A campanha eleitoral e a luta pela manutenção dos
cargos atingiu o seu ponto febril no passado fim de semana, na província do
Kwanza-Norte. Por ocasião da passagem do comboio, de Luanda a Malanje, o
governador local, Henrique André Júnior, desfez-se em adulações a José Eduardo
dos Santos, a quem alguns “históricos” do partido chamam mesmo de “guia imortal
adjunto”.
Na sua calorosa alocução, o governador começou por
dizer que “contra tudo e contra todos, Sua Excelência o Presidente da República
conseguiu colocar o comboio sobre os carris”. Henrique André Júnior não poderia
ter sido mais revelador, pois ninguém sabia que a “superior orientação” do
“camarada Presidente” para reabilitar a linha férrea merecera oposição interna
dos seus próprios camaradas.
Com os serviços secretos e a eficiente máquina de
propaganda dos órgãos de comunicação social do Estado ao serviço do “camarada
Presidente”, é estranho, para o público, que os “opositores” ao projecto de
reabilitação da linha de Caminho de Ferro de Luanda (CFL) jamais tivessem sido
“desmascarados” nas páginas do boletim oficial do governo de JES, o diário Jornal
de Angola.
Estranho também é a falta de menção, nos discursos
do próprio JES, aos supostos “contra-revolucionários” denunciados por Henrique
Júnior. JES chegou a insurgir-se contra as redes sociais, por estas
disseminarem informações sobre a sua alegada fortuna, tendo mesmo manifestado
profundo desprezo e insensibilidade para com o sofrimento de milhões de
angolanos ao afirmar que, quando nasceu, “já havia pobreza em Angola” e que,
por isso, não se sentia culpado pela indigência da maioria dos angolanos.
A bajulação do governador acabou por ser embaraçosa
para o “candidato natural” do MPLA e para o próprio partido no poder. Entre os
mais esclarecidos militantes do MPLA, Henrique Júnior foi motivo de compaixão
pelas asneiras proferidas e transmitidas, com destaque, no principal noticiário
da RNA, entre as quais se distingue a sua referência à majestosa obra
presidencial, apenas “comparada à francesa Torre Eiffel”.
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