Criticada
por opositores políticos e grupos de direitos humanos devido a suas finanças
obscuras e sua elite política riquíssima, a Angola criou recentemente um fundo
soberano para usar a receita com o petróleo a serviço dos pobres.
Embora a
iniciativa do presidente José Eduardo dos Santos tenha levado alguns
observadores a elogiar o novo fundo como um passo positivo, os críticos estão
reclamando de quem o presidente escolheu para ajudar a administrar o fundo: seu
filho de 35 anos.
Nos novos
escritórios do fundo aqui, dois andares com a maioria das mesas vazias num
edifício moderno e envidraçado, o filho do presidente, José Filomeno de Sousa
dos Santos, disse que o fundo terá um capital inicial de US$ 5 bilhões e
receberá mais US$ 3,5 bilhões por ano da receita com petróleo. Esses ativos
serão administrados por um conselho de três membros liderado por Armando
Manuel, assessor econômico do presidente.
Como o
membro do conselho responsável pela estratégia de investimento e a
administração da carteira, o jovem Santos disse que iria modernizar as mal
conservadas rodovias e infraestrutura de serviços do país, mas não antes de
buscar retornos robustos para os investimentos do fundo.
Esse
ex-banqueiro não quis discutir os primeiros investimentos da instituição,
dizendo que dependeria das prioridades estabelecidas pelo parlamento e por seu
pai, que governa Angola desde 1979.
"Acreditamos
que é essencial ser transparente sobre a administração deste fundo", disse
ele. "No fim do ano, as pessoas vão quer saber para onde foi cada
centavo."
Mas os
críticos dizem que o presidente já está minando a credibilidade do fundo ao
colocar seu próprio filho num posto chave. "Duvido que Angola não tenha
outra pessoa com competência técnica para administrar o fundo que não seja o
filho dele", disse Abel Chivukuvuku, líder do partido oposicionista
Casa-CE.
Em reposta
às críticas, Santos disse que sua formação em finanças e experiência com
financiamentos e administração de banco de investimento o qualificam para o
cargo.
Mais de uma
dezena de países africanos já criaram fundos soberanos para canalizar os lucros
das vendas de petróleo e minerais. Em democracias fortes, como Botsuana,
atribui-se aos fundos de investimento a formação de uma base para um futuro em
que os recursos podem escassear.
Em países
mais fracos, porém, os economistas dizem que os fundos soberanos são
prejudicados pela corrupção e a incompetência.
Metade dos
18 milhões de habitantes de Angola vive na pobreza, segundo o Banco Mundial.
Sua capital litorânea é pontilhada por favelas e o país ainda está se
recuperando de uma guerra civil que durou 30 anos e só acabou em 2002.
Angola
perdeu mais investimentos estrangeiros do que ganhou em cada um dos últimos
três anos, mesmo tendo um crescimento econômico anual de mais de 5%. Na
esperança de emitir títulos de dívida no mercado internacional e atrair
investidores de setores diferentes do petrolífero, Angola está ansiosa por ser
vista como um país cada vez mais democrático, transparente e estável.
Ainda assim,
imensas somas de dinheiro já deixaram o país africano desde as primeiras
descobertas de petróleo, no fim dos anos 60. A Integridade Financeira Global,
parte do Centro de Política Internacional, um centro de estudos, estima que mais
de US$ 35 bilhões tenham saído de Angola ilegalmente desde 1990, na forma de
suborno, contrabando de mercadorias e impostos não pagos.
A
Transparência Internacional, uma organização de combate à corrupção em Berlim,
classificou Angola na posição 157 entre os 176 países da sua pesquisa de 2012
sobre a percepção de corrupção de funcionários públicos.
O ministro
da Fazenda de Angola não respondeu a perguntas sobre esses dados.
Alguns
economistas estão aplaudindo Angola por ter criado um fundo que poderia aumentar
a transparência do governo. "Até o debate sobre isso é em si
positivo", disse Marcelo Giugale, economista do Banco Mundial para a
África. "Um fundo soberano é um sinal considerável de disciplina."
Santos disse
que não sabia por que seu pai o escolheu e que eles não discutiram a nomeação.
Eles se
encontram pelo menos semanalmente na ampla residência oficial do presidente
para assistir a um jogo de futebol e jantar em família. Santos disse que a
família só discute seus planos para o país em termos gerais.
"Sempre
entendemos que ele [seu pai] pode estar pensando mil coisas, mas ele nunca
chegou em casa e disse: 'Escuta, estamos planejando fazer isso ou
aquilo'", disse Santos. "Não temos este costume em casa."
Santos disse
que o novo fundo soberano tem o objetivo de diversificar a receita de Angola
além do petróleo e distribuir os benefícios para os pobres mais eficazmente.
A escolha da
Quantum Global Group como administradora dos ativos do fundo soberano irritou
os críticos do presidente devido às ligações pessoais da firma suíça com
Santos, o filho. O fundador e presidente do conselho consultor da Quantum é
Jean-Claude Bastos de Morais, um financista suíço-angolano e mentor de Santos.
Eles também são sócios, havendo montado, cinco anos atrás, um banco de investimento
em Luanda chamado Banco Kwanza Invest.
"Como o
fundo pode ser transparente quando escolhe uma empresa com essas
conexões?", disse Marcolino Moco, que já foi primeiro ministro e
confidente do presidente. Ele foi demitido em 1996 e se tornou um crítico do
que classifica como uma tendência do presidente para a ganância e a autocracia.
Santos e
Morais disseram que a Quantum teve o melhor desempenho possível administrando
os ativos de Angola no desenrolar da crise financeira. "Creio que a única
razão racional para termos sido escolhidos é a nossa experiência com o governo
[...] nosso histórico positivo", disse Morais.
Gareth
Fielding, diretor-presidente da Quantum para gestão de investimentos, disse que
a firma administra quase US$ 6 bilhões de menos de dez clientes.
Todos os
clientes são bancos centrais, fundos soberanos ou entidades similares,
principalmente dos países emergentes da Europa e da África, acrescentou ele.
Santos foi
criado na capital, Luanda, antes de se mudar, na adolescência, para a Suécia e
o Reino Unido, onde sua mãe trabalhou para embaixadas angolanas. Seu permaneceu
em Angola. Ele estudou na Universidade Americana de Londres e na de
Westminster, obtendo um diploma de mestre em finanças e gerência da informação.
Ele voltou a
Angola em 2001, indo trabalhar para uma empresa estatal e investindo numa
companhia de ônibus. Santos ainda possui uma participação de 40% no banco de
investimento que abriu com Morais, da Quantum.
The Wall Street
Journal Americas
ANGOLA24HORAS.COM
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