terça-feira, 9 de março de 2010

A Ocidente do Paraíso (17). A que seria a maior fábrica de cervejas em Vialonga, a Sociedade Central de Cervejas.


Mudei-me para uma empresa que pagava melhor. Tinham uma obra gigantesca e andavam à caça de trabalhadores especializados. Enviaram-me para a que seria a maior fábrica de cervejas em Vialonga, a Sociedade Central de Cervejas. Havia um prazo para a sua conclusão, e à entrada afixado num letreiro estavam os dias que restavam. Trabalhava-se de dia e de noite, sábados, domingos e feriados.

Responsabilizaram-me pela instalação da iluminação da sala de desenho, e também pela instalação dos telefones internos dos gabinetes administrativos. Quando não levava comida, e como alguém teve a ideia de improvisar um barraco grande que servia peixe frito quase intragável em bocados de papel dos sacos de cimento, o vinho não faltava, e lá almoçava e me safava. Quando a obra acabou o seu proprietário recebeu a medalha de comendador.

Um colega disse-me que estavam a construir vários prédios próximo de Cabo Ruivo e pagavam bem. Aceitei a proposta e com um aprendiz instalava tubos plásticos nos sulcos abertos das paredes. Verifiquei que o meu trabalho era mais lento que o dos meus colegas, e o encarregado criticou-me. Fui observar como eles trabalhavam, especialmente o tal que diziam ser o mais rápido de todos. Alarmado, vi que não era trabalho bem feito, porque os tubos eram colocados de qualquer maneira, com curvas muito apertadas onde depois os fios passariam com dificuldade. E as uniões colocadas nos tubos não respeitavam as regras.

Ou eram muito largas, ou restos de tubo mais largo com folgas que permitiriam mais tarde a infiltração de humidade ou água, e dando origem a incêndios. O que era necessário era acabar o trabalho de qualquer maneira, e desleixei-me um pouco. Lembrei-me que os mestres que me ensinaram a profissão eram muito exigentes na perfeição, e aqui isso não tinha qualquer valor.

O patrão disse-me que era urgente estender um cabo numa residência no Campo Pequeno e que seria trabalho para pouco tempo. Deu-me a morada e no outro dia de manhã lá estava para efectuar o serviço. O cliente explicou-me o trabalho que deveria ser feito, mas não se tratava só de estender um cabo, era trabalho por toda a casa, e incluía uma revisão à instalação. Ia tomando nota dos materiais necessários, e o cliente alterava constantemente as suas preocupações, não sabia o que queria, e o tempo ia passando.

Aparece o patrão. Depois de um bom dia, pergunta-me se o trabalho já estava terminado. Queria-lhe responder, mas não consegui. Levei uma chuva de palavrões, eu queria explicar mas ele não me deixava, e o tom de voz tornou-se insuportável, respondi-lhe simplesmente:
- Olhe vá à merda!!!

Peguei nas minhas ferramentas, e desalentado fui-me sentar num dos bancos existentes no Campo Pequeno. Acendi um cigarro, e fiquei longo tempo a meditar como seria a minha vida a seguir, pois que o serviço militar aproximava-se, e criminosamente já ninguém empregava trabalhadores nestas condições. A minha condição de desempregado avistava-se.

Imagem: Aqui enchiam-se latas com a cerveja Sagres Zer0%
http://www.cervejasdomundo.com/Central_de_Cervejas.htm

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