segunda-feira, 1 de abril de 2013

As aventuras da África do Sul estão a custar demasiado caro. Canal de Opinião. Por: Noé Nhantumbo



13 soldados mortos na República Centro Africana defendendo um PR golpista…
Resultados evidentes de hegemonias inconsistentes….  

Maputo (Canalmoz) - A diplomacia da potência regional está a muitos furos abaixo do que seria de desejar. Incursões militares em países abraços com conflitos e guerras civis têm demostrado que os poderosos nem sempre conseguem sair-se bem de suas aventuras.
Assim os EUA estão vendo-se e desejando-se no Iraque e o Afeganistão as contas da África do Sul, procurando ser potência continental e exibindo seu músculo em tudo o que é conflito tem consequências e neste caso está evidente que sua intervenção da RCA ainda vai dar muito que falar.
Angola e África do Sul, saindo da SADC, deslocaram forças militares em apoio ao PPR Bozize da RCA. Um ex-golpista recebeu efectivamente apoio de governos que se dizem contrários a tomada do poder pela força. Agora desalojado do poder e fugitivo na RDC Bozize solicitou e recebeu apoio sul-africano numa embaralhado negocial que terá fugido do controlo parlamentar na RSA.
Quem se recordar no Congo Brazaville houve tempos que um golpista que agora governa aquele país recebeu apoio pleno de governos como o de Angola e de outros regimes amigos numa perspectiva de apoio a um partido “irmão”. Era e ainda é aquela coisa de solidariedade entre pessoas que conviveram ou foram recebidas como refugiados nos tempos das guerras de libertação.
Na República Centro Africana a equação poder ser outra. Minerais de alto valor como os diamantes podem estar em causa. Demonstração de musculatura militar e estatuto de potência continental podem ter pesado na hora de tomar a decisão de intervir. 
Segundo dizem opositores de Zuma na África do Sul, os sul-africanos ignoraram completamente a organização regional congénere da SADC e actuaram por sua conta e risco. 
Diplomaticamente as contas saíram furadas e a chegada de cadáveres de militares sul-africanos a Joanesburgo vai significar que afinal aquela potência continental não conseguiu resistir a um grupo rebelde como o Sekela. Da mesma maneira que se tem visto que Joseph Kabila e seu governo não resistiriam a uma confrontação militar contra o M23 na RDC e a outros agrupamentos rebeldes. Sem a força de interposição da ONU, sem os apoios recebidos de Angola, da África do Sul e outros países a geografia do centro de África seria outra. 
Sem uma assunção plena de que a democracia não coaduna com a fraude e manipulação eleitoral teremos democracias efémeras em África.
Não se pode estabelecer relações com bases dúbias e com tratamento dissimilar de dossiers. África não pode continuar a reboque das chancelarias internacionais. Uganda e Ruanda, Quénia, Angola e África do Sul se tem engajado em conflitos militares fora de suas fronteiras por iniciativa própria e a mando de outros. Há apoios secretos, financeiros e militares que chegam a Kampala e a Kigali em nome de agendas que muito pouca gente sabe.
Há uma espécie de concertação de natureza duvidosa e de valor desconhecido entre certas figuras do panorama político africano. Uma análise mesmo que superficial demonstra que o objectivo principal perseguido por estas figuras é a autoproteção entanto que lideres de topo de regimes muitas vezes embrulhados em questões de legitimidade. Ascender ao poder e exercê-lo de maneira transparente, consensual, credível não tem sido colocado na agenda africana e os seus reflexos fazem-se sentir em todo o continente.
Porque muita riqueza mineral está em jogo e existem fortes interesses geoestratégicos África sofre de pressão multipolar.
A debilidade institucional e a dimensão do que está em jogo coloca desafios enormes que a máquina governamental africana no seu todo.
Quando se esperava que as independências seriam a salvação isso não aconteceu e os países nascidos têm sofrido de uma enorme dificuldade em normalizar-se e enraizarem modelos ou sistemas políticos estabilizantes.
Por mais que surjam “atiradores furtivos isolados”, isto é, líderes individuais de determinados países pondo em prática políticas de intervenção e de uma suposta pacificação isso redunda em fracasso quando não corresponde as expectativas dos locais. De pacificadores passam a ser vistos como agressores e apoiantes de uma das partes do conflito civil e interno.
A recente queda do governo de Bozize na RCA e a morte de soldados sul-africanos que estavam em missão de protecção e de treinamento revela como a evolução de um caso se pode tornar em assunto grave.
Na verdade estamos perante um “déjà-vu”. Uma coligação na República Democrática do Congo socorreu o regime de Kabila a coberto de uma aliança de ex-movimentos de libertação em posição de poder em seus países. Embora se tenha conseguido alguma estabilização e sobretudo a manutenção de Kabila no poder e uma RDC intacta física e geograficamente, aquele país só adiou novos conflitos como se pode verificar nos dias de hoje.
Que fará a União Africana depois de mais um descalabro político na RCA? Haverá mais uma cimeira destinada a coordenar esforços e decidir-se pela colocação de uma força africana de paz? Quem financiará tal força? Será a França antiga potência colonizadora? Serão os americanos que irão sacar mais dólares para a logística de uma operação dispensável?
Afinal qual é a génese da violência política em África? Quem promove e quem recruta os combatentes rebeldes? Será unicamente a intolerância política ou há algo mais que os políticos se recusam a falar ou a tratar em público?
Uma máscara de diplomacia concebida como parte de uma política externa tem sacudido África. Como no passado os alvos são os recursos naturais nomeadamente os minerais. Com as exigências de mercados ávidos de produtos agrícolas chamados de orgânicos e orientados para uma clientela com poder aquisitivo também a terra começa a ser disputada em arranjos similares a uma colonização por licença.  Agora não há bandeira colonial mas há licenciamento de extensas áreas para utilização agrícola, florestal e animal.
Em nome da economia ou para suster os falhanços económicos endógenos os governos africanos aceitam partilhar milhares de hectares com grupos multinacionais. Empurra-se os camponeses e residente locais para a periferia como forma de garantir a implementação dos projectos. Mas na verdade também se está “semeando tempestades”. Produzir “sem terra” em África é estrumar conflitos de natureza desconhecida. Quando os pobres se virem sem soluções viáveis para viver vão tomar de assalto os seus vizinhos ricos e como estes são as multinacionais haverá violência com intervenção da polícia e do exército. Uma hipótese nos dias de hoje mas de concretização bem possível amanhã.
É de antever que alguma da teimosia governamental em Moçambique e no Zimbabwe, no sentido de encetarem diálogos consequentes com a oposição seja fruto de uma crença de que a poderosa África do Sul irá em socorro do regime de Maputo e de Harare. Mas como se viu na República Centro Africana as forças armadas sul-africanas dificilmente resistirão a um conflito quente… (Noé Nhantumbo) 

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