Luanda - Recuperando uma recente estratégia do Irão,
denunciada pelo jornal britânico The Guardian, as autoridades do regime
angolano/MPLA/JES estudam nesta altura a possibilidade de criar blogues e
jornais on-line fictícios para intimidar e descredibilizar intelectuais e
jornalistas que, a partir do estrangeiro, denunciam as arbitrariedades das
autoridades de Luanda.
Fonte:
Folha8
Tal como no Irão,
especialistas informáticos brasileiros, portugueses e angolanos, obviamente
contratados pelo regime de Luanda, estão preparar a colocação de notícias
falsas em páginas na Internet, em falsos blogues, bem como a inventar contas na
rede social Facebook, de modo a espalhar falsas informações sobre a vida desses
opositores, bem como das suas famílias, criando um clima de descredibilização e
de medo.
Importa, por isso,
reter o que está a fazer o Irão porque a todo o momento a Internet vai aparecer
com a mesma metodologia mas com um novo protagonista – Angola. Em Portugal,
fontes ligadas aos opositores (estes são todos aqueles que não alinham com o
MPLA), sobretudo no meio académico e do jornalismo, falam já de “sérios
indícios”, considerando que muitos jornalistas “não podem escrever nos seus
órgãos de trabalho o que se passa em Angola, mas como o fazem noutras
plataformas, passaram a ser o alvo principal da nova estratégia difamatória e
intimidatória de Luanda”.
Na impossibilidade
de controlarem a Internet, os mais ortodoxos do regime angolano apostam forte
nessa tentativa de massificar a difamação e a intimidação, antevendo que
acabarão por silenciar os seus opositores.
Se até nas
democracias mais ou menos consolidadas cresce a apetência pelo controlo da
comunicação, então nos regimes autoritários essa estratégia assume contornos
assustadores para a liberdade.
Ainda recentemente
os jornalistas de um dos mais conhecidos semanários chineses, o Nanfang Zhoumo,
de Cantão, fizeram greve, num invulgar e provavelmente suicida protesto contra
a intervenção das autoridades na sua linha editorial.
"É a primeira
vez em mais de duas décadas que o departamento editorial de um grande jornal da
China promove abertamente uma greve contra a censura governamental",
salienta o South China Morning Post de Hong Kong.
Cantão é a capital
da província de Guangdong, uma das mais prósperas da China, situada na costa
sul do país, que confina com Macau e Hong Kong.
Sem perder de
vista o que se passa com os nossos órgãos oficiais do regime, atente-se que os
jornalistas do Nanfang Zhoumo acusaram o director do departamento de propaganda
de Guangdong, Tuo Zhen, de ter alterado o editorial de ano novo do semanário.
E, por mero acaso
– é óbvio, a alteração transformou um apelo a favor do
"constitucionalismo" e de reformas políticas num tributo ao papel
dirigente do Partido Comunista.
Entretanto,
milhares de intelectuais, jornalistas e internautas assinaram uma petição
contra a censura e 27 académicos do continente, Hong Kong e Taiwan, entre os
quais destacados juristas e economistas, apelaram à demissão de Tuo Zhen, o tal
director do departamento de… propaganda.
Tal como em
Angola, de acordo com a Constituição chinesa, "os cidadãos da República
Popular da China têm direito à liberdade de expressão, de imprensa, reunião, associação
e manifestação".
Como se todo este
cenário já não fosse assustador, registe-se que o número de jornalistas presos
a nível mundial atingiu em 2012 um recorde, num total de 232 repórteres
atrás das grades, segundo o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ). Ou
seja, mais 53 do que em 2011 e o valor mais elevado desde que a organização
começou a realizar a contagem, há 22 anos.
Os três países com
maior número de jornalistas presos são a Turquia com 49 detidos, o Irão com 45
e a China, onde 32 repórteres se encontram na cadeia.
“Estamos a viver
numa era em que as acusações de se ser contra o Estado e o rótulo de
‘terrorista’ se tornaram nos meios preferidos dos governos para intimidar,
deter e prender jornalistas”, afirma o director executivo do CPJ, Joel Simon.
Para o dirigente
da organização, “criminalizar a cobertura de tópicos inconvenientes viola, não
apenas a lei internacional, mas impede os direitos dos povos do mundo de
reunirem, disseminarem e receberem informação independente”.
Veja-se o cenário
vivido na Turquia não parece o que temos à porta de casa. No país que conta com
o maior número de jornalistas na prisão, as autoridades mantêm detidos “dezenas
de repórteres curdos e editores sob acusações ligadas a terrorismo e outros
jornalistas por alegadamente conspirarem contra o Governo”.
O editor da
televisão turca Kanal D, Mehmet Ali Birand, afirmou, citado pelo CPJ, que os
estatutos legais naquele país “não distinguem entre jornalistas que fazem uso
da liberdade de expressão e indivíduos que apoiam terrorismo”, apelidando as
leis anti-Estado de “uma doença nacional”.
Já o Irão, segundo
a organização sediada nos EUA, prossegue a repressão iniciada depois das
eleições presidenciais de 2009.
Por seu lado, na
China, 19 dos 32 jornalistas presos são tibetanos ou uigures, na cadeia por
documentarem as revoltas iniciadas em 2008 naquelas regiões.
Ainda assim, a
Eritreia é classificada como o maior violador de procedimentos devidos, com 28
jornalistas detidos, sem que qualquer deles tenha sido acusado publicamente por
um crime ou levado a tribunal.
“Temos de lutar
contra governos que procuram cobrir as suas tácticas repressivas com a bandeira
do combate ao terrorismo. Devemos avançar com mudanças legislativas em países
onde o jornalismo crítico está a ser criminalizado e defender todos aqueles que
estão na prisão”, afirma Joel Simon, acrescentando que deve garantir-se que “a
Internet em si permanece uma plataforma aberta e global”.
O relatório do CPJ
realçou, ainda, que pela primeira vez desde 1996 nenhum jornalista da Birmânia
se encontrava preso, enquanto Cuba foi o único país das Américas a regressar à
lista.
Na frente
portuguesa, recorde-se que criticar o regime de José Eduardo dos Santos é
assinar a sentença de morte… profissional. Pelo menos esta.
Relembre-se que
uma crónica crítica em relação a Angola, do jornalista Pedro Rosa Mendes, levou
a RDP a acabar com o espaço de opinião "Este Tempo", da Antena 1.
O próprio
jornalista Pedro Rosa Mendes afirmou: “Foi-me dito que a próxima crónica seria
a última porque a administração da casa não tinha gostado da última crónica
sobre a RTP e Angola”.
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