Noutro dia veio uma delegação de alto nível chefiada pelo MPLA. Anjos, estava presente. Então o MPLA disse a Anjos:
- Onde tens andado? Porque não proteges os bens do meu vassalo Lubango?!
Anjos respondeu:
- Estou sempre vigilante, está tudo sob controlo, não notei nada de anormal, mas continuarei na senda de demolir tudo o que seja do Lubango. Esse tem a mania que é intocável.
Disse o MPLA a Anjos:
- O vassalo Lubango merece a minha admiração. É a única pessoa honesta que nos resta no reino. Tomara que houvesse mais como ele. Confesso que os corruptos ganharam o campeonato da corrupção e das demolições… e apuraram-se para o campeonato mundial. Facilmente obterão a vitória final.
Anjos respondeu ao MPLA:
- A nossa vitória é incerta. O terror da corrupção terminará em assassinatos, ajustes de contas e brutais, incontrolados tumultos até à vitória final da grande locomotiva do outro comboio angolano que não gira, que não gira. Somos vulgares aprendizes das más políticas, e como tal não temos noção como isto acabará.
O MPLA disse a Anjos:
- A nossa secreta informou-me que você está envolvido no roubo de terras para pura negociata. Tratamos disso depois. Peço-lhe que não atente contra a vida do Lubango.
Anjos baldou-se. Quando viu o luxuoso avião particular do MPLA desaparecer no céu ainda livre, não se sabe por quanto tempo, comandou pessoalmente alguns dos seus matadores de confiança, e sovaram o Lubango, mas de maneira que não o matassem.
O corpo do Lubango ficou macadamizado, camartelado. Lubango apanhou uma folha de bananeira, a única coisa que lhe restava, para limpar as feridas. Tudo à sua volta parecia uma chuva de cinzas, mil vezes pior que a tão badalada batalha dos milhares de desconhecidos tombados do Kuito Kwanavale. Sentou-se nos restos dos tijolos e na madeira queimada. A sua esposa ataca-o:
- Ainda gostas do MPLA?! Depois do que o Anjos dele te fez?! És muito parvo!
- Vocês, mulheres não entendem nada destas coisas e o kota Mutindi confirma-o. Apesar do Anjos me espoliar, me demolir e privatizar tudo o que tinha, devo obediência e lealdade ao MPLA.
- Eu é que trabalho na terra!.. o teu fanatismo é escravidão, não é lealdade! És um grande atraso de vida! Onde estão os teus amigos do MPLA em quem tanto confiavas?
- Hão-de vir... Hão-de vir!
E chegaram alguns amigos do MPLA que confortaram o Lubango. Um disse-lhe que a sua conta bancária estava em baixo, (aproveitaram-se da situação e surripiaram-lha). Os outros, tristemente confessaram que também lhes espoliaram e demoliram tudo o que tinham. Que o mal era geral... um reino de demolições. Trabalhar de verdade não é possível, porque espoliar continua fácil. Ficaram uns dias a acalentar o Lubango sentados nas sobras de algumas cadeiras. Depois, cansados de aturarem o Lubango bazaram. Um deles na despedida reafirmou:
- O reino da fome está combalido.
Apareceram alguns grupos de espoliados, esfomeados que aproveitaram as sobras. O local ficou igual a um deserto, a outro Haiti. Lubango bocejou, apetecia-lhe dormir. Falou para o vento cúmplice que arrastava o pó de Angola:
- Tantos e tantos anos de trabalho em vão. Não dá para trabalhar nesta Angola, porque depois vem um Anjos e fica com ela, privatiza-a. Finge que a trabalha à espera que surja um especulador imobiliário qualquer. Já ninguém acredita nisto e a terra abandona-se. Fica para acampamento de deslocados que na verdade são refugiados desta nova guerra, e assim sucessivamente. As trevas dominam este reino. O MPLA está sempre lá em cima sentado no seu trono. Raramente desce, sobe, ou sai. Adora rodear-se de pessoas que mais parecem lâmpadas fundidas, que dão pouca luz, ou acendem de vez em quando. A minha terra, a minha Luanda, a minha Angola, contaminam-se, nunca mais nelas nada crescerá. Resta-me olhar para as nuvens e para os restos das árvores que parecem fantasmas ao luar. Tantos anos em vão que trabalhei, que acreditei na merda da independência. Agora tudo está igual às noites sempre escuras. Juro que nunca mais perderei anos, meses e dias nestas coisas.
Imagem: morrodamaianga.blogspot.com/
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