António Amaro de Matos http://www.jornaldenegocios.pt
Não acho que o presidente de um
país emergente e cuja unidade se lhe deve, como é Angola, tenha menos
legitimidade que os nossos reis. Escolheu como é óbvio, pessoas que conhece e
em quem confia: os seus generais, que ganharam uma guerra, os dirigentes mais
próximos, digamos, a sua corte.
Falei uma única vez com José
Eduardo dos Santos. Em 1992, talvez 1993. Acompanhado por um ex-ministro dos
Negócios Estrangeiros de Angola, já falecido, e pelo presidente da SPE, sócia
da estatal angolana Endiama na Sociedade Mineira do Lucapa.
À época, a guerra interna motivada pela sublevação da UNITA era o problema realmente importante de Angola e a nossa visita ao Futungo de Belas constituía muito mais uma cortesia do que o interesse em discutir, ao seu nível, o relacionamento com a subsidiária do IPE que operava no País.
Mas, curiosamente, ao ser-lhe descrita a natureza do IPE de que eu era presidente na altura, "holding" de participações do Estado com a missão de coordenar a sua gestão, mostrou súbito interesse. E, quando o referido ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, conhecedor do IPE, lhe sugeriu que poderia tirar partido da nossa experiência em termos de apoio a uma instituição análoga em Angola, evidenciou abertura. A entrevista alongou-se.
A ideia seria concentrar e gerir os empreendimentos que, terminada a guerra, haveria que criar, seguramente por iniciativa estatal, dada a inexistência de núcleos locais significativos com vocação empresarial. Claro que ofereci, por parte do IPE, toda a colaboração que ele entendesse necessária.
Nem poderia ser outra a minha reacção. Independentemente de, a meu critério, cometer ao Estado o esforço do desenvolvimento económico incluindo a criação de estruturas produtivas, o controlo da sua gestão, etc, ser uma solução ineficiente. Viu-se em todos os países que tentaram a direcção central da economia. Matéria sobre a qual, nas circunstâncias, não me competia, evidentemente, opinar.
Mas não posso deixar de confessar a minha admiração, ainda hoje quando recordo este encontro, pelo político capaz de pensar nas tarefas do futuro e ponderar soluções, mesmo quando está vivendo uma emergência nacional gravíssima do tamanho de uma guerra interna que ainda levaria anos a ser resolvida.
Felizmente para Angola, o modelo de desenvolvimento adoptado, após a pacificação militar e política, foi outro. Radicalmente diferente. O presidente teve a coragem de assumir a enorme responsabilidade de descentralizar a gestão de uma boa parte dos recursos angolanos que poderiam servir ao objectivo do desenvolvimento, fazendo pessoalmente a escolha de a quem os confiar. Criou assim núcleos de poder económico com a capacidade de terem vida e motivação próprias e vocação para crescerem.
Não é uma solução original: os nossos reis e os dos outros países distribuíram abundantemente recursos (na era pré-industrial eram naturalmente terras e concessões) por pessoas de sua escolha e confiança com o objectivo de que fossem explorados e crescessem, no interesse dos beneficiários. Dessa distribuição resultou uma estrutura patrimonial e de rendimentos que possibilitou a evolução e da qual ainda hoje se encontram traços.
Não acho que o presidente de um país emergente e cuja unidade se lhe deve, como é Angola, tenha menos legitimidade. Escolheu como é óbvio, pessoas que conhece e em quem confia: os seus generais que ganharam uma guerra, os dirigentes mais próximos, digamos a sua corte. Tal como nas europeias, nem faltaram princesas, cujo talento não tem desmerecido a confiança posta.
Excluído inteligentemente que Angola seguisse o caminho de uma economia de direcção central, a alternativa que também afastou foi a de consentir, como motor de crescimento, na entrada em força de estrangeiros que aproveitariam as oportunidades de um país novo e dotado de recursos naturais. Seria uma nova colonização pela via da exclusão dos locais – que os portugueses, perversamente, tinham deixado sem qualquer preparação(1) - da direcção concreta dos empreendimentos. Com a criação de núcleos com certo poder económico, criou-se a possibilidade de sem excluir tudo o que outros podem trazer ao país, negociar e garantir o controlo local possível.
O julgamento das decisões tomadas tem de ser feito pelos resultados a prazo, os que contam para a História. É a História que se está construindo. Primeiro, em termos macro – são os índices de crescimento económico. Deste ponto de vista, Angola vai muito bem. Mais tarde, atingido certo nível, há que avaliar, pelos critérios locais, a disseminação de melhorias a toda a população. É ainda cedo.
