sexta-feira, 19 de abril de 2013

Moçambique. Cateme de novo! População paralisa actividades da Vale e é dispersada pela Polícia


“Os protestos e a expressão pública de indignação das famílias atingidas pela Vale em Moatize consistiram no bloqueio de todas as entradas e vias de acesso a Mina da Vale, forçando a paralisação de todas as actividades e da saída do comboio da Vale, já carregado de carvão, que devia ter partido esta madrugada para o Porto da Beira”, reporta a ADECRU.

Maputo (Canalmoz) – A população reassentada pela mineradora Vale Moçambique, no distrito de Moatize, voltou a paralisar as actividades da multinacional brasileira desde o final da tarde da terça-feira, exigindo “compensações” pela transferência das suas terras. Até ao fim do dia de ontem não havia informação sobre o desfecho do caso, mas sabia-se que a Força da Intervenção Rápida tinha sido mobilizada para o local onde dispersou os manifestantes com lançamento de granadas de gás lacrimogéneo e disparos de balas de borrachas.
Segundo descrições da ADECRU - Acção Académica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais, os manifestantes são jovens membros das “1.365 famílias reassentadas pela Vale no Bairro 25 de Setembro e região de Cateme, que desde às 14 horas de terça-feira tentavam, sem sucesso, dialogar com os responsáveis desta empresa” e acabaram recorrendo ao bloqueio das actividades da mineradora.
“Por volta das 14 horas de 16 de Abril de 2013, mais de 500 pessoas, na sua maioria jovens oleiros, reassentados em Cateme, no Bairro 25 de Setembro e residentes do Bairro 4, concretamente na região de Nthibu, dirigiram-se ao escritório da Vale, cita no Bairro 9, mais conhecido por Carbomoc, nome da extinta empresa Carbonífera de Moçambique, na Vila de Moatize. Junto dos escritórios da Vale, as famílias solicitaram um encontro urgente com os responsáveis desta empresa para negociação com vista ao cumprimento imediato dos acordos de indemnização e compensação firmados com a Vale. Porém, uma vez mais, com arrogância e desprezo, a Vale ignorou o pedido das famílias reassentadas, optando pelo silêncio e mais tarde por enviar funcionários subalternos e solicitar intervenção da Polícia, descreve a ADECRU na sua página Web.
“Diante da arrogância e atitudes inaceitáveis da Vale, decidimos bloquear a principal via de entrada a Mina da Vale pelas 17 horas de ontem dia 16 de Abril de 2013. Entretanto, quando soubemos que os trabalhadores e a própria Vale estavam a usar a via alternativa de Benga que liga a Mina à Cidade de Tete, decidimos também bloquear a mesma estrada na manhã de hoje, dia 17 de Abril”, disse uma fonte presente nos protestos contra a Vale, citada pela ADECRU.
“Os protestos e a expressão pública de indignação das famílias atingidas pela Vale em Moatize consistiram no bloqueio de todas as entradas e vias de acesso a Mina da Vale, forçando a paralisação de todas as actividades e da saída do comboio da Vale, já carregado de carvão, que devia ter partido esta madrugada para o Porto da Beira”, continua a ADECRU.
Ainda não há uma reacção oficial das autoridades governamentais do Distrito de Moatize e da Província de Tete, muito menos da própria Vale. Entretanto a Polícia foi mobilizada para o local das manifestações. Demorou agir violentamente contra os manifestantes, mas por volta de 17 horas começou a descarga da força policial contra os protestantes (VSFF peça a seguir).
Não é a primeira vez que parte das famílias reassentadas pela Vale em Moatize protesta contra a “violação de seus direitos e péssimas condições” de vida a que estão sujeitas, desde finais de 2009, altura da sua remoção das comunidades de Malabwé, Mithethe, Bairros de Bagamoyo e Chipanga.
No dia 10 de Janeiro de 2012, mais de 716 famílias reassentadas na região de Cateme insurgiram-se contra a Vale, exigindo a reposição de seus direitos relativos à terra, água, energia, transporte, casas condignas, entre outras reivindicações. Em resposta, foram brutalmente reprimidos e violentados pela Polícia da República de Moçambique (PRM) e sua unidade da Força de Intervenção Rápida (FIR), que resultou na detenção “arbitrária” de 14 pessoas, seis (6) das quais contraíram ferimentos graves em resultado da tortura a que lhes foi submetida por elementos da PRM e da FIR. (Redacção/ADECRU)

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