Escrito por Kamba de Almeida
Burlas e
agressões em negócio angolano de empresa de Braga à beira da falência
No primeiro de Maio de 2010, o governador da província
do Huambo, em Angola, lançava a primeira pedra para a construção da
metalomecânica Agotec, num investimento estimado de seis milhões de dólares
(4,5 milhões de euros) da portuguesa Agovi com sócios luso-angolanos.
A nova unidade iria dedicar-se sobretudo ao fabrico de
turbinas hidroeléctricas. Chegou a investir mais de um milhão de euros no projecto,
mas nem uma produziu. Actividade real durante todo este tempo: oficina de
mecânica e pintura automóvel. Está agora em liquidação.
O que falhou? A parte intangível desta história é
feita de alegadas burlas, suspeitas tomadas de capital e bens, falsificações,
queixas-crime e até agressões físicas.
Francisco Morgado (na foto), presidente da bracarense
Agovi, admite que a sua empresa "corre o risco de fechar portas na
sequência de uma burla", alegadamente cometida pelos seus parceiros na
Agotec. Garante que, apesar de ser o "sócio maioritário", desde 2011
que não consegue aceder às instalações fabris em Angola nem reaver os
equipamentos, que foram comprados à Agovi e pelos quais nada recebeu.
"Os prejuízos ultrapassam já mais de meio milhão
de euros", contabiliza.Na sua ausência, sustenta, "os sócios
apoderaram-se da empresa, acumulando dívidas inexplicáveis face ao volume de
negócios e extorquindo a empresa para benefício pessoal". E alega que, em
Fevereiro de 2012, "falsificaram uma escritura pública".
Diz que viria a conseguir que a mesma "fosse
anulada, repondo a legalidade", mas "os bancos não aceitaram a nova
certidão, e continuam a não permitir o acesso e a movimentação das contas da
empresa, sendo coniventes com o crime por outros cometido".Os sócios
luso-angolanos devolvem todas as acusações.
"Esse é um senhor da pior espécie. Nós somos
pessoas de bem", começa por retaliar Ana Paula Andrade, funcionária da ONU
em Angola e que detém 12,5% da Agotec, uma participação igual à do seu irmão,
Eduardo Andrade, que é director provincial da Energia e Águas do Huambo.
"O Sr. Morgado é que conseguiu burlar os
sócios", atira. Exemplo: "Entendeu unilateralmente enviar os
equipamentos para a Agotec, tendo-os vendido como novos, por 500 mil euros,
quando, numa auditoria que mandámos fazer, se verificou que os mesmos tinham
cerca de 20 a 30 anos e foram avaliados em apenas 117 mil dólares (87 mil
euros).
" Quanto à tal escritura, que determinou a
passagem do controlo da empresa para os outros dois sócios (Jaime e Maria
Menezes), afiança que a mesma nem sequer tem a assinatura de Morgado, tendo
sido efectuada com base numa acta aprovada pelo mesmo. E desfia uma série de
alegados "atentados à legalidade" cometidos pela família Morgado,
inclusive a agressão física de um dos seus filhos a Eduardo Andrade.
"Temos processos cíveis e criminais a correr nos
tribunais de Angola contra o Sr. Morgado." A Agovi está em Processo
Especial de Revitalização, com dívidas de um milhão de euros, sendo que
"os incobráveis ultrapassam esse valor e tem em Angola a maior
fatia", diz Morgado. A empresa, que facturou seis milhões e laborava com
70 pessoas em 2008, fechou 2012 com vendas de 700 mil euros, prejuízos de 447
mil euros e 20 trabalhadores.
Jornal de
Negócios
http://www.radioculturaangolana.com
Imagem: Francisco Morgado
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