Maputo
(Canalmoz) – Ao recusar-se a fazer parte de qualquer processo que visasse a
organização dos próximos pleitos eleitorais, a Renamo não poderia ser mais
inteligente e coerente! O vilipêndio a que a Renamo foi vítima após ter tomado
tão lúcida decisão é, digamos, uma espécie de manifestação inequívoca de que o
embuste eleitoral que a Frelimo desenhou foi quase que perfeito e pegou os tais
vilipendiadores em estado avançado de cegueira política. A Renamo descobriu,
por força da experiência, que com a Frelimo tudo é às “trafulhices”. Ora
vejamos: A nível das Comissões Provinciais de Eleições, a Frelimo, tal como
noticiámos neste jornal, abocanhou tudo e montou seus lacaios todos disfarçados
em sociedade civil, e que por razão da norma acabaram eleitos presidentes
destas mesmas Comissões Provinciais.
Está
garantido para a Frelimo a manipulação dos resultados nas províncias, porque
estarão os ilustríssimos Presidentes das Comissões Provinciais travestidos de
sociedade civil de punhais afiados e desembainhados para assassinar a vontade
popular. Se a Frelimo não tem intenções de viciar resultados como é que se
explica que tendo o direito de indicar seus representantes por via legal das Assembleias,
queira ainda montar outros representantes travestidos de sociedade civil? Só a
má-fé é que pode conduzir a tal feito! Um roteiro que o mais nojento esgoto da
trafulhice pode confeccionar!
A
nível Central, a jogatana é a mesma! Como a presidência da Comissão Nacional de
Eleições deve estar, por força da Lei, nas mãos de um membro da sociedade
civil, a Frelimo tratou de colocar suas Associações e Organizações em prontidão
Combativa rigorosamente preparada para a burla. Entidades como a Organização Nacional
de Professores foram mobilizadas para trazer seus “Leopoldos da Costa” e
quejando! Todos de militância comprovada e travestidos de sociedade civil.
Mas,
o mais interessante é como a Frelimo montou a sua máquina que será responsável
por levar os “Leopoldos” e companhia à presidência da CNE. Segundo informações
que colhi junto do presidente da Comissão ad-hoc mandatada para fazer a
selecção dos membros da sociedade civil, o deputado (da Frelimo) Moreira Vasco,
a comissão vai fazer triagem de todos os candidatos e escolher entre 12 e 16
candidatos. Destes 12 ou 16 é que sairão os três membros da CNE provenientes da
sociedade civil e que irão juntar-se aos cinco da Frelimo, um do Movimento
Democrático de Moçambique e dois magistrados, ora já indicados para a
CNE.
Mas
antes disso, no dia 25 de Abril a comissão ad-hoc irá apresentar à presidente
da Assembleia da República a lista dos 12 ou 16. A presidente, por sua vez, irá
reunir a Comissão Permanente para se marcar uma data para em sessão plenária
eleger-se dos 12 ou 16, os três futuros vogais da CNE, sendo que um deles será
o presidente do órgão. Até aqui tudo bem!
Mas
o problema está no método de eleição dessas três individualidades. Todos serão
eleitos em sessão plenária por via do voto secreto. A Frelimo tem 191
deputados, o MDM tem oito, e a Renamo, que tem 51 deputados, sabiamente,
desistiu do processo. Ou seja, sob todas as hipóteses, só membros da sociedade
civil que a Frelimo quiser é que farão parte da Comissão Nacional de Eleições.
Em outras palavras, os “Leopoldos da Costa” e companhia é que vão assaltar o
órgão. O MDM só tem oito deputados e com voto vencido sob todas as hipóteses. A
Frelimo, mais uma vez, jogou à mestre e depois de tomar as Comissões
Provinciais vai tomar a Comissão Nacional. É caso para dizer que a Renamo
conhece e bem o partido Frelimo! Mas mais do que isso, é preciso exigir que se
mude esse método que claramente favorece o partido Frelimo. Esse método não
pode ser aplicado sob o risco de estarmos a construir, com as nossas próprias
mãos, e pedra a pedra, o monumento em que irá repousar a fraude eleitoral. Se
quisermos credibilizar processos tão sérios como as eleições, é da mais
elementar responsabilidade que se mudem os critérios!
Nenhuma democracia pode sobreviver com essas
jogadas que roçam ao insulto ao nosso intelecto. A Renamo tem razões de sobra
para não fazer parte dessa fraude democrática. A decisão da Renamo de desistir
do processo, exigindo transparência, deve ser entendida como um gesto nobre ao
serviço do patriotismo, da responsabilidade política e, em última análise, da
própria democracia. Fazer parte dessa jogada que a Frelimo montou é ser
cúmplice da marcha contra a democracia. É entregar o punhal para que a
democracia seja esfolada no altar da sacanice. E quem se mete nestas coisas não
deve depois vir reclamar que a Frelimo cometeu fraude. O discurso mais
recomendável nessa altura, e se ainda provavelmente houver fôlego, seria:
ajudamos a Frelimo a enganar-nos! Tal como diria o Prof. Kwesi Kwa Prah, é muito
perigoso reduzir a democracia ao acto de colocar o voto numa urna. A democracia
é um estado de coisas e inclui a forma como falamos, como olhamos para as
pessoas à nossa volta e, sobretudo, como organizamos os processos! Quer
parecer-me que a Renamo dever ter sido o primeiro partido a perceber isso e
nada mais acertado que afastar-se de processos mafiosos para a saúde do bom
senso! (Matias Guente)
Imagem: olhares.uol.com.br
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