A
organização não governamental Berne Declaration publicou um relatório sobre as
atividades da multinacional suíça Trafigura no setor petrolífero angolano, no
qual discute os limites entre interesses públicos e privados.
Após
denúncias feitas em janeiro passado no blog Maka Angola, do ativista angolano
Rafael Marques, os negócios da empresa suíça Trafigura são mais uma vez alvo de
questionamentos. Desta vez, Angola chamou a atenção da Berne Declaration, que
trabalha em prol de relações norte-sul justas. “Angola viveu um enorme
crescimento na última década, mas em termos de desenvolvimento humano, não
houve progresso algum. A pobreza ainda é muito elevada e acreditamos que a
corrupção contribua muito para isso”, explica o investigador Marc Guéniat.
A ONG suíça
investigou as atividades da multinacional suíça Trafigura em Angola. A empresa
entrou no mercado angolano ao associar-se a parceiros locais ligados ao
governo, lê-se num relatório da Berne Declaration, publicado no início deste
mês. A Trafigura aproximou-se do general angolano Leopoldino Fragoso do
Nascimento, mais conhecido como “Dino”, que é diretor da empresa Cochan,
parceira da Trafigura. “Esse general é um conselheiro sénior da presidência.
Ele é extremamente próximo do presidente José Eduardo dos Santos. E é muito
difícil acreditar que tenha atuado sem o consentimento do próprio presidente”,
conta o investigador da ONG.
O general
assumiu a diretoria da Cochan em 2010. Na época, ainda era chefe de comunicações
da presidência. Guéniat questiona se Dino atua como oficial sénior, pelo bem de
Angola, ou como investidor privado. O oficial também está a ser investigado em
Portugal e nos Estados Unidos pela participação outros negócios, segundo o
investigador.
“Privatização
do poder” em Angola
“O caso da
Trafigura em Angola é apenas mais um mostrando a 'privatização do poder'”,
refere o pesquisador, citando um termo usado por Ricardo Soares de Oliveira,
professor da Universidade de Oxford e especialista em Angola.
A parceria
entre a Trafigura e a Cochan deu origem ao grupo DTS Holdings, com base em
Singapura. O grupo opera um contrato de permuta. A Trafigura recebe petróleo
bruto de Angola e, em troca, devolve derivados de petróleo para o consumo
doméstico angolano. “Para a Trafigura é um contrato enorme. São 3,3 mil milhões
de dólares só para a permuta. E o volume de negócios da empresa foi de mais de
6 mil milhões de dólares no ano passado. Para os oficias seniores é uma maneira
de controlar o negócio e, é claro, de enriquecer”, afirma Guéniat.
Em Angola,
uma subsidiária da suíça Trafigura, a Puma Energy, também é parceira da Cochan.
A parceria deu origem a empresa Pumangol. O endereço da Cochan em Angola é o
mesmo que o de outras 40 empresas pertencentes a um trio de oficiais, entre os
quais o general Dino.
“Quem quiser
fazer negócios em Angola, tem de estabelecer parcerias com oficiais seniores. E
esses oficiais enriquecem cada vez mais. E eles não repassam esse dinheiro para
o povo angolano”, critica o investigador.
Mais
regulação, menos corrupção
Para Marc
Guéniat, é necessário mais regulação e transparência para reduzir a corrupção
no país. Após investigar os negócios da Trafigura em Angola, a Berne
Declaration entrou em contato com a empresa. “Enviamos-lhes uma lista de 12
perguntas e demos-lhes 24 horas. Ele ligaram-nos e disseram que não queriam
responder às nossas perguntas”, conta.
A DW África
também tentou contatar a Trafigura, que disse não ter nenhuma declaração a
fazer sobre o relatório.
Autora: Luisa
Frey
Edição:
Madalena Sampaio/António Rocha
DW
http://www.angola24horas.com
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