Maputo (Canalmoz) - Um jornalista português, António Cascais, foi violentamente agredido, no sábado, durante a acção policial para reprimir a manifestação contra o regime do presidente José Eduardo dos Santos, em Luanda, escreve Paulo Madeira num despacho de Luanda para o jornal português Correio da Manhã.
“Fui violentamente abordado e atacado por quatro pessoas que, de forma muito profissional, me agarraram pelo pescoço, deitaram-me ao chão e colocaram-me os pés em cima da cabeça”, contou Cascais ao CM, garantindo que estava apenas a observar à distância o protesto, uma vez que está em Angola como formador. “Penso que seriam membros de uma força de segurança à civil e julgaram que eu estava a registar imagens”, afirma o jornalista, que, após ser revistado, ficou sem um telemóvel, um iPhone, uma máquina fotográfica e uma pen drive. “Tinha comigo mais de 300 dólares, que não levaram, o que prova que não eram malfeitores. Tinham só como objectivo confiscar as máquinas fotográficas”, considera. “É lamentável. Estou a pensar apresentar queixa”, refere o jornalista, que sofreu ferimentos ligeiros no rosto, pescoço e num braço.
Mário Domingos, um dos membros do grupo que organizou os protestos, disse ao CM que, na noite de sábado, “várias pessoas foram torturadas” pelas autoridades. Além disso, o activista denuncia que a polícia usou um gás tóxico contra os manifestantes. “Dezoito deles desmaiaram”, recorda.
A polícia angolana diz que três agentes e três civis ficaram feridos, tendo 24 pessoas sido detidas por desacatos.
“O POVO ESTÁ SATURADO” - Mário Domingos, activista angolano
Falando ao Correio da Manhã o activista do Movimento Revolucionário, Mário Domingos disse: “Queremos melhores condições de vida. O povo angolano está saturado, já que José Eduardo dos Santos está há 32 anos no poder”.
Correio da Manhã (CM) - Qual é o estado de espírito dos jovens angolanos?
Mário Domingos (MD) - “Estamos cansados. O governo de Angola tem abusado do país. Antes de nós, também os nossos pais passaram por isto”.
CM - Como qualifica a actuação das forças policiais?
MD - Penso que as autoridades policiais recorrem excessivamente às armas e à violência.
Dezenas de detidos
Cerca de 50 pessoas terão sido detidas desde sábado em Luanda, no seguimento dos protestos antigovernamentais. A estimativa a que se refere o Correio da Manhã é do advogado Luís Fernandes Nascimento, do Bloco Democrático, que desconhece onde e como se encontram os manifestantes detidos, na sua maioria jovens, que ontem continuavam incontactáveis.
Segundo o jornalista Alexandre Neto, da Voz da América, os manifestantes detidos serão hoje alvo de julgamento sumário, desconhecendo-se, no entanto, quais as acusações que sobre eles recaem. Durante o dia de ontem foi visível um significativo reforço policial nas ruas da capital angolana, que não impediu uma concentração de jovens na ilha de Luanda para exigir a libertação dos manifestantes detidos no protesto da véspera. (Redacção / Correio da Manhã, com a devida vénia)
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