sábado, 14 de março de 2009

Breve História do Terrorismo Bancário (11)


Não sabemos para quê e para quem os governantes falam. Ninguém acredita no que eles dizem. É como num sonho de escuridão profunda que se aproxima, depois do sol amarelo do fim das tardes. Certamente outro Zimbabué, outra Guiné-Bissau.


«Tendência ao monopólio se acentua

A notícia da aquisição do Unibanco pelo Itaú, e da consequente formação do maior conglomerado bancário do Hemisfério Sul, com ativos avaliados em R$ 575 bilhões, não surpreende. Trata-se do movimento natural do capitalismo no sentido da oligopolização crescente dos mercados. Intensifica-se em geral durante as crises cíclicas de sobreprodução ou de sobreespeculação, como o mundo vive neste momento.

Um movimento suicida, pois vai-se estreitando a margem do que pode se chamar mercado. Onde não há liberdade na interação entre demanda e oferta, diz a doutrina capitalista, não há genuino mercado, mas sim uma espécie de ditadura monopolista. O poder do monopólio de manipular preços, necessidades e desejos para satisfazer sua insaciável sede de lucros prevalece sobre qualquer outro critério ou ética.

No contexto da crise financeira mundial, que começou a expelir gases tóxicos em 2007 e teve sua primeira erupção em setembro de 2008, este movimento faz parte de uma intensificação da tendência do capitalismo ao monopólio, conforme amplamente analisada por autores que vão de Marx a Paul Sweezy, Paul Baran e Harry Magdoff.

O problema do monopólio,* oligopólio ou cartel é múltiplo: impede a atividade de atores menos ricos e poderosos; manipula preços a seu belprazer, em busca do máximo lucro, impondo uma taxa de exploração também sobre os compradores/consumidores; externaliza custos com maior liberdade, onerando consumidores, contribuintes e meio ambiente; tem maior poder de influência sobre os centros de poder, financiando campanhas eleitorais e induzindo à corrupção funcionários públicos e governantes para obter maiores benefícios, gozando de virtual impunidade; etc.

Porém, o mais grave é que quanto maior é a corporação, menor é sua capacidade de adaptar-se a condições socioambientais cambiantes. Por isso não hesito em usar a alegoria tiranossauro para qualificá-las, comparando-as aos grandes sáurios que desapareceram no fim do Período Cretáceo, quando ocorreu uma rápida mudança climática no planeta. Também não hesito em chamar o sistema político que prevalece hoje nos países capitalistas, inclusive o Brasil, de “corporatocracia”, termo usado por John Perkins no seu impactante livro sobre as estratégias do império estadunidense. (Perkins, 2004)

Os que elogiam a aquisição do Unibanco pelo Itaú, e todas as outras fusões e aquisições que têm ocorrido no mundo, parecem ignorar fatos importantes. Primeiro fato, que os ativos do novo conglomerado bancário equivalem a cerca de 25% do PIB brasileiro de 2007! Mesmo que o valor total desses ativos ainda seja pequeno, se comparado com bancos de grande porte dos países do Norte, ele é significativo em relação à renda nacional.

Note-se que nos anos anteriores à crise os dois bancos gozaram de margens de lucro extraordinárias, parte significativa destas por suas atividades especulativas e por serem detentoras de títulos da dívida interna pública, que remuneram com as taxas de juros mais altas do mundo.[1] Note-se também que, unindo-se, o Itaú e o Unibanco superam o Bradesco (ativos de R$ 422,7 bilhões) e o Santander-ABN Amro (R$ 328,1 bilhões). Em 21 de novembro o Banco do Brasil anuncia a compra de 71,25% das ações da Nossa Caixa, passando ao segundo lugar nesta corrida de sáurios, com ativos de (R$ 512,4 bilhões). Essa tendência à concentração avança também nos EUA. Vejamos dois exemplos:


*Monopólio é o controle exclusivo de um mercado por um só vendedor. Existe também o monopsônio, que é o controle exclusivo de um mercado por um só comprador. Toda pessoa, comunidade, empresa é um quantum humano dentro do sistema social-natural (noosférico-biosférico) do qual é parte, assim como cada célula do corpo é um quantum vital indissociável do organismo a que pertence. O que ocorre quando uma célula decide crescer ilimitadamente, alimentar-se das outras até tornar-se a única célula do órgão ou mesmo do organismo é fractalmente proporcional ao que ocorre quando uma pessoa, empresa ou país toma semelhante decisão!»

Ladislau Dowbor
Foto: http://www.elmundo.es/albumes/2009/02/06/max_ernst_semaine/index.html
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[1] Segundo o economista Adriano Benayon, “os lucros de 31 bancos em atividade no Brasil aumentaram, em 2007, para R$ 34,4 bilhões, com crescimento real de 43,3% em relação a 2006, quando tinham atingido R$ 25,05 bilhões. O retorno sobre o patrimônio aumentou de 21,2 para 24,3%. Os 43,3% de crescimento real daqueles 31 bancos, em que estão incluídos os cinco com maiores lucros, superam o percentual destes, que aumentou 30,6% em 2007, com R$ 27,89 bilhões. De 2005 para 2006, seu aumento real foi 19,73%.” (Brasil de Fato, 12.03.2008)

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