«O Bairro dos Olivais Sul começou a ser construído em 1959. De promoção municipal, abrange uma área de 186 hectares destinada a 38250 habitantes, na maioria em regime de habitação social, distribuídos por 7996 fogos. Tal como na Alta de Lisboa, quis heterogeneizar-se o bairro com edifícios para realojamento e outros de venda livre. Com base nos ideais da Carta de Atenas, com ligeiras alterações ao mais purista e antecessor Olivais Norte, procurou fazer-se um bairro onde os conjuntos edificados estivessem ligados pela estrutura verde, com ruas de acesso restrito para cada bloco ligadas a um esquema viário principal. A qualidade de vida dos moradores foi uma das principais preocupações dos urbanistas do projecto, os arquitectos Rafael Botelho e Carlos Duarte. No entanto, é costume dizer-se que o projecto falhou.» In http://www.viveraltadelisboa.org/?p=251
Na nossa zona, próxima da rua Cidade de Vila Cabral surge o primeiro café. Inicialmente de pequenas dimensões, mas devido à grande afluência de clientes depressa cresce com uma esplanada considerável. O seu interior também aumenta e nasce um anexo com jogos de bilhar e matraquilhos. O café não tinha nome, não tinha letreiro que o identificasse, e nós demos-lhe um, o do nome do seu proprietário, Café do Frederico. A sua fama era tal nas redondezas que roubava clientes de outros cafés. Entretanto um outro aparece nas proximidades, aí a uns quatrocentos metros de distância do Café do Frederico. Era considerado de luxo porque uma pessoa mal vestida não podia nele entrar. Tinha anúncio luminoso muito bonito: CAFÉ TRÊS PORTAS, porque tinha três portas de entrada. Primava pelo silêncio absoluto, um local ideal para estudar, meditar e trocar ideias… sem ninguém que incomodasse.
Um investimento vultuoso. Muitos de nós saímos do Café do Frederico por vingança, porque como só existia o café dele, ele tratava-nos como bem entendia, e até com desprezo em algumas situações. Assim convencemo-nos que ele iria à falência. O Três Portas em pouco tempo começou a lotar, e o Frederico a vazar. As semanas iam passando, e de repente todos começaram a voltar para o Frederico. O Três Portas ficou às moscas, e acabou por falir por falta de clientes. Porquê? Esta era a questão que todos comentavam. Mas creio que era fácil de explicar: no Frederico estava-se à vontade, num ambiente sem cerimónias, com simplicidade, com rusticidade.
Além do Frederico, trabalhavam também no café, a sua esposa, a sua filha, e à noite o Antunes, que depois do seu serviço diário fazia biscate como empregado de café. Tinha cerca de cinquenta anos, era muito simpático, muito educado e brincalhão. Quando algum de nós não tinha dinheiro para pagar a despesa, não havia problemas, podia-se pagar no outro dia. Claro que existia no nosso círculo alguém mais ousado que entendia de vez em quando aborrecê-lo. Um desses, o Luís, de altura desmedida, chegava, sentava-se, o Antunes aproximava-se e perguntava-lhe o que queria, e o Luís:
- O jornal de hoje e o de ontem, um palito para os dentes, um copo de água e um pano para limpar a mesa!
- E vossa excelência não deseja mais nada?!
- Sim, acenda-me o cigarro por favor!
- Está satisfeito? Deseja mais alguma coisa?
- Sim, que horas são?
- É tudo?!
- Não, avise-me quando começar a chover.
Imagem: «Rua Cidade Vila Cabral, Olivais Sul, Deixem-me dizer-vos, que o bairro dos Olivais marcou a minha vida até aos dias de hoje, sempre vivi no "Meu bairro" fantástico, com muita área verde sem excessos de construção, os prédios muito bem “arrumados”, com bastante área pedonal, tudo muito bem estruturado e pensado para que as pessoas pudessem viver num ambiente tranquilo espaçoso e verde. Provavelmente tendo em vista o futuro. Junto anexo (na minha opinião) o melhor cartão de visita do "Meu Bairro".»
Adicionada por Nuno Melro Facebook
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