Nos últimos anos, o novo-riquismo angolano
tornou-se lendário em Portugal. Dirigentes angolanos, suas famílias e
associados de negócios têm estado a adquirir, nesta parte da península ibérica,
alguns dos principais símbolos da opulência local.
Caso paradigmático é o do complexo
residencial de luxo Estoril Sol Residence, que comporta três edifícios de uma
arquitectura singular e controversa, em Estoril, na orla marítima de Lisboa. O
complexo tem dos apartamentos mais caros de Portugal, que variam do milhão a
cerca de cinco milhões de euros por unidade. O complexo é bem conhecido como o
“prédio dos angolanos”, por serem estes os principais clientes do referido
projecto imobiliário, inaugurado há dois anos, com a titularidade de perto de
30 apartamentos.
Numa breve investigação, Maka Angola
apurou quem são os ricos angolanos com propriedades no Estoril Sol Residence.
O actual ministro da Administração Pública,
Emprego e Segurança Social, António Domingos Pitra Costa Neto, é dono de cinco
apartamentos na Torre Baía, no 3º, 5º, 7º, 9º e 14º andares, estando os
primeiros quatro em nome da sua filha Katila Pitra da Costa, estudante. Pitra
Neto deverá ser o próximo presidente da Assembleia Nacional, depois das
eleições de 31 de Agosto próximo, conforme cogitações emanadas da presidência
de José Eduardo dos Santos.
Tanto no 9º como no 14º andar, o ministro
Pitra Neto tem como vizinhos o casal Kopelipa. Fátima Geovetty, a esposa do
ministro de Estado e chefe da Casa Militar, general Manuel Hélder Vieira Dias
“Kopelipa”, adquiriu dois apartamentos. O fiel escudeiro do general Kopelipa
nos seus negócios privados, Domingos Manuel Inglês, fica a meio, no 12º andar.
Na torre ao lado, Cascais, o principal gestor de negócios um tanto obscuros do
general, o português Ismênio Coelho Macedo, desfruta da grande vista para o
mar, com um apartamento no 4º andar.
Outro comprador extraordinário é o
ex-ministro das Finanças, José Pedro de Morais, com quatro apartamentos, também
na Torre Baía, no 1º, 2º, 4º e 5º pisos.
Por sua vez, o brasileiro Valdomiro Minoro
Dondo, também portador de nacionalidade angolana, tem um apartamento no 11º
andar da Torre Estoril. Valdomiro Minoro Dondo tem cruzado negócios com o
general Kopelipa, José Pedro de Morais, Pitra Neto, a família presidencial e
outros influentes membros do regime. A sua formidável capacidade para o tráfico
de influências conferiu-lhe o interessante título de “estrangeiro mais rico de
Angola”. Por sua vez, outro brasileiro, associado a Minoro Dondo e a dirigentes
angolanos, Gerson António de Sousa Nascimento é dono de um duplex, na Torre
Estoril, no 6º e 7º andares.
O sócio e representante legal de alguns
negócios de Welwitchia “Tchizé” dos Santos, Walter Virgínio Rodrigues,
demonstrou que os negócios lhe têm corrido de feição e comprou um apartmento no
8º andar da Torre Estoril. Como celebração do contrato multimilionário
realizado entre o Ministério da Comunicação Social e a empresa Westside Investments
para a gestão privada do Canal 2 da Televisão Pública de Angola (TPA), a sócia
maioritária, “Tchizé” dos Santos, agraciou-o com um bónus de US $500 mil,
enquanto a filha do presidente atribuiu-se, a si própria, com fundos do erário
público, um prémio de um milhão e meio de dólares.
Outro angolano que faz parte do selecto
grupo de proprietários do Estoril Sol Residence é o antigo director da Endiama,
Noé Baltazar.
Apesar dos preços, os angolanos, regra geral,
compram vários apartamentos, de forma ostensiva. Algumas das aquisições
levantaram suspeitas junto das autoridades judiciais portuguesas que, para o
efeito, abriram inquéritos. Um dos inquiridos, por suspeita de branqueamento de
capitais, foi o presidente do Banco Espírito Santo Angola (BESA), Álvaro
Sobrinho. A 2 de Setembro de 2010, Álvaro Sobrinho adquiriu seis apartamentos
no referido complexo tendo inicialmente pago o valor de 9.5 milhões de euros,
segundo investigações do Diário de Notícias. Os seus irmãos Sílvio e Emanuel
Madaleno também são detentores de mais três apartamentos no Estoril Sol.
Há ainda os angolanos que optaram por usar
testas de ferro mais discretos na aquisição de propriedades.
Entre o investimento legítimo e o
branqueamento de capitais, Portugal continua a ser o destino preferido dos
ricos angolanos e a sua melhor lavandaria financeira.
Todas as imagens © www.estorilsolresidence.com
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