sábado, 6 de março de 2010

Voltaire. E que a inquisição é o auge da piedade e tolerância humanas.


Ele não queria dar aos padres o prazer de vê-lo queimando ou sofrendo. Sobre cada questão que ele se retratava, ele escreveu:

http://www.mphp.org/racionalismo/voltaire---robert-g.-ingersoll.html

"Eles dizem que eu devo me retratar. Espontaneamente. Eu irei declarar que Pascal está sempre certo. Que se São Marcos e São Lucas se contradizem entre si, esta é apenas mais uma prova da verdade da religião para aqueles que entendem dessas coisas; e que uma outra bela prova da religião é que ela é ininteligível. Eu irei declarar que todos os padres são gentis e descompromissados; que os jesuítas são pessoas honestas; que os monges nem são orgulhosos nem dados à intriga; e que o cheiro deles é agradável. E que a inquisição é o auge da piedade e tolerância humanas. Enfim, direi que tudo o que eles desejam de mim é, que eles me vejam repousar, porque eles não iriam perseguir um homem que "não tenha feito nada de mal a alguém".

Ele deu cada dia de sua vida maravilhosa para socorrer os oprimidos, proteger os indefesos, reverter os infames decretos, resgatar os inocentes, reformar as leis da França, eliminar a tortura, abrandar os corações dos padres, iluminar os juizes, instruir os reis, civilizar o povo, e banir dos corações dos homens o desejo e o amor pela guerra.

Vocês podem pensar que eu já disse demais; que eu coloquei este homem muito no alto. Vejamos o que Goethe, o grande alemão, disse sobre este homem:

"Se você deseja profundidade, imaginação, gênio, gosto, razão, sensibilidade, filosofia, originalidade, natureza, retidão, imaginação, flexibilidade, precisão, arte, abundância, variedade, fertilidade, calor, magia, charme, graça, força, e uma visão com a agudeza de uma águia, vasto conhecimento, instrução, excelência, urbanidade, suavidade, delicadeza, correção, pureza, clareza, eloqüência, harmonia, brilho, rapidez, alegria, sublimidade, universalidade, perfeição de fato, preste atenção em Voltaire".

Ate mesmo Carlyle, aquele terrier escocês, com seu rosnado de urso marrom, que atacava humilhando, como sempre supus, porque ele odiava os rivais, foi forçado a admitir que Voltaire desferiu o golpe de morte na moderna superstição.

É o dever de cada homem destruir as superstições de sua época, e na verdade há milhares de homens e mulheres, pais e mães que repudiam de todo o coração crenças na superstição, e mesmo assim permitem que essas mentiras sejam ensinadas aos seus filhos. Eles permitem que a imaginação dos filhos seja envenenada pelo dogma da tortura eterna. Eles permitem que pessoas arrogantes e ignorantes, professores mansos e tolos, semeiem as sementes da barbárie nas mentes de seus filhos. Sementes que encherão seus corações de medo e dor. Nada é mais importante para um ser humano do que viver livre e sem medo.

É muito melhor ser um homem mortal e livre do que ser um escravo eterno.

Pais e mães devem fazer tudo o que podem para manter seus filhos livres. Eles devem ensiná-los a duvidar, investigar, questionar, e todo pai e mãe deve saber que em cada berço de cada criança rasteja a serpente da superstição.

A ORDEM DA NATUREZA
Naquela época, os crentes em Deus fingiam que o plano ou a ordem na natureza não era cruel; que os pequenos eram sacrificados em beneficio dos maiores; que enquanto a vida vivia da vida, enquanto animais viviam de animais, e enquanto o homem era o soberano entre todos, ainda assim o poderoso vivia do fraco. Sendo assim, uma vida inferior era sacrificada para que a superior sobrevivesse. Este argumento satisfazia a muitos. Entretanto havia milhares que não entendiam por que os fracos deveriam ser sacrificados, ou por que a felicidade teria de nascer da dor. Mas desde o advento do microscópio, desde que o homem teve a oportunidade de observar os seres muito pequenos, assim como os infinitamente grandes, ele percebeu que estavam enganados quando pensavam que só os grande viviam às custas dos menores.

Agora se sabe que as vidas de animais visíveis são passiveis de ser, e em muitos casos são, destruídas por seres inferiores; que o próprio homem é destruído por micróbios; os bacilos, os minúsculos seres; nós descobrimos que, para salvar os pequenos germes causadores da febre amarela, milhões de seres vivos morrem; e que países inteiros foram dizimados por essas minúsculas bestas causadoras da cólera. E nós sabemos que existem animais, ou chamem como quiserem, que vivem do tecido cardíaco humano, e outros que preferem os pulmões, e outros de paladar tão requintado que dão preferência ao nervo óptico, e quando já destruíram a visão num olho, têm habilidade suficiente de perfurar a cartilagem nasal e atacar o outro olho. E então nós encontramos o outro lado da questão. À primeira vista, o maior parecia viver às custas do menor, mas numa analise mais cuidadosa, percebemos que os menores vivem às custas dos maiores.

Sem comentários: