13 soldados mortos na República Centro Africana defendendo
um PR golpista…
Resultados evidentes de hegemonias inconsistentes….
Maputo
(Canalmoz) - A diplomacia da potência regional está a muitos furos abaixo do
que seria de desejar. Incursões militares em países abraços com conflitos e
guerras civis têm demostrado que os poderosos nem sempre conseguem sair-se bem
de suas aventuras.
Assim
os EUA estão vendo-se e desejando-se no Iraque e o Afeganistão as contas da
África do Sul, procurando ser potência continental e exibindo seu músculo em
tudo o que é conflito tem consequências e neste caso está evidente que sua
intervenção da RCA ainda vai dar muito que falar.
Angola
e África do Sul, saindo da SADC, deslocaram forças militares em apoio ao PPR
Bozize da RCA. Um ex-golpista recebeu efectivamente apoio de governos que se
dizem contrários a tomada do poder pela força. Agora desalojado do poder e
fugitivo na RDC Bozize solicitou e recebeu apoio sul-africano numa embaralhado
negocial que terá fugido do controlo parlamentar na RSA.
Quem
se recordar no Congo Brazaville houve tempos que um golpista que agora governa
aquele país recebeu apoio pleno de governos como o de Angola e de outros
regimes amigos numa perspectiva de apoio a um partido “irmão”. Era e ainda é
aquela coisa de solidariedade entre pessoas que conviveram ou foram recebidas
como refugiados nos tempos das guerras de libertação.
Na
República Centro Africana a equação poder ser outra. Minerais de alto valor
como os diamantes podem estar em causa. Demonstração de musculatura militar e
estatuto de potência continental podem ter pesado na hora de tomar a decisão de
intervir.
Segundo
dizem opositores de Zuma na África do Sul, os sul-africanos ignoraram
completamente a organização regional congénere da SADC e actuaram por sua conta
e risco.
Diplomaticamente
as contas saíram furadas e a chegada de cadáveres de militares sul-africanos a
Joanesburgo vai significar que afinal aquela potência continental não conseguiu
resistir a um grupo rebelde como o Sekela. Da mesma maneira que se tem visto
que Joseph Kabila e seu governo não resistiriam a uma confrontação militar
contra o M23 na RDC e a outros agrupamentos rebeldes. Sem a força de
interposição da ONU, sem os apoios recebidos de Angola, da África do Sul e
outros países a geografia do centro de África seria outra.
Sem
uma assunção plena de que a democracia não coaduna com a fraude e manipulação
eleitoral teremos democracias efémeras em África.
Não
se pode estabelecer relações com bases dúbias e com tratamento dissimilar de
dossiers. África não pode continuar a reboque das chancelarias internacionais.
Uganda e Ruanda, Quénia, Angola e África do Sul se tem engajado em conflitos
militares fora de suas fronteiras por iniciativa própria e a mando de outros.
Há apoios secretos, financeiros e militares que chegam a Kampala e a Kigali em
nome de agendas que muito pouca gente sabe.
Há
uma espécie de concertação de natureza duvidosa e de valor desconhecido entre
certas figuras do panorama político africano. Uma análise mesmo que superficial
demonstra que o objectivo principal perseguido por estas figuras é a
autoproteção entanto que lideres de topo de regimes muitas vezes embrulhados em
questões de legitimidade. Ascender ao poder e exercê-lo de maneira
transparente, consensual, credível não tem sido colocado na agenda africana e
os seus reflexos fazem-se sentir em todo o continente.
Porque
muita riqueza mineral está em jogo e existem fortes interesses geoestratégicos
África sofre de pressão multipolar.
A
debilidade institucional e a dimensão do que está em jogo coloca desafios
enormes que a máquina governamental africana no seu todo.
Quando
se esperava que as independências seriam a salvação isso não aconteceu e os
países nascidos têm sofrido de uma enorme dificuldade em normalizar-se e
enraizarem modelos ou sistemas políticos estabilizantes.
Por
mais que surjam “atiradores furtivos isolados”, isto é, líderes individuais de
determinados países pondo em prática políticas de intervenção e de uma suposta
pacificação isso redunda em fracasso quando não corresponde as expectativas dos
locais. De pacificadores passam a ser vistos como agressores e apoiantes de uma
das partes do conflito civil e interno.
A
recente queda do governo de Bozize na RCA e a morte de soldados sul-africanos
que estavam em missão de protecção e de treinamento revela como a evolução de
um caso se pode tornar em assunto grave.
Na
verdade estamos perante um “déjà-vu”. Uma coligação na República Democrática do
Congo socorreu o regime de Kabila a coberto de uma aliança de ex-movimentos de
libertação em posição de poder em seus países. Embora se tenha conseguido
alguma estabilização e sobretudo a manutenção de Kabila no poder e uma RDC
intacta física e geograficamente, aquele país só adiou novos conflitos como se
pode verificar nos dias de hoje.
Que
fará a União Africana depois de mais um descalabro político na RCA? Haverá mais
uma cimeira destinada a coordenar esforços e decidir-se pela colocação de uma
força africana de paz? Quem financiará tal força? Será a França antiga potência
colonizadora? Serão os americanos que irão sacar mais dólares para a logística
de uma operação dispensável?
Afinal
qual é a génese da violência política em África? Quem promove e quem recruta os
combatentes rebeldes? Será unicamente a intolerância política ou há algo mais
que os políticos se recusam a falar ou a tratar em público?
Uma
máscara de diplomacia concebida como parte de uma política externa tem sacudido
África. Como no passado os alvos são os recursos naturais nomeadamente os
minerais. Com as exigências de mercados ávidos de produtos agrícolas chamados
de orgânicos e orientados para uma clientela com poder aquisitivo também a
terra começa a ser disputada em arranjos similares a uma colonização por
licença. Agora não há bandeira colonial mas há licenciamento de extensas
áreas para utilização agrícola, florestal e animal.
Em
nome da economia ou para suster os falhanços económicos endógenos os governos
africanos aceitam partilhar milhares de hectares com grupos multinacionais.
Empurra-se os camponeses e residente locais para a periferia como forma de
garantir a implementação dos projectos. Mas na verdade também se está “semeando
tempestades”. Produzir “sem terra” em África é estrumar conflitos de natureza
desconhecida. Quando os pobres se virem sem soluções viáveis para viver vão
tomar de assalto os seus vizinhos ricos e como estes são as multinacionais
haverá violência com intervenção da polícia e do exército. Uma hipótese nos
dias de hoje mas de concretização bem possível amanhã.
É de antever que alguma da teimosia
governamental em Moçambique e no Zimbabwe, no sentido de encetarem diálogos
consequentes com a oposição seja fruto de uma crença de que a poderosa África
do Sul irá em socorro do regime de Maputo e de Harare. Mas como se viu na
República Centro Africana as forças armadas sul-africanas dificilmente
resistirão a um conflito quente… (Noé Nhantumbo)
Imagem: www.nanihumor.com
Sem comentários:
Enviar um comentário