Houve um
período em que o Continente Africano esteve numa certa estranha acalmia
político-militar, só entrecortada com as crises da Costa do Marfim e, do já
rotineiro, Congo Democrático. Infelizmente, coisa de pouca duração. Desde que
emergiu a chamada Primavera Árabe que o Continente, em particular a
parte meridional, está em contínua convulsão. Foi – e é – a Líbia, é o Egipto
e, mais recentemente, o Mali.
Na Líbia,
como se previa, a queda de Kadhafi não seria sinónimo de paz e evolução
político-militar. A situação no país está entrar numa rotina de preocupantes
conflitos locais com os principais países ocidentais a mandarem sair os seus
cidadãos, nomeadamente, da “pátria” da revolta líbia, Benghazi, em parte
devido às ameaças dos grupos fundamentalistas
islâmicos do Norte de África, ditos aliados da al-Qaeda.
No Egipto
a oposição ao presidente islamita Morsi mantém o país sob um clima de forte
tensão devido, segundo aqueles, ao facto dos islamitas da Irmandade Islâmica
e de Morsi terem criado uma Constituição que fere os desejos libertadores
constitucionalistas dos “fundadores” da alforria da Praça Tahrir, ou seja,
igualdade entre os Povos e entre os Homens e as Mulheres.
Mas se
nestes dois países a situação é crítica, no Mali a conjuntura é de guerra
aberta entre uma certa legitimidade (não constitucional) e um déspota
terrorismo. E porquê uma legitimidade não constitucional e um terrorismo?
Recordemos a evolução.
O Mali, em
Março de 2012, foi alvo de um Coup d’État (Golpe de Estado) levado a efeito
por militares liderada pelo capitão Amadou Haya Sanogo (estranhamente e ao
contrário das directrizes da União Africana (UA), esta reconheceu o novo
Governo). Este golpe despoletou a crise subsequente levada a efeito por
tuaregues e aproveitada pelos islamitas pró-al-Qaeda.
Os
tuaregues liderados pelo Movimento Nacional para a Libertação d’ Azawad
(MNLA), um movimento laico que também agrupa islamitas não radicais defendeu
a separação autonómica do Norte do Mali (Azawad) no que foi aproveitado por
radicais islâmicos para declararem a secessão integral e respectiva
independência do território.
Só que os
independentistas não se ficaram pelo território secessionado. Quiseram
progredir para sul o que levou o presidente interino, Dioncounda Traoré, ao
abrigo da Resolução 2085 da ONU, sobre o Mali, solicitar ajuda à Comunidade
internacional, leia-se, à França e à UA.
Recorde-se
que Traoré ascendeu ao poder através de um novo Golpe contra Sanogo, evocando
a retomada da legitimidade constitucional. Nada mais erróneo dado que desde
2002 que o Mali era governado por golpistas.
A
aproximação dos golpistas terminou em Konna – na região de Mopti, que já
não faz parte de Azawad –, a cerca de 300 quilómetros a norte da capital,
Bamako, com a entrada na cena militar de forças francesas.
E aqui
volta a velha questão da franconização de África que o presidente francês
Hollande disse ter terminado.
É certo que
a “Operação “Serval”, assim definida pelas forças franco-malianas, visa,
unicamente, a restauração do domínio maliano sob todo o país. É certo que
esta operação militar tem o apoio da UA e estará enquadrado pelo apoio das
forças africanas da Afisma, (força africana de cerca de 3470 soldados da
CEDEAO) que os malianos – e os franceses – continuam a aguardar pela sua
chegada ao teatro das operações.
É certo,
igualmente, que quando terminar a operação militar haverá que consolidar o
poder legislativo do Mali sobre Azawad onde os moderados desejam manter uma
certa autonomia atestada pelo facto da UA estar a aceitar a secessão de
alguns Estados recordemos Etiópia-Eritreia e o Sudão).
Mas o
problema estará não na estabilidade política do Mali mas de toda uma região
onde os islamitas radicais procuram fomentar o desenvolvimento de
movimentações pró-Sharia (Lei Islâmica), nomeadamente em Marrocos, Argélia,
Líbia e Egipto.
Porque uma
Azawad independente poderia shatterilizar toda a região houve a
intervenção militar francesa. Não esqueçamos que apesar do eventual fim da franconização
de África há sempre na mente dos líderes a máxima que os “Estados não têm
amigos nem inimigos mas interesses a defender” e os da França foram sempre os
maiores e permanentes…
E, depois,
há sempre a necessidade de salvaguardar a defesa da integridade territorial
de alguns Estados como Marrocos, Costa do Marfim, Líbia e Nigéria os
principais visados, imediatos, de um preocupante avanço islamita. E quem diz
estes, pode dizer, Moçambique, África do Sul e subindo pelo Atlântico – e
fecha-se o anel, e fecha-se o Rimland condicionando África e os dois Oceanos…
©Artigo de Opinião publicado no semanário angolano Novo Jornal, secção “1º Caderno” ed.
263, de 1-Fevereiro-2013, pág. 19.
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Imagem: Caça Rafal francês numa base do Tchad. www.abola.pt
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