segunda-feira, 1 de abril de 2013

Angola pode tornar-se a "cesta de pão" da China – analistas


Já um dos principais fornecedores de petróleo à China, Angola pode vir a tornar-se nos próximos anos “numa cesta de pão”, exportando alimentos para o mercado chinês, potencial existente noutros países lusófonos, segundo analistas das relações sino-lusófonas.
Deborah Brautigam, professora e diretora do Programa de Desenvolvimento Internacional da Johns Hopkins University, Estados Unidos, sublinha que Angola recebeu um empréstimo vultuoso do Banco de Desenvolvimento da China para investir na agricultura mecanizada e que, sendo hoje um país importador de alimentos com muito solo disponível, quer aumentar a sua capacidade produtiva.
“Penso que Angola e China veem o potencial angolano para ser uma `cesta de pão´”, disse a professora norte-americana à Lusa.
“Angola está disposta a emprestar e a contratar muito deste trabalho para empresas chinesas construírem”, adiantou.
Mais duvidoso, afirma, é que a melhor forma de realizar o potencial existente seja através de “grandes explorações detidas pelo Estado, operadas pela Gesterra”, empresa pública de gestão das terras aráveis parte da reserva estratégica do Estado e de projetos agroindustriais e pecuários.
No início da sua primeira visita a África, o presidente chinês Xi Jinping afirmou que, mais do que extrair matérias-primas, a China quer ajudar o enriquecimento e desenvolvimento do continente, numa “relação entre iguais”.
Disse que a China vai formar 30 mil profissionais africanos, oferecer 18 mil bolsas de estudo e “aumentar a transferência de tecnologia e de experiência” para África.
Para Deborah Brautigam, é de esperar que os países como Angola venham a receber mais investimento industrial, tal como já tem vindo a acontecer no Egito, África do Sul, Etiópia ou Nigéria.
“O envolvimento chinês em Angola é bastante mais recente, por causa da guerra, e por causa da geopolítica. Portanto, a indústria é uma nova fase em Angola, mas isto reflete não uma tentativa de mudar a imagem da China, mas novas oportunidades, respondendo a melhores infraestruturas e à crescente classe média angolana”, disse à Lusa.
De acordo com dados oficiais chineses, no ano passado o comércio entre a China e os oito países de língua portuguesa atingiu 128,5 mil milhões de dólares, mais 9,6% relativamente a 2011.
Na tese de mestrado “As Relações da China com os Países de Língua Portuguesa”, apresentada em setembro de 2012 nos Estados Unidos, o investigador Loro Horta sublinha que os países lusófonos têm vindo a ganhar importância para a China na segurança energética e mercados, atingindo um nível “vital” no caso de Brasil e de Angola.
Se o interesse da China se baseia em recursos naturais, sobretudo o petróleo no caso de Angola, e a relação passa por cultivar a proximidade com as elites políticas e não pela criação de grande número de postos de trabalho, o sucesso dos negócios chineses em Cabo Verde, país democrático e pobre em recursos, é o oposto.
Também em Moçambique, os investimentos chineses estão a criar cada vez mais empregos a nível local, resultado de "ressentimentos iniciais" por empregarem sobretudo chineses, e de uma subida dos custos laborais na China.
A África de língua portuguesa, refere, demonstra que o investimento chinês vai além da extração de recursos, incluindo turismo, agricultura e banca, e a China “tem uma abordagem de longo prazo às suas relações com o mundo de língua portuguesa”.
“Os seus diplomatas e homens de negócios são muito pacientes e persistentes”, afirma Loro Horta.
LUSA
ANGOLA24HORAS

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