Naturalmente que alguns recursos, pela sua dimensão e valor estratégico, ficaram no controlo do governo – é o caso da Sonangol. Será também o da exploração das bauxites a norte que, se se fizer, pela dependência da energia, envolverá a construção de uma megabarragem binacional no Zaire. Lembro ainda uma região maior do que a Califórnia, com óptimas condições edafoclimáticas (compreende o colonato da Cela) para ser reconvertida à agricultura moderna altamente produtiva, um futuro pólo de crescimento e transformação social. Também carecerá de intervenção do Estado. E haverá outros projectos de dimensão fora da medida dos grupos privados. Mas só esses.
(1). Até a ideia de uma universidade em Luanda, acarinhada pelo Prof. Adriano Moreira quando ministro do Ultramar, foi travada em Lisboa pelo presidente do Conselho logo que dela tomou conhecimento.
*Economista, ex-presidente do IPE
À época, a guerra interna motivada pela sublevação da UNITA era o problema realmente importante de Angola e a nossa visita ao Futungo de Belas constituía muito mais uma cortesia do que o interesse em discutir, ao seu nível, o relacionamento com a subsidiária do IPE que operava no País.
Mas, curiosamente, ao ser-lhe descrita a natureza do IPE de que eu era presidente na altura, "holding" de participações do Estado com a missão de coordenar a sua gestão, mostrou súbito interesse. E, quando o referido ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, conhecedor do IPE, lhe sugeriu que poderia tirar partido da nossa experiência em termos de apoio a uma instituição análoga em Angola, evidenciou abertura. A entrevista alongou-se.
A ideia seria concentrar e gerir os empreendimentos que, terminada a guerra, haveria que criar, seguramente por iniciativa estatal, dada a inexistência de núcleos locais significativos com vocação empresarial. Claro que ofereci, por parte do IPE, toda a colaboração que ele entendesse necessária.
Nem poderia ser outra a minha reacção. Independentemente de, a meu critério, cometer ao Estado o esforço do desenvolvimento económico incluindo a criação de estruturas produtivas, o controlo da sua gestão, etc, ser uma solução ineficiente. Viu-se em todos os países que tentaram a direcção central da economia. Matéria sobre a qual, nas circunstâncias, não me competia, evidentemente, opinar.
Mas não posso deixar de confessar a minha admiração, ainda hoje quando recordo este encontro, pelo político capaz de pensar nas tarefas do futuro e ponderar soluções, mesmo quando está vivendo uma emergência nacional gravíssima do tamanho de uma guerra interna que ainda levaria anos a ser resolvida.
Felizmente para Angola, o modelo de desenvolvimento adoptado, após a pacificação militar e política, foi outro. Radicalmente diferente. O presidente teve a coragem de assumir a enorme responsabilidade de descentralizar a gestão de uma boa parte dos recursos angolanos que poderiam servir ao objectivo do desenvolvimento, fazendo pessoalmente a escolha de a quem os confiar. Criou assim núcleos de poder económico com a capacidade de terem vida e motivação próprias e vocação para crescerem.
Não é uma solução original: os nossos reis e os dos outros países distribuíram abundantemente recursos (na era pré-industrial eram naturalmente terras e concessões) por pessoas de sua escolha e confiança com o objectivo de que fossem explorados e crescessem, no interesse dos beneficiários. Dessa distribuição resultou uma estrutura patrimonial e de rendimentos que possibilitou a evolução e da qual ainda hoje se encontram traços.
Não acho que o presidente de um país emergente e cuja unidade se lhe deve, como é Angola, tenha menos legitimidade. Escolheu como é óbvio, pessoas que conhece e em quem confia: os seus generais que ganharam uma guerra, os dirigentes mais próximos, digamos a sua corte. Tal como nas europeias, nem faltaram princesas, cujo talento não tem desmerecido a confiança posta.
Excluído inteligentemente que Angola seguisse o caminho de uma economia de direcção central, a alternativa que também afastou foi a de consentir, como motor de crescimento, na entrada em força de estrangeiros que aproveitariam as oportunidades de um país novo e dotado de recursos naturais. Seria uma nova colonização pela via da exclusão dos locais – que os portugueses, perversamente, tinham deixado sem qualquer preparação(1) - da direcção concreta dos empreendimentos. Com a criação de núcleos com certo poder económico, criou-se a possibilidade de sem excluir tudo o que outros podem trazer ao país, negociar e garantir o controlo local possível.
O julgamento das decisões tomadas tem de ser feito pelos resultados a prazo, os que contam para a História. É a História que se está construindo. Primeiro, em termos macro – são os índices de crescimento económico. Deste ponto de vista, Angola vai muito bem. Mais tarde, atingido certo nível, há que avaliar, pelos critérios locais, a disseminação de melhorias a toda a população. É ainda cedo.
