terça-feira, 17 de março de 2009

Milagre divino (2)


O único político da oposição angolana que tem poder de mobilizar as tais massas, é Abel Chivukuvuku. Se ele fosse o presidente da UNITA…

Levantei-me mentalmente abençoada. Deixei transparecer a minha pequenez, perante tanta grandeza pastoral. Cumprimentámo-nos com parcimónia. Ele lança-me a sonda:
- Vens em peregrinação?
- Procuro o paraíso perdido.
- É esse elemento que falta à igreja. Hum, hum, um paraíso perdido, que retorna a Éden, isso agrada-me muito. Óptimo… a Igreja Veni, Vidi, Vici, e o Bispo Éden abençoam-te.

Reatentei para uma vitrina com fragmentos de ossos, folhas de oliveira, restos da túnica de Jesus Cristo, azeite, água, terra, restos de madeira da cruz de Jesus crucificado. Era um museu da cristologia. Para pobre devota como eu, constituía um enredo que inspirava a desvendar, aclarar, entrar no oculto religioso.
- São relíquias autênticas… achados arqueológicos?
- Santas relíquias, objectos dos nossos milagres. O Fundamento inventivo a descoberto.
- Bispo, estão abençoadas?
- Abençoamos tudo. Esse relicário foi abençoado por mim.

Pegou num frasco azeitado, e explicou o seu mistério.
- Com o azeite ensinamos: foi ele que ungiu Jesus, veio da Terra Santa. Poupamos despesas juntando-lhe óleo alimentar. A água, buscamo-la no rio mais próximo.
- Como conseguem atrair crentes que produzem vozearia medonha, como se louvassem as trombetas do Apocalipse?
- Estrondamos a praça porque eles perderam os ouvidos. Estão surdos devido às pândegas das noites perdidas. Os vizinhos, os poucos que têm audição, têm razão que não os deixamos dormir.
- E quando eles protestam?
- Quando nos julgam, anunciamos-lhes a excomunhão. Reforçamos que servem o Demo. É muito importante manter a superstição nesta gentalha. São como carneiros, dominam-se facilmente… como a maria-vai-com-as-outras. Digo-lhes: alegrem-se, sejam barulhentos porque ganharão a liberdade de consciência.
- E quando no culto estão doentes com dores de cabeça, sistema nervoso arrasado, a rebentar de estresse?
- Acreditam piamente nas nossas palavras. São altos cúmulos da crendice, parvoíce… idiotice.
- Negócio de vento em popa, Bispo.
- Prefiro não musicar esse salmo, como amizade segredo-lhe que facturamos só em dízimos, quatro mil vezes cem, fora as doações.
- Acumulação mundial, episcopal.
- Veni, Vidi, Vici.
- O manancial voa para Olísipo vaticanizado.
- Para o Éden! Não confio nos Politburo. Há o perigo das eleições com muito armamento indirecto escondido. Receio que estejamos a voltar aos velhos tempos dos combates monótonos que os Gregos iniciaram na Baía de Aulis.
- E as curas milagrosas das dores de cabeça, da barriga, dos dentes, infertilidade, arranjar emprego, esposa, esposo…
- Fácil, é preciso ter fé, não há mal que sempre dure.
- A fé… curar dor de dentes é milagre?
- É sim senhor! Acabem com os doces. Passam o tempo a dentar chocolate, ordenamos que parem, a dor passa, confessam que foi um milagre.
- E os estouros da cabeça?
- Bendizemos para não ouvirem música muito alta, excepto na igreja. A conspiração internacional barulhenta, aterradora da música atrofia o cérebro, ele deixa de funcionar, surge a cura.
- E as dores de barriga?
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