segunda-feira, 1 de abril de 2013

“Palmadinhas nas costas” alimentam egos mas trazem neocolonialismo Canal de Opinião. Por: Noé Nhantumbo



Assim era antes mas agora também…

Beira (Canalmoz) - É por demais evidente que quando os líderes de países como Moçambique recebem “palmadinhas nas costas” e elogios, bem como prémios de Boa-Governação e desempenhos apreciáveis, que se trata tudo de conversa fiada. Quem o faz está perfeitamente ciente de que os egos de alguns africanos precisam de ser alimentados que nem a propalada autoestima dos dias de hoje.
Mesmo Mo Ibraimo que instituiu um prémio para celebrar e encorajar a Boa-Governação em África está tendo imensas dificuldades em encontrar quem entregar o prémio a cada ano que passa. Mesmo alguns dos premiados hoje revelam que não mereciam tamanha premiação.
Se antes era de Moscovo e de Pequim que partiam a maior parte de iniciativas elogiando dirigentes africanos também não se pode dizer que das chancelarias não surgissem prémios e elogios destinados a engradecer os feitos “não feitos” de dirigentes africanos convenientes. Herói socialista, Ordem de Lenine, Comendador do Império Britânico, Membro da Ordem do Infante Dom Henrique, Doutor Honoris Causa desta ou daquela universidade, títulos não faltam e gente a quem distribuir também abunda. 
O casamento por exemplo de Nyerere com interesses socialistas era sobejamente conhecido e ele e sua Tanzânia beneficiaram-se imenso por terem albergado vários movimentos guerrilheiros de países africanos. Como prémio recebiam-se medalhas e abria-se caminho para uma cooperação económica denominada socialista e avançada. Quando Henry Kissinger organizava o reportório que Mobutu Sesse Sekou deveria cantar e dançar em defesa dos interesses belgas e americanos numa perspectiva de impedir a expansão dos ideais socialistas e comunistas estava em jogo um conjunto de factores e fenómenos que importa não esquecer. Este Mobutu e outros ditadores africanos de várias estirpes, com tendências socializantes ou professantes do que se chama hoje de economia de mercado ou capitalismo selvagem, dançavam a música que os poderosos tocavam.
As viagens de estado minuciosamente organizadas serviam para insuflar e inflamar os egos de gente sedenta de grandeza. 
Os corredores diplomáticos aprenderam a terem em stock os alimentos e bebidas preferidas dos déspotas africanos de ontem. Se hoje surgem notícias de alguns dirigentes de países ricos em petróleo em África possuem jactos executivos que se deslocam à Europa para adquirir o stock de bebidas preferidos de dignatários do estado não se trata de mentira alguma ou exagero.
Os exageros em exuberância e luxo dos governantes africanos constituem um verdadeiro insulto a maioria de seus concidadãos que tem de sobreviver com migalhas ocasionalmente distribuídas quando as calamidades naturais chegam com ou sem aviso.
Quando falamos hoje de problemas no continente seria conveniente que não nos negássemos a olhar frontalmente para as verdadeiras causas. Há que dizer de boca cheia que as lideranças africanas no seu conjunto são o principal factor de degenerescência governativa que se verifica no continente. Muito poucas são as excepções.
Quem se ocupa de transformar a governação de um país num feudo familiar não pode ser considerado de bom governante. Filhos e filhas de chefes de estado não deveriam estar pendurados nas responsabilidades políticas e governamentais dos pais para construírem impérios empresariais. Herdeiros políticos em repúblicas seguem um curso que não deixa margem para que surjam oportunidades para que filhos biológicos de presidente se tornem eles mesmos presidentes no desaparecimento de cena de seus progenitores.
Aquilo que foi feito no Egipto de Mubarak, na Líbia da Kadaafi, que foi ensaiado no Senegal, que foi concretizado no Gabão, que está sendo ensaiado em Angola e noutros quadrantes de África significa que África é o paraíso das oligarquias.
A sustentabilidade de uma apreciável parte do empresariado africano cairia no dia seguinte se perdesse os seus apoios e ligações na esfera governativa e política. Há uma incipiência tal que está tardando a ser descoberto que rico rodeado de gente muito pobre nunca está a vontade.
 Os salamaleques frequentemente recebidos por nossos governantes, os elogios e tratamento diferencial que merecem nas suas deslocações ao estrangeiro são produto de uma afinada estratégia de acesso facilitado aos recursos naturais de nossos países. A neocolonização de África começou no dia em que os diferentes países proclamaram suas independências políticas.
