quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Luanda. Sobrevivente da família Araújo no ciclismo continua a pedalar



Carlos Araújo, ou simplesmente Cecé, 45 anos, actual treinador da equipa principal de Ciclismo do Benfica de Luanda e Coordenador do Conselho técnico da Associação provincial de Ciclismo de Luanda (APCIL), é naturalmente uma das figuras incontornáveis quando se fala de pedais em Angola.Carlos Araújo é dos ciclistas angolanos de quem podemos afirmar que tiveram uma experiência de relativo sucesso no ciclismo profissional no exterior do País nos anos 80, quando a par de exercer actividade empresarial, representou as cores da Sicasal Acral, de Portugal.O ex-ciclista fez de igual modo parte do corpo técnico da selecção nacional entre 1993 e 1999, quando disputou os primeiros Jogos Pan-Africanos de Harare. Em 1999 voltou a estar integrado na selecção angolana para os Jogos Pan-Africanos de Joanesburgo, sempre com a dupla função de treinador/ciclista.

Cecé é da geração de ciclistas a seguir à de Justiniano Araújo (Juti), seu irmão, que detém o recorde de títulos nos Campeonatos Nacionais e teve uma experiência efémera no ciclismo português. Teve ainda como contemporâneos Amadeu Paiva, outro dos ciclistas que chegaram a emigrar para a França, onde não teve grande sucesso, Luís Amaro, Mário Guerra, Filipe de Carvalho, entre outros, que já se retiraram do activo. Araújo está no ciclismo desde os 13 anos e concilia a sua actividade desportiva com a de empresário no ramo das construções e acessórios afins em Luanda, Benguela e um pouco por todo o País. Carlos Araújo já treinou a equipa da Socotec, dos Persistentes, da Casa de Câmbios, NDS, todas extintas. O ex-ciclista passou também pela “Casa Cainda/Benfica”, que depois passou a ser chamada “Benfica/Cimex”, e agora é o actual Sport Luanda e Benfica. No activo, como ciclista tem vencido algumas provas desde 1998 até agora. “Já perdi a conta das provas e dos troféus que ergui,  porque são muitos. Algumas Taças foram desaparecendo por constantes trocas de residência.  Os troféus que eu ganhei quando era mais novo, por viver em casa do meu pai naquela época, pertencem a ele”, recorda-se com nostalgia o desportista polivalente.

Venci uma prova
com bicicleta  emprestada”


Carlos Araújo disse que a corrida que marcou a sua carreira foi um circuito fechado, organizado pela primeira vez pela empresa Maboque & Filhos em Luanda, em que não era o potencial favorito, porque a sua bicicleta não estava em perfeitas condições. “Naquela altura, todos os ciclistas viam em mim o alvo a abater, até que chegou uma altura em que a minha bicicleta avariou. Então, estando em dificuldades um dos ciclistas que naquele meio era um dos candidatos à vitória, passou-me a sua bicicleta para terminar, acabando por vencer a prova no sprint final, o originou mal-estar em todos os outros ciclistas”, contou.Carlos Araújo diz que o Benfica de Luanda, onde ainda compete e treina a equipa principal de ciclismo, é o clube que domina actualmente a modalidade em Angola.

“Até ao momento foram realizados 23 Campeonatos Nacionais e o ciclista que mais títulos ganhou foi Justiniano Araújo (Juti), que ostenta 13 títulos.Juti faz actualmente ciclismo de manutenção, dedicando-se  mais ao empresariado, organizando de vez em quando algumas provas de ciclismo.”  “No meu caso, estou neste momento com 11 títulos, na segunda posição, vindo depois Igor Silva, com dez troféus.”“Colectivamente, a equipa com mais troféus é o Benfica, com 10 títulos. Ganhou seis troféus quando se chamava “Benfica/Cimex”, dois títulos como “Benfica/Casa Caianda” e outros tantos na actual versão”, acrescentou.

