“Os protestos e a expressão pública de indignação das
famílias atingidas pela Vale em Moatize consistiram no bloqueio de todas as
entradas e vias de acesso a Mina da Vale, forçando a paralisação de todas as
actividades e da saída do comboio da Vale, já carregado de carvão, que devia
ter partido esta madrugada para o Porto da Beira”, reporta a ADECRU.
Maputo
(Canalmoz) – A população reassentada pela mineradora Vale Moçambique, no
distrito de Moatize, voltou a paralisar as actividades da multinacional
brasileira desde o final da tarde da terça-feira, exigindo “compensações” pela
transferência das suas terras. Até ao fim do dia de ontem não havia informação
sobre o desfecho do caso, mas sabia-se que a Força da Intervenção Rápida tinha
sido mobilizada para o local onde dispersou os manifestantes com lançamento de
granadas de gás lacrimogéneo e disparos de balas de borrachas.
Segundo
descrições da ADECRU - Acção Académica para o Desenvolvimento das Comunidades
Rurais, os manifestantes são jovens membros das “1.365 famílias reassentadas
pela Vale no Bairro 25 de Setembro e região de Cateme, que desde às 14 horas de
terça-feira tentavam, sem sucesso, dialogar com os responsáveis desta empresa”
e acabaram recorrendo ao bloqueio das actividades da mineradora.
“Por
volta das 14 horas de 16 de Abril de 2013, mais de 500 pessoas, na sua maioria
jovens oleiros, reassentados em Cateme, no Bairro 25 de Setembro e residentes
do Bairro 4, concretamente na região de Nthibu, dirigiram-se ao escritório da
Vale, cita no Bairro 9, mais conhecido por Carbomoc, nome da extinta empresa
Carbonífera de Moçambique, na Vila de Moatize. Junto dos escritórios da Vale,
as famílias solicitaram um encontro urgente com os responsáveis desta empresa
para negociação com vista ao cumprimento imediato dos acordos de indemnização e
compensação firmados com a Vale. Porém, uma vez mais, com arrogância e
desprezo, a Vale ignorou o pedido das famílias reassentadas, optando pelo
silêncio e mais tarde por enviar funcionários subalternos e solicitar
intervenção da Polícia, descreve a ADECRU na sua página Web.
“Diante
da arrogância e atitudes inaceitáveis da Vale, decidimos bloquear a principal
via de entrada a Mina da Vale pelas 17 horas de ontem dia 16 de Abril de 2013.
Entretanto, quando soubemos que os trabalhadores e a própria Vale estavam a
usar a via alternativa de Benga que liga a Mina à Cidade de Tete, decidimos
também bloquear a mesma estrada na manhã de hoje, dia 17 de Abril”, disse uma
fonte presente nos protestos contra a Vale, citada pela ADECRU.
“Os
protestos e a expressão pública de indignação das famílias atingidas pela Vale
em Moatize consistiram no bloqueio de todas as entradas e vias de acesso a Mina
da Vale, forçando a paralisação de todas as actividades e da saída do comboio
da Vale, já carregado de carvão, que devia ter partido esta madrugada para o
Porto da Beira”, continua a ADECRU.
Ainda
não há uma reacção oficial das autoridades governamentais do Distrito de
Moatize e da Província de Tete, muito menos da própria Vale. Entretanto a
Polícia foi mobilizada para o local das manifestações. Demorou agir
violentamente contra os manifestantes, mas por volta de 17 horas começou a
descarga da força policial contra os protestantes (VSFF peça a seguir).
Não
é a primeira vez que parte das famílias reassentadas pela Vale em Moatize
protesta contra a “violação de seus direitos e péssimas condições” de vida a
que estão sujeitas, desde finais de 2009, altura da sua remoção das comunidades
de Malabwé, Mithethe, Bairros de Bagamoyo e Chipanga.
No dia 10 de Janeiro de 2012, mais de 716
famílias reassentadas na região de Cateme insurgiram-se contra a Vale, exigindo
a reposição de seus direitos relativos à terra, água, energia, transporte,
casas condignas, entre outras reivindicações. Em resposta, foram brutalmente
reprimidos e violentados pela Polícia da República de Moçambique (PRM) e sua
unidade da Força de Intervenção Rápida (FIR), que resultou na detenção
“arbitrária” de 14 pessoas, seis (6) das quais contraíram ferimentos graves em
resultado da tortura a que lhes foi submetida por elementos da PRM e da FIR. (Redacção/ADECRU)
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