Naturalmente que alguns recursos, pela sua dimensão e valor estratégico, ficaram no controlo do governo – é o caso da Sonangol. Será também o da exploração das bauxites a norte que, se se fizer, pela dependência da energia, envolverá a construção de uma megabarragem binacional no Zaire. Lembro ainda uma região maior do que a Califórnia, com óptimas condições edafoclimáticas (compreende o colonato da Cela) para ser reconvertida à agricultura moderna altamente produtiva, um futuro pólo de crescimento e transformação social. Também carecerá de intervenção do Estado. E haverá outros projectos de dimensão fora da medida dos grupos privados. Mas só esses.
(1). Até a ideia de uma universidade em Luanda, acarinhada pelo Prof. Adriano Moreira quando ministro do Ultramar, foi travada em Lisboa pelo presidente do Conselho logo que dela tomou conhecimento.
*Economista, ex-presidente do IPE
Comentários:
Rui Santos [Leitor não registado] 23
Julho 2012 - 23:46
Ouve-se cada uma
Ouve-se cada uma
Angola é um dos Paises mais corruptos do mundo.
Modelo de sucesso?? Vai pra là e diverte-te. Nem democracia, nem segurança, nem
comida na mesa. Quando se acabar o petroleo acaba-se o sucesso.
Quanto è que pagaram para escreveres o texto?
Quanto è que pagaram para escreveres o texto?
Anonimo [Leitor não registado] 24 Julho
2012 - 17:20
Lamentável!
Lamentável!
Tanta hipocrisia, este Sr. no mínimo, devia
calar-se porque bajuladores para os ditadores do mpla não falta, incluíndo a
maioria da comunidade internacional
tinytino [Leitor não registado] 24 Julho
2012 - 17:18
E vergonha na cara?
E vergonha na cara?
Que ganhas tu com esta "epopeia" ao
grande herói Eduardo dos Santos, que construiu um país contra tudo e contra
todos? Uma alcateia de hienas corruptas que mantém o povo angolano tão ou mais
privado do desenvolvimento humano e social do que os colonialistas portugueses?
ernandes barata [Leitor não registado]
24 Julho 2012 - 17:07
Angola já é um modelo...
Angola já é um modelo...
...de sucesso! De quem? Do Zé (macaco) dos Santos,
da Família dele e dos seu Sabujos!?!?. Pois é claro que sim! Eles têm de tudo e
não ajudam ninguém.
A arte do "bicho" está refinada, cada vez caiem mais COMISSÕES nos seus bolsos.Deveria já estar a fazer companhia ao seu companheiro Sabimbi Pretão. Lá "em baixo" é que eles estão bem, sem fazerem "trampa" nem "ondas".
A arte do "bicho" está refinada, cada vez caiem mais COMISSÕES nos seus bolsos.Deveria já estar a fazer companhia ao seu companheiro Sabimbi Pretão. Lá "em baixo" é que eles estão bem, sem fazerem "trampa" nem "ondas".
Anonimo [Leitor não registado] 24 Julho
2012 - 15:41
Rainha Ginga...
Rainha Ginga...
Que belo modelo!
Já experimentou andar a pé (sozinho e sem guarda costas)na Av. Principal de Luanda, alí bem perto da Rainha Ginga????
Penso que é 'caucasiano'!....
Não queira arriscar...
Já experimentou andar a pé (sozinho e sem guarda costas)na Av. Principal de Luanda, alí bem perto da Rainha Ginga????
Penso que é 'caucasiano'!....
Não queira arriscar...
olada [Leitor não registado] 24 Julho
2012 - 15:21
modelos
modelos
O departamento de justiça norte americano congelou
as contas da embaixada de Angola por suspeitas de branqueamento de capitais.
Um membro ca clique de Angola está sob investigação por branqueamento de capitias, nomeadamente através da compra de 6 apartamentos de luxo em Cascais...
Angola tão rica e os angolanos a viverem como bichos, pior do que no tempo das colónias...
Que belo modelo, sim senhor...
Um membro ca clique de Angola está sob investigação por branqueamento de capitias, nomeadamente através da compra de 6 apartamentos de luxo em Cascais...
Angola tão rica e os angolanos a viverem como bichos, pior do que no tempo das colónias...
Que belo modelo, sim senhor...
Scotland [Leitor não registado] 24 Julho
2012 - 14:47
angola
angola
A QUEM QUERES ENGANAR OH AMIGO??? SE A UNIÃO
EUROPEIA FOSSE UMA INSTITUIÇÃO DECENTE CORTAVA RELAÇÕES COM ANGOLA, ENTRE
OUTROS. DITADURA, REPRESSÃO, CORRUPÇÃO, EXPLORAÇÃO DE SERES HUMANOS,
DESRESPEITO PELOS SERES HUMANOS, ARROGANCIA ETC. É ESTE O MODELO DE SUCESSO QUE
SÓ SERVE PARA OS CORRUPTOS.
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