DESAFIO
Participação condigna na Volta ao Algarve


Carlos Araújo, depois de ter estado na origem da retumbante vitória do Benfica de Luanda e de Angola na III edição da Volta do Cacau (São Tomé e Príncipe), tendo depois vencido o Campeonato Nacional de Ciclismo de Estrada em 2012, tanto na categoria de juniores, através de Mário de Carvalho como de seniores, com o concurso do benguelense Igor Silva, filho mais novo do veterano Alberto Silva “Pepino”, está agora envolvido no grande desafio de participar com os seus pupilos na Volta ao Algarve, que abre o calendário das provas internacionais europeias entre 14 e 17 de Fevereiro.“Para o desafio que se avizinha, o Benfica teve que fazer uma interrupção no defeso da época desportiva e em Dezembro do ano passado começámos a pré-época desportiva, que vai até Fevereiro. Depois é que começam as fases, tendo em conta os objectivos traçados.” 
      
“Com o convite para a Volta ao Algarve, que reconheço ser uma das maiores provas da Europa, com cinco dias de intensa competição, onde participam todas as equipas portuguesas, inclusive as que correm no Tour de França, e as melhores equipas de Espanha, teremos oportunidade de estar na montra do mundo para mostrar o que realmente valemos”, revelou. O treinador afirma que “para a Volta ao Algarve o Benfica pretende levar cinco ciclistas efectivos e reforçar a equipa com mais três. Os reforços, oriundos de outras equipas de Luanda, como a Escola David Ricardo, e do Misto de Benguela, já estão connosco e vão agora depender do seu rendimento no seio do grupo de 11 corredores, entre eles, o campeão nacional, Igor Silva, e o vice-campeão, Walter Silva, ambos de Benguela”.  “O nosso principal objectivo nesta competição passa por acompanharmos os melhores ciclistas do mundo que estarão à frente do pelotão e terminar a Volta ao Algarve sem dificuldades”, concluiu.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Jornal dos Desportos: O Benfica tem apoio da Federação Angolana de Ciclismo (FACI) para a Volta ao Algarve?
Carlos Araújo: Sim. A FACI tem ajudado com materiais para a reposição das bicicletas avariadas do Benfica. Para a Volta ao Algarve devemos assinar um protocolo para que o órgão reitor da modalidade nos ceda três ou quatro bicicletas de contra-relógio, que foram utilizadas nos últimos Jogos Pan-Africanos e que são aquelas com que contamos para melhorar a nossa prestação naquela competição.

Quais os outros compromissos do Benfica a nível do continente?
Como treinador já apresentei uma proposta à direcção para que o clube esteja presente em algumas provas continentais, pelo que vamos aguardar que o veredicto nos seja favorável.

Na sua opinião como está o Ciclismo em Angola?
Nestes dois últimos anos, 2010/2011/ 2012, conseguiu-se dar outra dinâmica ao ciclismo um pouco por toda a parte. O reaparecimento do Benfica de Luanda ajudou sobremaneira a competitividade. Neste momento, tanto a Federação como a Associação de Luanda acabaram por perceber que realmente é um parceiro que está para ajudar.

POR DENTRO

Nome completo: Carlos César Araújo
Idade e Data de Nascimento: 30 de Maio de 1967, no Município do Cazengo (Kwanza-Norte)
Filiação: Leonel António de Araújo e Alzira Mendes da Silva Araújo
Estado Civil: Solteiro (vivo maritalmente)
Filhos: 6
Desporto Favorito: Ciclismo
Filmes: Comédia
Música: Semba e Salsa
Cidade preferida: Luanda
Prato preferido: Funge de carne seca
Peso: 78 kg
Altura: 1,70 m
Virtude: As pessoas consideram-me uma pessoa simples e humilde
Defeito: Teimoso
Cecé, 45 anos, actual treinador da equipa principal de Ciclismo do Benfica de Luand
Fotografia: Jornal dos Desportos

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