sexta-feira, 27 de março de 2009

O Cavaleiro do Rei (13). Novela


Comandante do navio Angola/Titanic, estamos a afundar-nos! Mando tocar a orquestra?!
Isto não é uma ditadura, é uma dinastia bantu.


O rei remirou o jardim. Sorriu e sentiu o perfume do lírio-vermelho que a rainha lhe oferecera. Meditou:
As flores são excelsas, agradáveis. Atraem-nos, obrigam-nos a olhar para elas. Não entendo porque diferem das pessoas. Se conseguisse encontrar uma pessoa competente, inteligente para me ajudar, que fosse capaz de pôr devidamente o meu reino a funcionar, que acabasse com a miséria das populações, os republicanos seriam vencidos. Mas onde encontrar uma pessoa assim? Vejo que é demasiado tarde. Estão todos do lado dos republicanos. Só os incompetentes e corruptos me procuram. Antes roubavam às escondidas, agora roubam às claras. O meu reino está perdido. Tenho que procurar um hábil jeito para me reformar. Encontrar um país que me dê exílio, e nele acabar tranquilamente o resto dos meus dias. Se ao menos conseguisse um super ministro como Colbert… com os adiantamentos petrolíferos que recebemos, o meu reino ficará hipotecado durante mil anos.

O Cavaleiro Epok despacha-se para sair do Palácio Castelo-Forte. Passa-se algo de anormal, berra:
- Rei-de-armas!!!
- Sim meu chefe!
- Desce-me a merda da ponte levadiça!
- Não dá chefe.
- Desce-me já a merda da ponte levadiça. As piranhas estão esfomeadas no fosso e a única comida são vocês.
- Chefe, não temos óleo. Está tudo enferrujado.
- O que é que fizeram ao óleo?
- As últimas visitas levaram-no.
- Vai nos armazéns reais e trás mais.
- Não é preciso documento?
- Não, diz que fui eu que mandei.
- Chefe, não aceitam sem documento.
- Arranja-me um bocado de papel e qualquer merda que escreva!
- Ah, chefe! Aproveito e trago algum para mim. Digo que são ordens do chefe.

Passou-se muito tempo a olear as dobradiças e as correntes da ponte levadiça. A lentidão lembrava um caracol. Epok aproveita para tirar uma boa soneca. Quando acordou, espreitou para o fosso. Apanhou uma pedra e atirou-a para baixo. Houve pouco movimento na água. Alarmado disse:
- As piranhas que estão no fosso não satisfazem, arranjem mais!
- Chefe, aqui não há, só no reino do Brasil.
- Arranjem um barco e carreguem as que puderem. Ou vão ao mercado do Roque Santeiro. Piranhas são o que há lá demais. Com gente assim, este reino não tem futuro.

A ponte levadiça desce, faltam algumas tábuas. Epok avança, trava o cavalo. Este escorrega e enfia as patas dianteiras num buraco. Os guardas retiram o cavalo. Epok assustado grita.
- Rei-de-armas!!!
- Chefe.
- Quem tirou as tábuas?
- É a população de noite, para fazerem a comida.
- De noite (!) Os guardas dormem?!!
- Não chefe. À noite não fica ninguém aqui. Saímos e vamos ter com as nossas namoradas.
- Manda partir todas as casas próximas ao Castelo. Vão ter com o marquês GOR.
- Marquês quê chefe?
-GOR! Gabinete de Obras Reais. Quando voltar quero ver as piranhas bem gordinhas.
- Chefe, esse GOR não vai conseguir tão cedo.
- Porquê?
- Estão muito ocupados a partir centenas de casas, ao pé de outros castelos.
- Com tantos desempregados, admitam mais gente. Tenho que dizer ao rei, que está difícil sair do Castelo.

Foto: Angola em fotos

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