segunda-feira, 30 de março de 2009

Presidente gambiano lidera cruzada contra feiticeiros


«Epístolas do ocidente
Sousa Jamba. sousajamba@gmail.com

O «Professor Doutor» Alhaji Yahya Abdul Aziz Jemus Junkung Jammeh, presidente da República da Gâmbia, desencadeou uma vigorosa campanha contra os feiticeiros. Depois de num passado recente ter atribuído todos os males que afectam o seu país aos homossexuais, agora ordenou que os feiticeiros abandonem imediatamente a Gâmbia sob de pena de verem as suas cabeças decepadas pelas mãos do próprio presidente. Recentemente, o presidente Jammeh, que diz ter poderes para curar a SIDA e a asma, atribuiu a morte de uma tia aos feiticeiros.

Em consequência, ordenou que a Agência Nacional de Inteligência desencadeasse uma caça sem precedentes a todos os feiticeiros – verdadeiros e imaginários. O Dr. Jammeh, como o presidente gambiano gosta de ser tratado, tem uma irrestrita confiança nos serviços de inteligência do seu país. Depois de os ter depurado de quadros que ele reputou de fracos demais, Jammeh colocou nos principais postos da ANI indivíduos licenciados em grandes universidades ocidentais. São esses indivíduos que executam a cruzada contra os feiticeiros.

O facto de a cruzada contra os feiticeiros ser executada por pessoas licenciadas em prestigiadas universidades ocidentais abriu uma grande discussão no país e nos seus vizinhos. Na verdade, não se percebe como indivíduos com sólida formação académica se submetem a uma pessoa que passou de raspão pela escola. Não obstante os títulos de que se gaba, nomeadamente o de Professor Doutor, Yahya Jammeh não foi além do ensino secundário. Até à sua ascensão ao poder, em 1994, ele era um simples segurança do antigo presidente Sir Dawada Jawara.

O inglês de Jammeh é tão horrível que sempre que fala para entidades estrangeiras o seu discurso é legendado na língua de Shakespeare para ser entendido. Segundo a Amnistia Internacional, que condenou prontamente a caça às bruxas, mais de 1000 gambianos já foram detidos e submetidos a processos para verificar se eram feiticeiros. Segundo os aldeões, além de figuras da Polícia e dos Serviços Secretos, a cruzada contra os feiticeiros tem também o apoio de pessoas idas expressamente da Guiné Conackry. Esses curandeiros sem fronteiras estão a horrorizar o povo da Gâmbia.

Os suspeitos são obrigados a beber misturas de líquidos feitos de várias ervas, o que origina ataques violentíssimos de diarreia, vómitos e soluços. Na Gâmbia, ninguém pode criticar publicamente a obsessão do presidente Jammeh pelas ervas e feitiçarias. Halifa Sallah, uma proeminente figura da oposição, foi detido por ter tentado falar com as vítimas dos curandeiros guineenses e outros caça bruxas. A polícia acusou-o de espionagem. Para arregimentar apoios africanos à sua cruzada contra o feitiço, Jammeh adoptou, nos últimos dias, um discurso virulento contra o Ocidente, ao mesmo tempo que se diz muito solidário com o governo de Robert Mugabe, no Zimbabwe.

Jammeh diz que o Ocidente não leva a sério os seus poderes de curar a SIDA e a asma por não ser branco. O presidente gambiano diz que herdou dos seus antepassados a capacidade de curar doenças para as quais a medicina moderna ainda não encontrou antídotos. Por causa da cruzada de Jammeh contra a feitiçaria, a capital gambiana, Banjul, transformou-se numa verdadeira Meca de curandeiros. Para garantir a fidelidade de todos os membros do seu governo, Jammeh Jammeh tem organizado assiduamente sessões presididas por super-curandeiros idos de vários países da África Ocidental. Nessas sessões, ministros e altos funcionários do governo vêem os pés salpicados com sangue de galinha preta e com uma cópia do Corão na mão lhe juram fidelidade eterna.

Depois dessas sessões, os governantes gambianos ficam entalados entre os serviços secretos e os curandeiros, que agora assumem um papel muito forte na estrutura governamental do país. A Gâmbia é um país com pouquíssimos recursos naturais. Sobrevive principalmente de receitas do turismo, agricultura e pesca. Nos últimos tempos, porém, o peixe tem escasseado, o que desespera os pescadores. Quando o assunto chegou aos ouvidos do presidente Jammeh, de imediato ele mobilizou uma equipa de curandeiros para identificarem os feiticeiros que estariam por detrás da escassez de peixe.

Num ápice, velhotes de ambos os sexos, viúvos e outros desgraçados foram apresentados como os responsáveis pela escassez do peixe. Os pobres homens reconheceram a sua culpa depois de terem serem forçados a ingerir doses industriais de uma bebida feita com ervas e outras mixórdias. Há quem diga que a escassez de peixe decorre das acções de pescadores estrangeiros cujas empresas tinham ligações com o presidente Jammeh ou gente muito próxima a ele. Claro que denúncias dessa natureza não podem ser feitas publicamente. O presidente Jammeh tem cada vez menos tolerância para a crítica.

Actualmente com 42 anos, ele já prometeu ficar no poder por pelo menos mais 50 anos. Mas os infelizes dos gambianos, ao que tudo indica, terão de suportar a marca Jammeh por mais tempo. É que o sucessor de Yahya Jammeh já está na forja. Trata-se de Muhammad Yahya Jammeh, um pirralho de dois anos, mas que já tem o nome associado ao maior torneio de futebol do país. Ele foi baptizado o ano passado, no palácio presidencial. Ao acto assistiram, além de vários imãs, um vastíssimo séquito de marabutos e curandeiros tradicionais.

Pelos vistos, o rapaz seguirá as pisadas do pai. Para garantir a fidelidade de todos os membros do seu governo, Jammeh tem organizado assiduamente sessões presididas por super-curandeiros idos de vários países da África Ocidental. Nessas sessões, os pés de ministros e altos funcionários do governo são salpicados com sangue de galinha preta a com as duas mãos erguem uma cópia do Corão e juram fidelidade eterna ao presidente.»

In Semanário Angolense
Foto: BBC

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