terça-feira, 22 de maio de 2012

Banco Mundial financia destruição da natureza e de riquezas turísticas. Tubarões, raias e até baleias, estão a acabar no Tofo



Chineses são acusados de fomentar a pesca de espécies proibidas para exportação
Inhambane (Canalmoz) – Tubarões, baleias e raias são algumas das espécies marinhas que atraem turistas através da actividade de mergulho em Moçambique e em particular na Praia do Tofo, na província de Inhambane. Mas nestes últimos meses desde que o Banco Mundial financiou, através do governo, um certo segmento da comunidade local para alegadamente melhorar a actividade pesqueira, oferecendo um barco a motor e uma rede, os pescadores estão a matar espécies proibidas, incentivados por negociantes chineses que depois compram o pescado para exportar. O caso já foi encaminhado ao ministro do Turismo, mas a destruição prossegue alegremente.
Segundo apurou a Reportagem do Canalmoz em Inhambane, estas espécies raras estão a ser pescadas e vendidas a cidadãos chineses que posteriormente as exportam, facto que está a deixar desgastados moradores do Tofo e operadores turísticos que têm empresas de mergulho.
Uma empresa de mergulho denominada “Eyes On The Horizonte”, das várias que operam na zona, escreveu uma carta ao ministro do Turismo, Fernando Sumbana, em que explica o que se está a passar no Tofo. Nela acusa a Direcção Provincial do Turismo local de nada fazer para parar com a pesca de espécies proibidas.
Aida Chicalia, cidadã residente na no Tofo, empresária e ex-candidata independente à presidência do Município, diz que está preocupada com aquilo que está a acontecer na zona. Alega que com a pesca desenfreada de espécies que atraem turistas se está a destruir um manancial turístico de grande valor facto que acabará por prejudicar a economia local.
A pesca da forma como está a ser agora feita está a conduzir à dizimação de espécies proibidas o que levará à retracção da actividade turística. A pesca tradicionalmente tem sido uma fonte de sobrevivência dos locais a par da actividade turística. No entanto, a forma como o Ministério das Pescas usou fundos do Banco Mundial para promoção da actividade piscatória, em vez de estar a fomentar novas sinergias está antes a contribuir para a destruição da natureza e de grandes factores de atracção turística na zona.
Graene Warrack, proprietário da “Casa Berry”, uma das mais notáveis estâncias turísticas localizadas no Tofo, diz que o que está a acontecer naquela zona turística é algo que só pode suceder onde as autoridades no terreno não fazem a mínima ideia do que andam a fazer. Graene alerta que a pesca de atracções turísticas vai afectar turistas e pede a imediata intervenção de dirigentes que possam impedir o que está suceder. “Muitos turistas vêm a Tofo para o mergulho e observar estas espécies raras”, alerta.

Do fluxo turístico está toda a indústria, que passa pelo alojamento, restauração, recreacção, artesanato, etc., ramos de negócio que com a diminuição da procura turística acabarão por ser também afectados.
As espécies a que Graene se refere são precisamente as que os pescadores estão a destruir depois que beneficiaram dos recursos aprovisionados com fundos do Banco Mundial e alocados pela Direcção Provincial de Pescas do Governo Provincial de Inhambane.
A representante da empresa “Eyes On the Horizonte”, Hannah Darrin, também lamenta o que está a suceder. Diz que a sua empresa está a receber muitas queixas de turistas-mergulhadores indignados com a pesca de tubarões, raias, e até de baleias. Refere que a propaganda negativa já está a ser veiculada na net em várias línguas e as consequências já se fazem sentir. Ela estima que esta actividade pesqueira intensiva de destruição, associada a outros factores, acabarão por prejudicar seriamente a região turística de Inhambane se medidas urgentes não forem tomadas.
A destruição de espécies marinhas pelos pescadores que passaram a usar os meios recentemente fornecidos pela Direcção Provincial de Pescas fazendo uso de fundos do Banco Mundial, não só acabará por prejudicar severamente o turismo no Tofo como de uma forma geral em toda a zona da península de Inhambane.
O representante da Associação dos Amigos de Tofo, Carlos Macuácua, partilha da opinião de que a pesca de espécies proibidas está a retrair o turismo e solicita às autoridades para mandarem retirar o barco e a rede dos pescadores locais para se por termo à destruição em curso.
Os operadores turísticos pedem ainda ao Banco Mundial que interceda junto do governo de Moçambique para o convencer a acabar com os desmandos descritos.
Operadores turísticos da área de mergulho estimam que no oceano Índico nas imediações da Praia do Tofo existam cerca de 800 tubarões de várias espécies e alegam que a sua extinção pode estar em curso se a pesca como passou a ser feita pelos pescadores que operam o barco e os outros aprestos fornecidos pelo Governo da província não for imediatamente interrompida. (Luciano da Conceição, em Inhambane)

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