Por Maka
Angola
Por Alexandre Neto:
Sete helicópteros, forças militares,
policiais e de segurança, estimadas em mais de 500 efectivos, tomaram parte
numa operação de demolições do bairro residencial Mayombe, no município de
Cacuaco, em Luanda, a 1 de Fevereiro passado.
De acordo com os relatos dos moradores, o
dispositivo militar e policial destacado no local de madrugada surpreendeu e
causou pânico às populações locais. “Por volta das 5h00 da manhã, os bulldozers
começaram o seu trabalho de desalojamento de mais de 5,000 pessoas”, afirmou
Mateus Virgílio Mukito, um dos moradores.
Por sua vez, Pedro Sebastião, outro
desalojado, disse ao Maka Angola que duas crianças morreram no
acto. “Elas fugiam dos helicópteros assustadas e acabaram por cair numa vala de
drenagem”. Esta informação foi corroborada por outros moradores. Segundo o
interlocutor, devido ao pânico que se instalou na comunidade, nem sequer foi
possível a realização do óbito no local. “Os corpos foram resgatados por uma
equipa de bombeiros e transportados para a casa-mortuária, onde os familiares
foram resgatá-los e fizeram o óbito num dos bairros periféricos de Luanda”,
disse Pedro Sebastião.
O morador Paulo Miranda contou ao Maka
Angola que “os helicópteros voavam a poucos metros de altitude”.
As demolições prosseguiram no dia seguinte,
na presença de uma força mais reduzida, que incluía dois helicópteros, 15
carrinhas policiais, oito veículos da Polícia de Intervenção Rápida e quatro
viaturas das Forças Armadas Angolanas (FAA).
“Isso é terrorismo de Estado. Desalojam as
pessoas, de forma desumana, porque os indivíduos que estão no poder querem
vender os terrenos aos milionários e aos estrangeiros”, lamentou Mateus
Virgílio Mukito, um outro morador que ficou sem tecto.
No local, o cenário é desolador. Centenas de
moradores mantêm-se nos escombros do que eram as suas habitações.
Vários moradores aceitaram ser transportados
em camiões basculantes, com alguns dos seus haveres, para a Kaope-Funda, numa
área de valas e relevo irregular, sem qualquer tipo de construção ou
infra-estruturas básicas. Nos últimos dias, as autoridades têm abandonado
milhares de desalojados do bairro Mayombe nessa zona, criando uma situação de
potencial desastre humanitário.
Teresa Paulina repousava nos escombros, com
uma chapa a cobri-la e ao seu recém-nascido do sol. Deu à luz ali mesmo, nos
escombros. Não tinha palavras para descrever a situação em que se encontrava.
Pouco mais disse, para além do seu nome. Os moradores confirmaram mais dois
partos ocorridos durante as demolições, sem que as autoridades tivessem
manifestado qualquer compaixão ou preocupação em evacuar as parturientes ou
prestar-lhes alguma assistência no local.
O responsável da ONG SOS Habitat, Rafael
Morais, que se fez presente ao local, abordou a administradora municipal de
Cacuaco, Rosa Janota Dias dos Santos, sobre as demolições. “Ela
[administradora] respondeu de forma arrogante, tendo afirmado que ‘se a SOS
Habitat trouxe casas para distribuir, então estamos [o governo] prontos a
ajudar a distribui-las’. Se fosse apenas para fazer perguntas então que
deixássemos o governo organizar as populações”, disse.
Maka Angola não teve sucesso na sua tentativa de abordagem das
autoridades locais.
O desespero e a desolação dos moradores do
bairro Mayombe:
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