magem do “brigadeiro da Renamo, Rasta
Mazembe morto pela Polícia”, segundo a própria Polícia
Hoje não houve confrontos
Muxunguè (Canalmoz) – O administrador de Chibabava,
distrito a que pertence o posto administrativo de Múxunguè, Arnaldo Fernando
Major, disse ontem à Reportagem do Canalmoz/Canal de Moçambique que a
sede da Renamo nesta localidade atravessada pela Estrada Nacional N1 que liga o
sul ao centro e norte do país, “estava já transformada numa base, com os
antigos guerrilheiros da Renamo concentrados”, mas admitiu, entretanto,
taxativamente, que não estavam armados deixando a perceber que as autoridades
procuram agora a todo o transe encontrar justificações para o iniciativa tomada
pela FIR e que acabaria com o sossego em Muxunguè.
Numa
entrevista que nos concedeu no Hospital Rural de Muxunguè, Arnaldo Fernando
Major contou-nos nos seguintes termos a versão do governo: “Na sede da Renamo
já tinham sentinelas, postos avançados e nós a nível do governo do distrito
fizemos questão de convocar a parte política da Renamo e conversámos com eles
para sabermos qual era a razão da concentração. Então diziam-nos que estavam à
espera do chefe que vinha para um seminário. Então dei-lhes um ultimato porque
não foram autorizados para estarem ali concentrados, para além de que não havia
condicções sanitárias para estarem ali tantos homens aglomerados. Estavam quase
duzentas pessoas, não tinham latrinas, não tinham nada, pelo que aconselhámos
que deviam se dispersar. Tudo isto já há duas semanas atrás. Só que isto, bom,
não cumpriram e a Policia na sexta-feira (29 de Março de 2013) chamou a chefia
deles e deu ultimato para eles destroçarem. Não acataram, até que na madrugada
de ontem (03 de Abril de 2013), a Policia interveio para manter a ordem, para
impor a ordem. Não disparou arma nenhuma. Nem era madrugada, já eram sete horas
quando eles estavam a fazer a formatura deles, então a força de intervenção
rápida foi para lá, dispersou as pessoas, usou gás lacrimogénio, duas granadas
de gás lacrimogénio, e dispersaram. Não houve, não houve nenhum ferido, houve
um ligeiro. Só que bom, na madrugada de hoje (ontem, 04 de Abril de 2013) eles
vieram. Afinal quando saíram ontem foram-se organizar. Na altura nós não
pensávamos que eles tivessem armamentos, mas agora confirmamos que eles tinham
armamento. Tínhamos informações em como eles tinham armas, mas como ali onde
estavam não tinham armas, nós não confirmámos… Então hoje (ontem, 04 de Abril)
às 04 horas de facto atacaram a nossa força e tivemos isto que tivemos”.
O
balanço, segundo o administrador do distrito de Chibabava, foi de quatro mortos
e nove feridos do lado da Polícia (FIR-Força de intervenção Rápida), uma
senhora civil ferida, e um homem da Renamo morto.
No
ataque ao Posto policial de Muxunguè a Renamo deixou no terreno um homem morto.
O comando da FIR no local e o administrador de Chibabava disseram que o homem
morto no aquartelamento da unidade da FIR é o “brigadeiro Rasta Mazembe” (ver
foto)
Na
visita ao quartel que foi proporcionada à Reportagem do Canalmoz e do Canal de
Moçambique pelo Comando da FIR em Muxunguè, pudemos ver o corpo de um homem da
Renamo, morto a uma dezena e pouco de metros da porta da cadeia onde estavam
encarcerados “16 homens da Renamo” feitos prisioneiros no ataque da véspera à
sede da Renamo, pela FIR.
Ao
lado do local onde estava o cadáver do dito “brigadeiro da Renamo”, estavam
sacolas e malas particulares de elementos da Renamo, apreendidas na véspera na
sede civil do partido liderado por Afonso Dhlakama.
Estavam
também ali estacionadas, no quartel da FIR, apreendidas, cinquenta e seis (56)
bicicletas. Pertencem a cidadãos que se encontravam na sede política da Renamo
quando a Policia tomou a iniciativa de abrir a hostilidades ao atacá-la na
quarta-feira de manhã.
De
acordo com várias pessoas contactadas pelo Canalmoz, entre empresários,
professores e vendedores ambulantes, a Renamo estava a promover uma ampla
reunião de militantes na sua sede, na última quarta-feira de manhã, quando a
FIR tomou a iniciativa de atacar aquele espaço privado alegando que não tinham
obtido autorização prévia para se reunirem, como aliás nos foi explicado pelo
administrador de Muxunguè.
No
dia (03 de Abril) em que a Policia invadiu sem mandato a sede da Renamo em
Muxunguè, de acordo com testemunhos que recolhemos de civis, havia cerca de
duas centenas e meia de pessoas ali reunidas. Os números de várias fontes vão
de duzentas e duzentas e cinquenta pessoas.
Ainda
de acordo com vários depoimentos gravados de civis, nos últimos anos nunca
tinha sido visto um único homem da Renamo armado em Muxunguè, até se registar o
ataque ao quartel da Policia (FIR).
