quarta-feira, 11 de março de 2009

O Cavaleiro do Rei (8). Novela


Com os mesmos revolucionários no poder há cinquenta anos, nada de bom nos espera. E com uma imensidão de ministros, vice-ministros, vice-governadores etc, só aqui existe um esbanjamento de dinheiro que afunda a poupança. Isso de austeridade, de sacrifícios, é só para os Jingola, para os Politburo não.



O chefe da guarda, zombeteiro, rodeador, olhando com desprezo constante o semelhante, enchendo-se de ares que é a personagem mais importante do reino, ordena glacial:
- Enviem um batedor pelas ruas, quero dizer, um arauto a proclamar que a guarda do rei vai passar. Quem nelas for vadiado, pela espada será passado.
- Não é preciso, eles já sabem. – Galhofou um guarda.

O arauto adiantou-se, já prossegue no Morro da Maianga. Grita a plenos pulmões.
- Fora da rua! Fora da rua! Comboio real vai passar!
Disfarçados, meio-escondidos no que resta das suas casas por falta de créditos bancários para manutenção, ninguém ousa pôr a cabeça de fora. A guarda do rei é famosa, porque por onde passa deixa estragos. Ouve-se o estrondo de muitas ferraduras de cavalos. Tudo treme. As crianças aterrorizadas berram. Seguem-se os comentários da população economicamente desactiva.
- Parece um tremor de terra a lembrar o coche das maratonas, das passeatas nas ruas.
- Vai haver muitos mortos.
- Devíamos revoltar-nos.
- Não dá. Estamos a morrer à fome e quando apanhamos alguma coisa para comer, faltam-nos as forças. Os dentes esvaem-se.
- Vai ser uma grande chacina.
- Lá se vão mais vidas de jornalistas e políticos da oposição.
- Vejam se falta alguém em casa.
- Ainda não mataram ninguém?
- Não! Hoje somos sortudos!
- Vou mas é mudar de rua. Belita!.. arruma a nossa miséria, vamos para casa da mamã.
- Meu bebé ficámos outra vez sem loiça. O barulho que fazem quando passam, parte-se tudo.
- Deviam construir uma rua só para eles.

Normalmente nestas andanças sofredoras há sempre um número exagerado de humanos frustrados que disputam o dia-a-dia alcoólico. Ao longe ouve-se a voz de um deles, talvez um verdadeiro soldado desconhecido.
- Deixem passar… acabar… os mosquitos do rei.
O chefe ouve, e claro não pode deixar tal agravo consentido e pergunta aos guardas:
- Quem é que nos chamou de mosquitos?
- Deve ser um estrangeiro, chefe.

Nas futuras cavalariças reais, o paladino Divad sempre com as mãos livres, prossegue com êxito a sua actividade. Prometeu que embargaria a construção, sem providência cautelar, devido ao cheiro cavalar. Precisa, que isso desambientará, afugentará o raro oxigénio existente, no que já não merece chamar-se meio ambiente. Alguém corre e interrompe a prelecção da arte, da voluntária jurisdição.
- Paladino Divad, vem aí um poderoso exército. Acho que toda a guarda do reino uniu forças!

Os olhares confirmam. Um pelotão e tal com alabardeiros, besteiros, espingardeiros, e alguns da guarda secreta sinfónica cercam os republicanos. Sem ordens nasce a desordem do soldado. No reino, soldado da guarda é general.
- Atenção formar! Preparar! Ao ataque!!!

Foto: Angola em fotos

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