Maputo
(Canalmoz) - A divulgação das recentes imagens do Presidente venezuelano, Hugo
Chaves, onde numa delas aparece lendo o jornal oficial do Partido Comunista
Cubano e ladeado pelas duas filhas mais velhas, parece ser a nova estratégia de
marketing do governo venezuelano visando acalmar as pressões dos seus
opositores, que desejam a declaração imediata da sua incapacidade para
continuar como Presidente daquele país da América do Sul e a convocação de
novas eleições.
A
estratégia pode não ter atingido os efeitos desejados, uma vez que gente há que
celebrou a aparição do líder em imagens como que a confirmar o seu breve
regresso, e outros que olharam para as imagens com algum cepticismo, chegando
mesmo a sugerir que se tratava de uma montagem para manter vivo um líder
moribundo.
Quando
vi as imagens de Chaves lembrei-me de imediato do filme “Sob fogo cruzado” de
título original “Under fire” estrelado por Nick Nolt, Jane Hackman e Joanna
Cassidy, e juntei-me ao grupo dos cépticos questionando-me se Hugo Chaves
estaria vivo ou morto.
O
filme “Sob fogo Cruzado” ou “Under fire” retrata os últimos momentos da guerra
civil na Nicaragua em 1997, movida pela guerrilha popular sob a liderança do
comandante Rafael que levou ao derrube do corrupto Presidente Anastasio Somoza.
No
filme, o comandante Rafael é morto, e a confirmação da sua morte significaria o
retomar do apoio americano a Somoza que já o havia perdido por conta da sua
incapacidade de controlar a guerrilha. Para evitar que tal acontecesse, os
guerrilheiros forçaram um fotojornalista norte-americano para fotografar o
comandante Rafael lendo um jornal do dia para provar que ele estava vivo,
contrariando o que Somoza informava aos americanos sobre a sua vitória contra
os guerrilheiros e a morte do comandante Rafael. A fotografia foi publicada
numa revista e esta verdade fabricada produziu os efeitos pretendidos – o
mundo, principalmente os Estados Unidos da América que apoiava Somoza,
acreditaram que o comandante Rafael estava vivo e Somoza foi abandonado pelos
seus aliados e a guerrilha popular na Nicaragua celebrou a queda de Anastasio
Somoza.
No
caso da Venezuela qual seria o interesse do governo em evitar que a
verdade sobre a morte de Chaves ou a sua incapacidade permanente venha a
público? É sabido que a confirmação da morte de um Chefe de Estado, e neste
caso um com muitos inimigos (naturais e criados, internos e externos), pode
levar o país a um caos e provocar mais mortes. Portanto, manter Chaves vivo,
nem que seja pelas fotografias, assegura que o governo ganhe mais tempo para
organizar a casa, transferir o que tiver que ser transferido, deslocar quem
tiver que ser deslocado, sensibilizar quem tiver que ser sensibilizado e no final
deixar a verdade cair em chão almofadado.
Longe de mim querer validar a opinião dos
cépticos, de que Chaves pode estar morto ou permanentemente incapaz de voltar a
presidência, não posso deixar de perguntar porquê o governo venezuelano optou
por divulgar fotografias, que são imagens estáticas, e não gravar imagens em
vídeo onde Chaves poderia acenar ou pronunciar algumas palavras para o seu
querido povo. Se está consciente o suficiente para ler um jornal, com o calor
das suas filhas, os médicos não iriam se opor que ele fizesse o aceno habitual
para o seu povo e prometer “hasta la vista”. (Eduardo Namburete)
Imagem: carosamigos.terra.com.br
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