Do
ataque da Renamo, dia 04 de Abril, a FIR mostrou-nos uma arma AK47 que teria
sido usada pelo homem abatido no quartel. Mostraram-nos ainda uma outra Kalash.
As duas são armas antigas, com carregadores de quarenta munições e não de
trinta como usam as AK47 mais modernas.
A
Policia diz que havia um outro homem ferido que foi arrastado pelos atacantes e
levado. Mostraram o rasto mas ao longo de trilho visível no piso de areia do
quartel não vimos uma única gota de sangue.
Os
números oficiais fornecidos pelo administrador de Muxunguè ao Canalmoz não são
os mesmos que nos foram fornecidos por vários funcionários do Hospital Rural de
Muxunguè em várias circunstâncias distintas em que procurávamos ainda obter
informações sobre o balanço de vítimas. De acordo com todas as fontes
hospitalares, deram entrada naquela unidade de saúde quatro cadáveres de
agentes da FIR e ainda 13 feridos da FIR, dos quais nove graves. Entrou ainda
uma senhora civil ferida por uma “bala perdida”.
Quando
a nossa Reportagem deixou Muxunguè cerca das 11 horas da manhã de quinta-feira
(ontem) a população que ainda não tinha abandonado a vila devido ao tiroteio da
véspera na sede da Renamo, estava a fazê-lo. Se na quarta-feira quando chegámos
a Muxunguè, cerca das 18 horas, a vila já era uma vila fantasma, contrariamente
ao habitual, agora ainda está mais deserta.
O pânico
está semeado em Muxunguè.
O
movimento rodoviário diminuiu consideravelmente.
Era
voz corrente ontem em Muxunguè que a Renamo poderia voltar a atacar para
libertar os seus 16 homens mantidos na prisão sem que se conheça decisão
judicial para tal. Mas hoje Muxunguê passou uma noite tranquila e acordou sem
“guerra”, segundo um comerciante por nós contactado telefonicamente.
Falando
à nossa Reportagem no hospital de Muxunguè, quando estava a ser transportado
para uma viatura que levaria feridos ao Hospital Central da Beira, um dos
agentes da FIR disse-nos que o ataque se deu por volta das 04 da manhã.
Explicou-nos que os agentes da FIR estavam a dormir. “Fomos surpreendidos pelos
disparos”, disse-nos Jaime Alfiado, contorcendo-se de dores com o abdómen rasgado
por uma bala.
Jacinto
Kamoto, outro agente da FIR gravemente ferido, disse-nos que veio da cidade da
Beira para “cumprir uma missão”. “Só que de repente vieram e atacaram onde nós
estávamos acampados. Tiroteio não tiroteio, heish surpresa meu… nós estávamos a
descansar e já começámos ali…já era guerra…outros disparavam…outros
disparavam…já de repente eu sai, fiz tática de guerrilha e fui baleado nas
costas”.
E é
natural de onde? – “Eu sou natural de Lichinga, mas vivo na Beira”. E há quanto
tempo está na FIR? – “Este é o meu terceiro mês de trabalho”.
O que nós vivemos
A
nossa Reportagem estava a cerca de duzentos metros do quartel da FIR que foi
atacado pela Renamo. Estávamos a pernoitar na viatura em que nos
transportávamos, estacionados na bomba de gasolina da BP. Eram exactamente
03h40 quando começámos a ouvir fogo intenso de rajada. Saímos da viatura e
vimos, de vários camiões de carga diversa estacionados nas imediações da bomba
da BP, começarem a sair, em fuga precipitada, os seus ocupantes. Pessoas que
estavam a pernoitar no chão de pavet da estação de serviço, desapareceram. O
ambiente estava dominado por tiros de amas ligeiras e explosões de granadas e
armas pesadas. O eco dos disparos vinha a certa altura também de longe, de
várias frentes.
Quando
pela primeira vez se fez silêncio por algum tempo voltaram a aparecer nas
instalações da BP alguns dos motoristas dos camiões. Todos eram da opinião de
que poderia estar a suceder um mal entendido entre agentes no quartel dado que
tinham sido vistos alguns a beber nas pouquíssimas barracas que estiveram
abertas.
O
fogo intenso no entanto não parou e voltou a acontecer. Víamos movimento dentro
do quartel sem contudo podermos perceber o que realmente estava a suceder.
No
quartel a certa altura havia muita luz e fumo de uma granada e de granadas de
luz.
O
fogo só parou mesmo cerca de uma hora depois dos primeiros disparos.
Ainda
durante o tiroteio houve vários camiões que zarparam arriscando-se por meio do
fogo.
O
quartel fica do lado direito da N1 para quem viaja no sentido Norte-Sul, no
sentido do Save.
A
sede da Renamo fica do outro lado da estrada relativamente ao quartel da
Policia.
O
ataque viemos depois a saber que se iniciou da estrada para o quartel, atraindo
a policia para essa frente. No entanto o grupo principal da Renamo viria a
entrar no quartel com infiltração pela retaguarda, do lado do hospital.
O administrador de Muxunguè alegaria, na
entrevista que nos concedeu, que a policia teve muitas baixas porque não quis
disparar para baixo para evitar atingir a população dado tratar-se de uma zona
habitada. (Fernando Veloso e Luciano da Conceição)
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