal se viu confrontado com duras realidades. Teve de se adaptar, uma e outra vez, tomar em mão as questões temporais, perdendo sem dúvida, ao longo dos anos e das necessidades, uma parte da sua pureza original, tal como um adulto que por vezes tem dificuldade em encontrar em si a criança maravilhada, o minúsculo ser de olhos puros que, no entanto, foi.
A Ordem do Templo foi influenciada pelo seu tempo, mas este modificou-a, orientou-a, contribuindo para a História com as suas próprias correções.
Para nos orientarmos nesta evolução, pareceu-nos útil apresentar, de forma muito breve, neste primeiro capítulo, uma história breve dos Templários e, sobretudo, da sua época.

Nos caminhos de peregrinação
Recuemos no tempo até ao final do século X. Na nossa época, temos dificuldade em imaginar o que foram os terrores do ano 1000. A interpretação das escrituras convencera toda a cristandade de que o Apocalipse se produziria nesse ano fatídico. Revelação, no sentido etimológico do termo, mas também destruição, dor: regresso de Cristo à terra e julgamento dos homens, separação entre eles para mandar alguns para o paraíso, para junto dos santos, e os outros para os infernos, a fim de aí serem submetidos a tormentos eternos.

Os cristãos viveram com angústia esse ano 1000 e a sua aproximação. E nada se passou, pelo menos nada pior do que nos anos precedentes. A Igreja enganara-se na sua interpretação das Escrituras? Deus teria esquecido os seus filhos na terra? Não, claro que não. Era algo diferente. A catástrofe fora evitada. Deus fora tocado pelas preces dos homens. Perdoara. Sim, mas por quanto tempo? E se apenas se tratasse de um adiamento? Era preciso rezar, cada vez mais, rezar sempre.

No século anterior, os cristãos tinham-se feito à estrada para irem em peregrinação a locais onde estavam enterrados santos. Estes últimos havia, sem dúvida, intercedido em favor dos homens e Deus deveria ter-se deixado convencer. Um dos mais eficazes deveria ter sido Santiago que, de Compostela, atraía milhares de homens e mulheres que deixavam a sua família, o seu trabalho, abandonando tudo para irem rezar àquele local da Galiza onde a terra acaba.

Tinha-se passado perto da catástrofe final, as fomes de 990 e 997 eram prova disso. Tinha-se evitado o pior, o método já era conhecido: era preciso cada vez mais que os homens se fizessem à estrada, que os monges rezassem, que todos fizessem penitência. Não seria conveniente ir mais longe, realizar a suprema peregrinação, a única que merecia verdadeiramente a viagem de uma vida: ir aos lugares onde o filho de Deus sofrera para resgatar os pecados dos homens, Jerusalém?

Michelet escreveu: «Os próprios pés conheciam o caminho», e John Charpentier faz notar: Feliz aquele que regressava! Mais feliz aquele que morria perto do túmulo de Cristo e que podia dizer-lhe, segundo a audaciosa expressão de um contemporâneo [Pierre d'Auvergne]: Senhor, morrestes por mim e eu morri por vós.

Imagem: http://www.symbolom.com.br/wiki/images/Templarios.jpg

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