terça-feira, 17 de março de 2009

O Cavaleiro do Rei (10). Novela


Capítulo III
O Rei
Já aprontou a linha de montagem, agora o reino Jingola está apto para o fabrico em série de Somálias, Darfures, Zimbabués, Guinés-Bissaus, Madagáscares, etc.


Epok desavisado afunda-se no salão de honra privado do rei.
- Meu rei. Temos problemas com o projecto dos vinte milhões.
- Qual deles?! São tantos!
- Aquele dos pequenos cartões que o reino do Ocidente informatizou. Não me lembro do nome.
- O bilhete de identidade.
- Sim meu rei, obrigado. És a única pessoa do reino que sabe tudo.
- Por isso sou o rei, desvenda lá.
- Dispusemos vinte milhões dessa moeda, não me lembro do nome.
- Dólares!
- Efectivamente! Tu és a única pessoa do reino que sabe tudo.
- Por isso sou o rei, diz lá.
- Cinco milhões… não sei o que se passa na minha cabeça, cinco milhões de… do… dores. É isso, desta vez acertei. Cinco milhões de dores.
- Cinco milhões de dólares.

O rei pausou-se. Aproximou-se da única janela existente, olhou para a paisagem do jardim enfeitado com as flores que mais tocavam a sua sensibilidade. Festejava-se interiormente quando contemplava a flor-da-paixão, a flor-do-sangue, a flor-da-noite, a flor-dos-amores e a flor-do-imperador. O cavaleiro Epok interrompe-lhe as aromáticas sensações.
- Meu rei. Dessa quantia foram retirados cinco milhões de dolo para a compra dos coches, que apoiam as brigadas dos tais bilhetes. Eles gastaram metade e ficaram com o resto dos dolos.
- O que há aqui a fazer é decretar a lei da derrama. Mas quem a pagará? Se o grande reino FMI, parece-me, acaba de dizer que os meus súbditos vivem muito abaixo do limite da miséria… isto é uma situação muito grave, sem solução.
- Meu rei, para somar ainda mais, as empresas roubam-nos biliões de dolo todos os anos.
- Dólares! Dólares!
- Já entendi, dolo.
- Estão regulamentadas, decretadas ou autorizadas?
- Acho que sim, estão legalizadas... está tudo sob controlo.
- Não é isso, se os gestores estão autorizados a roubar.
- Que saiba, não.
- Somos os únicos que nos autorizamos a roubar, mais ninguém, isso é concorrência desleal.
- Recrio mais uma comissão de inquérito e depois mando os mosqueteiros farejarem os despojos?
- Por enquanto não. Fala com o marquês das finanças. Como é que ele se chama? São tantos que por vezes esqueço os nomes.
- Meu rei, aquele que esteve no reino do FMI?
- Sim, esse.
- Já sei! É fácil, marquês FMI… a propósito ele entregou-me uma carta de um contabilista corajoso, onde denuncia com cópias de documentos falsos de uma empresa que nos roubou milhões de dólares. Isto para nós é absolutamente normal.
- Parece-me que é a primeira vez no meu reino, que alguém, um idiota contabilista, tem a coragem de nos denunciar com provas.
- Concordo, meu rei. As empresas saqueiam o reino, o neocolonialismo vencerá.
- Não é tanto prismático, descreve-me a documentação.

Foto: Angola em fotos
Visite-me também em: Universidade, Universe, Medicina e X-Files


Sem comentários: