Em Dezembro passado, os repórteres de
serviço da Rádio Nacional e da Televisão Pública de Angola quase ficaram
afónicos depois de estridentes gritarias a louvar mais uma realização do
Governo.
A gritaria daquele dia deveu-se ao suposto início
da asfaltagem da estrada que liga a cidade de Malange aos municípios de Kiwaba
Nzoji e Cahombo, antigo Belo Horizonte, a nordeste da província. De acordo com
a propaganda oficial, a colocação do tapete asfáltico, no troço de 107
kilómetros, consumiria exactos 8 meses. Isto é, a nova estrada seria inaugurada
em Agosto, no mês em que o Presidente da República, José Eduardo dos Santos,
faz anos, de modo a que a nova realização lhe fosse associada como mais uma
generosidade sua para com os angolanos.
Mas algo deve ter corrido mal. A poucos
dias de Agosto, não há o mais pequeno indício de que aquele troço possa estar
asfaltado nos próximos seis meses. Na realidade, as obras, no referido
troço, iniciaram-se há dois anos. Em Dezembro passado, o governo procurou
apenas fazer publicidade com um projecto, no âmbito da reconstrução nacional,
que já corria mal, por falta de outros a nível local.
Desde então, tudo continua na mesma. Homens,
escavadoras e outras máquinas repetem-se no mesmo trabalho de remover areias.
Pode dizer-se, com toda a segurança, que aquele troço tornou-se num dos mais
sérios túmulos de dinheiro público. Para os mais optimistas a recente
colocação de uma placa com a identificação da empreiteira responsável pela
obra, a Atra, talvez sugira alguma luz no fundo do túnel.
Mas uma coisa é já certa: em Agosto ali
não haverá corte de fita para ninguém. Não haverá asfalto nenhum a inaugurar e
consequentemente a debitar na conta da generosidade do camarada Presidente.
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