Já um dos
principais fornecedores de petróleo à China, Angola pode vir a tornar-se nos
próximos anos “numa cesta de pão”, exportando alimentos para o mercado chinês,
potencial existente noutros países lusófonos, segundo analistas das relações
sino-lusófonas.
Deborah
Brautigam, professora e diretora do Programa de Desenvolvimento Internacional
da Johns Hopkins University, Estados Unidos, sublinha que Angola recebeu um
empréstimo vultuoso do Banco de Desenvolvimento da China para investir na
agricultura mecanizada e que, sendo hoje um país importador de alimentos com
muito solo disponível, quer aumentar a sua capacidade produtiva.
“Penso que
Angola e China veem o potencial angolano para ser uma `cesta de pão´”, disse a
professora norte-americana à Lusa.
“Angola está
disposta a emprestar e a contratar muito deste trabalho para empresas chinesas
construírem”, adiantou.
Mais
duvidoso, afirma, é que a melhor forma de realizar o potencial existente seja
através de “grandes explorações detidas pelo Estado, operadas pela Gesterra”,
empresa pública de gestão das terras aráveis parte da reserva estratégica do
Estado e de projetos agroindustriais e pecuários.
No início da
sua primeira visita a África, o presidente chinês Xi Jinping afirmou que, mais
do que extrair matérias-primas, a China quer ajudar o enriquecimento e
desenvolvimento do continente, numa “relação entre iguais”.
Disse que a
China vai formar 30 mil profissionais africanos, oferecer 18 mil bolsas de estudo
e “aumentar a transferência de tecnologia e de experiência” para África.
Para Deborah
Brautigam, é de esperar que os países como Angola venham a receber mais
investimento industrial, tal como já tem vindo a acontecer no Egito, África do
Sul, Etiópia ou Nigéria.
“O
envolvimento chinês em Angola é bastante mais recente, por causa da guerra, e
por causa da geopolítica. Portanto, a indústria é uma nova fase em Angola, mas
isto reflete não uma tentativa de mudar a imagem da China, mas novas
oportunidades, respondendo a melhores infraestruturas e à crescente classe
média angolana”, disse à Lusa.
De acordo
com dados oficiais chineses, no ano passado o comércio entre a China e os oito
países de língua portuguesa atingiu 128,5 mil milhões de dólares, mais 9,6%
relativamente a 2011.
Na tese de
mestrado “As Relações da China com os Países de Língua Portuguesa”, apresentada
em setembro de 2012 nos Estados Unidos, o investigador Loro Horta sublinha que
os países lusófonos têm vindo a ganhar importância para a China na segurança
energética e mercados, atingindo um nível “vital” no caso de Brasil e de
Angola.
Se o
interesse da China se baseia em recursos naturais, sobretudo o petróleo no caso
de Angola, e a relação passa por cultivar a proximidade com as elites políticas
e não pela criação de grande número de postos de trabalho, o sucesso dos
negócios chineses em Cabo Verde, país democrático e pobre em recursos, é o
oposto.
Também em
Moçambique, os investimentos chineses estão a criar cada vez mais empregos a
nível local, resultado de "ressentimentos iniciais" por empregarem
sobretudo chineses, e de uma subida dos custos laborais na China.
A África de
língua portuguesa, refere, demonstra que o investimento chinês vai além da
extração de recursos, incluindo turismo, agricultura e banca, e a China “tem
uma abordagem de longo prazo às suas relações com o mundo de língua
portuguesa”.
“Os seus
diplomatas e homens de negócios são muito pacientes e persistentes”, afirma
Loro Horta.
LUSA
ANGOLA24HORAS
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