As capitais dos países antes metrópoles jamais desarmaram e abandonaram suas aspirações de dominarem e acederem aos recursos considerados vitais para o andamento de suas economias.
O fomento e guerras intestinas e golpes de estado fazem parte do arsenal utilizado para desestabilizar os países que são renitentes. Aos líderes que cumprem religiosamente as prescrições das chancelarias internacionais outorgam-se prémios e convites para tomarem parte de importantes e conceituadas academias e centros de pensamento internacionais (think-tanks).
Os convites para participação no circuito diplomático internacional como os encontros de Davos não faltam. A participação nos encontros da ONU em nome de sua experiencia e sabedoria estão garantidos pelo tipo de relacionamentos e contactos que criaram.
É tudo parte de um extenso clube que tem uma agenda específica. 
As proclamações de cariz nacionalista e em defesa de uma pretensa soberania só acontecem quando tem os seus interesses particulares ameaçados. De maneira visível comandam as operações em seus países com uma postura de “acumuladores” vorazes de riqueza.
Quase todos os que se diziam membros do quase defunto Movimento dos Não Alinhados em seus países eram déspotas repressores como a história o documenta.
Uma vil combinação de interesses tem muitos países inaceitavelmente com seus povos vivendo na mais completa penúria. Cidadãos com os seus direitos consagrados na lei são tratados como se de burros de carga se tratasse.
Na mais completa conspiração contra seus concidadãos vemos nossos governantes conluiando-se com as corporações multinacionais para explorarem em seu benefício os recursos naturais existentes.
Os políticos de proa do ocidente e oriente estabelecem alianças estratégicas em África que como dividendo garantem o fluxo encoberto de fundos para suas contas bancárias.
Chefes de governo e partidos políticos na reforma continuam levando uma vida de “lordes” que sua renda mensal não explica. Os favores em nomeações e atribuição de apetecíveis cargos são pagos atempadamente nestas esferas.
África, com seu desenvolvimento combalido, sente na carne as consequências de acção premeditada encetada por quem dá “palmadinhas nas costas de nossos governantes e por estes que as recebem com “apreço criminoso”.
Aquele neocolonialismo de que se falava com tanto fôlego, hoje está virtualmente esquecido e como se pode verificar todos os recursos naturais de que os países africanos dispõem está sob controlo de empresas transnacionais provenientes dos países que ontem eram as potências colonizadoras.
Tantas voltas foram dadas para no fim se estar neste beco aparentemente sem saída.
Os gloriosos “libertadores e revolucionários” de ontem renderam-se ao capital que diziam combater e por causa do qual emitiram sentenças de morte que foram cumpridas.
Esta é a realidade nua e crua que mesmo os acérrimos defensores de regimes oligárquicos desta África não podem desmentir ou desfazer.
Quando um “combatente pela libertação” de seu país, aproveita a primeira oportunidade e fundos que não se sabe de onde saíram, para adquirir um castelo na antes potência colonizadora estamos em presença de um comportamento até certo ponto doentio, de uma elite sofrendo de megalomania. Alguns podem estar esquecidos mas tanto Mobutu como Robert Mugabe adquiriram mansões e castelos algures na Europa. A revolução que muitos diziam defender e que juraram proteger diluiu-se logo que chegaram a poder.
Quem explora seus concidadãos, recruta menores para combater rivais, quem submete milhares a uma escravatura moderna na mineração de ouro, diamantes ou coltan são africanos com relações conhecidas com seus clientes internacionais. Se hoje existe uma confusão na República Democrática do Congo temos ou existe uma mão dos EUA, Bélgica, apoiando o Ruanda e o Uganda. Quem se beneficia directamente da instabilidade na RDC são estes dois países que possuem militares e guerrilheiros no terreno dirigindo operações de mineração com trabalhadores forçados. Quem cobra taxas de passagem a cidadãos são guerrilheiros com ligações conhecidas ao Ruanda e Uganda. Quem promoveu e executou manobras durante o processo eleitoral é o actual presidente Joseph Kabila que mesmo assim tem garantido o apoio de seus pares na região, na União Africana e algures em Nova Iorque. 
Os recursos naturais servem para “lubrificar” todo o tipo de engrenagens…
Com algum marketing político, com lobbies activos, tem sido possível estabelecer e manter “profícuas” relações em África… (Noé Nhantumbo)

Sem comentários: