Em causa Imparidades de 655 M de Euros. Auditores devem discordar das contas.
Ao ler o Relatório semestral do 1S2011 do BCP, ontem publicado ao final do dia, deparei-me com inacreditável. Na página 230 ( em http://web3.cmvm.pt/sdi2004/emitentes/docs/PCS35391.pdf ) é indicado que o BCP detem divida soberana de paises europeus em bailout (Portugal, Grecia, Irlanda) no valor de 7,04 mil Milhões de euros (6,07 mil M de euros de divida soberana portuguesa, 768 M de euros de divida grega, e 208 M de euros de dívida irlandesa).
Mr Pontes 01 Setembro 2011 - 11:21 JORNAL DE NEGÓCIOS
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=504041
Mas é indicado que o justo valor (valor de mercado) dessa dívida soberana é de 6,27 mil M de euros, ou seja há imparidade de cerca de 770 M de euros, mas apenas está constituida reserva de -115 M d euros, ou seja não está registada a Imparidade dos restantes 655 M de euros (770-115). Isto é absolutamente inacreditável. Por comparação, o BPI tem as imparidades com divida soberana registadas, como se verifica na página 55 do seu relatorio do 1S2011 ontem tambem publicado ( http://web3.cmvm.pt/sdi2004/emitentes/docs/PCS35403.pdf ): é indicado que o BPI detem 5,98 mil M de dívida soberana, que tem um valor de mercado (justo valor) de 4,67 mil M de euros, e que é este último (o justo valor) que corresponde ao valor contabilistico (valor de balanço). Logo BPI tem imparidade registada de 1,3 mil M de euros, situação curiosa pois é um valor próximo do dobro do valor de imparidades que o BCP não registou de imparidades (655 M de euros).
O BCP explica "simplesmente" na página 231 que não regista imparidades no caso da Grecia porque "A deliberação do Conselho de Administração Executivo, quanto ao não reconhecimento de imparidade sobre a dívida soberana Grega, com referência a 30 de Junho
de 2011, teve por base os seguintes aspectos:
- A expectativa de que o reembolso das obrigações detidas pelo Grupo será efectuado em dinheiro na data de vencimento;".
Ora isto é mesmo inacreditável: o BCP acha que vai receber todo o dinheiro colocado em dívida soberana grega e a Administração do BCP não regista Imparidade, o BPI acha que não e registou a Imparidade. E note-se, a decisão contabilistica de não registar Imparidade no BCP foi tomada ao mais alto nível, pelo seu Conselho de Administração Executivo.
Ora esta situação contraria as normas internacionais, inclusive reforçadas recentemente pelo IASB, que insistiu com alguns bancos que tinham registado Imparidades insuficientes com divida em bailout de paises da UE, como o BNP Paribas que registou Imparidades de cerca de 550 M de euros no 1S2011 com divida grega. Verifiquem que o IASB insiste pelo registo de Imparidades com divida soberana em paises em bailout ( ler em http://www.businessweek.com/news/2011-08-30/european-banks-need-bigger-greek-bond-writedowns-iasb-says.html ). A IASB que define as normas internacionais de contabilidade, que o BCP deve seguir, diz "European Banks Need Bigger Greek-Bond Writedowns, IASB Says:
Aug. 30 2011 (Bloomberg) -- Some European banks haven’t sufficiently written down the value of Greek government bonds and other “distressed sovereign debt” they own, the organization that sets accounting rules in the region said.".
E se o IASB chamou a atenção para os bancos não estavam a registar suficientes Imparidades (registo de write down), que dirá dos que siplesmente não as registam, como o BCP com a divida soberana grega?!
Ora, isto é um escãndalo, e afunda o BCP em descrédito, e incumprimento das normas internacionais.
Assim, as contas do BCP não poderão merecer a aprovação dos auditores nomeados, e ou o BCP rectifica a situação até 31-12-2011, ou os auditores têm que discordar das contas sem as Imparidades exigidas pelas normas internacionais de contabilidade.
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