Por Nelson Sul D’Angola
Os antigos agentes dos serviços secretos da
delegação provincial em Benguela do extinto Ministério da Segurança do Estado
(MINSE), ameaçam realizar manifestações antes das eleições de 31 de Agosto,
para exigir o pagamento de pensões. Por força dos Acordos de Paz de Bicesse, em
1991, entre o governo do MPLA e a rebelião da UNITA, o governo desmobilizou
grande parte dos efectivos da segurança em Benguela. Das várias reivindicações,
os antigos oficias da actual delegação dos Serviços de Inteligência e Segurança
de Estado (SINSE) exigem a sua integração na Caixa Social das Forças Armadas
Angolanas (FAA).
Para além do descontentamento dos antigos agentes, Maka
Angola soube, de fonte fidedigna, que membros do aparelho de
segurança no activo, em Benguela, deverão também apresentar as suas reivindicações
ao governo, no período de campanha eleitoral.
Nas últimas semanas, segundo informações recolhidas
por Maka Angola, ter-se-á instalado um clima de mal-estar na delegação
provincial do SINSE, devido a uma alegada discriminação na distribuição de
regalias aos oficias operativos em prejuízo dos operativos de base (o chamado
“pessoal do giro”). As fontes do Maka Angola dizem que os referidos
privilégios atribuídos aos oficias operativos (como é o caso dos chefes de
departamentos, de secção e seus adjuntos) incluem a aquisição de créditos
bancários fáceis por via do Banco Angolano de Investimentos (BAI), enquanto a
maior parte do operativos de base vive em condições degradantes, sem casa
própria nem transporte.
Um outro grupo, tido como o mais privilegiado nos
serviços de inteligência é o das agentes secretas. Operativos experientes
reclamam que muitas delas são inexperientes e, regra geral, são usadas para
“observação visual” e como amantes de indivíduos sob particular atenção ou
investigação do SINSE.
As “meninas da secreta”, segundo os seus
detractores, têm direito a casas, carros de luxo, créditos bancários fáceis,
viagens ao exterior do país e bolsas de estudos em função de atributos que
pouco ou nada têm a ver com a competência profissional ou tempo de serviço.
«É esse o país que nós estamos a construir. Os que
trabalham duro recebem salário de miséria, enquanto os que passam a vida a
‘arranjar as unhas’ auferem ordenados milionários”, disse irónico, uma das
fontes do Maka Angola. A referida fonte nota ainda o agravamento das
desigualdades e a crescente tensão nos corredores do SINSE em Benguela.
O Poder do SINSE
Os serviços de inteligência têm causado grandes
temores na sociedade angolana, projectando uma imagem de omnipresença até na
intimidade dos cidadãos. O regime dedica especial atenção a este sector, como
vital para a sua manutenção no poder, mas as tensões internas mostram um
serviço com as mesmas disfunções do sector público do Estado.
Por isso, desde o dia 5 de Março de 2011, o regime
angolano do Presidente José Eduardo dos Santos não dorme tranquilamente. As
causas dessas insónias, em princípio, têm um nome: Agostinho Jonas Roberto dos
Santos. Um nome imanado dos líderes fundadores da UNITA, da FNLA, do actual
presidente do MPLA e da república e do seu antecessor nos respectivos cargos.
A “brincadeira” do anónimo Agostinho Jonas Roberto
dos Santos (AJRS) não chegou a ser concretizada e o MPLA demostrou que estava
preparado para “matar” qualquer um que pusesse em causa a sua manutenção no
poder e a de José Eduardo dos Santos. Desde a convocação da manifestação para o
7 de Março de 2011, através das redes sociais, para o derrube do
regime do Presidente José Eduardo dos Santos, a governação do MPLA deixou de
ser a mesma e mais cidadãos empenharam-se em participar, de forma mais
activa, na vida política do país.
Entretanto, passados 17 meses, até ao momento, nem
mesmo o SINSE conseguiram identificar a verdadeira identidade de AJRS. Usando
das novas ferramentas tecnológicas, como é caso do Facebook, o anônimo cidadão
causou grande pânico nas hostes do regime que derrotou um gigante bem armado,
como é caso de Jonas Savimbi, da UNITA.
O misterioso Agostinho Jonas Roberto dos Santos
conserva o mérito de ter sido o mobilizador das dezenas de jovens que, desde o
ano passado, se têm notabilizado na promoção de manifestações
anti-governamentais. A estes protestos seguiram-se manifestações por parte de
veteranos de guerra, exigindo os subsídios que lhes são devidos, em muitos
casos, há 20 anos.
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