http://makaangola.org/2012/05/milicias-pro-dos-santos-atacam/
Um grupo de
cerca de 15 indivíduos afectos às milícias pró-governamentais, armados com
pistolas, catanas e varas de ferro, atacou esta noite o núcleo de jovens que
tem liderado a organização de manifestações anti-Dos Santos, desde Março de
2011.
Pouco depois
das 22h00, os atacantes irromperam, de surpresa, a residência do rapper
Casimiro Carbono, no Bairro Nelito Soares, em Luanda, onde se encontravam
reunidos 10 jovens.
De pistolas
em punho, os atacantes espancaram violentamente Gaspar Luamba, Américo Vaz,
Mbanza Hamza, Tukayano Rosalino, Alexandre Dias dos Santos, Jang Nómada,
Massilon Chindombe, Mabiala Kianda, e Explosivo Mental. O anfitriao, Casimiro
Carbono, escapou aos ataques por ter saído pouco antes para atender a um
telefonema.
Afonso
Mayanda “Mbanza Hamza”, 26 anos, explicou como os agressores, mal abriram a
porta, executaram, de forma profissional e rápida, os ataques. “Bateram-me com
uma vara de ferro na cabeça e em todo o corpo, e apontavam as pistolas para não
reagirmos à pancadaria”, disse Mbanza Hamza. O jovem sofreu fracturas na
cabeça, que levou 12 pontos, e no braço direito.
Gaspar
Luamba também foi severamente atingido na cabeça com vara de ferro, tendo
levado oito pontos, e ficou com os membros inferiores fracturados com a
pancadaria. Um dos delinquentes pró-regime também assestou uma barra de ferro
na cabeça de Jang Nómada, causando-lhe grande ferimento, para além da
pancadaria que recebeu por todo o corpo.
Por sua vez,
o rapper Jeremias Manuel Augusto “Explosivo Mental”, 25 anos, ofereceu
resistência aos ataques na cabeça e acabou com os braços inflamados, um dedo da
mão direita fracturado, e hematomas por todo o corpo.
Massilon
Chindombe, que procurou refúgio no quarto, contou como um dos assaltantes lhe
apontou a pistola quando tentava fechar a porta. “Gritámos que estávamos a
chamar a polícia e ele riu e respondeu ‘qual polícia’?” O activista conta que,
após o ataque levaram as vítimas ao Hospital Américo Boavida. “O Luamba e o
Mbanza Hamza perderam muito sangue e estavam semi-conscientes. No hospital um
dos enfermeiros começou a suturar o Luamba sem anestesia ou cuidados básicos de
higiene. Tivemos de ir para uma clínica privada”, explicou.
Esta é a
segunda vez que a milícias invadem a residência de Carbono Casimiro. A primeira
aconteceu a 9 de Março passado, tendo os agressores atacado, com barras de
ferro, o anfitrião, os activistas Liberdade Sampaio, Catumbila Faz-Tudo
“Caveira”, Nelito Ramalhete e António Roque dos Santos. Estes planificavam um
protesto anti-Dos Santos para o dia seguinte. A 10 de Março, os atacantes
dispersaram violentamente uma concentração de cerca de 30 manifestantes, no
Tanque do Cazenga, em Luanda, tendo causado sérios ferimentos, entre outros, ao
rapper Luaty Beirão “Ikonoklasta”, ao secretário-geral do Bloco Democrático,
Filomeno Vieira Lopes, que teve de ser operado na Alemanha. A Televisão Pública
de Angola (TPA) deu amplo espaço, a 12 de Março, a um suposto “Grupo de
Cidadãos Angolanos pela Paz, Segurança e Democracia na República de Angola” que
reivindicou os ataques e prometeu mais actos de violência contra todos aqueles
que se manifestem contra o regime.
A censura e
o controlo da informação na TPA são monitorados de forma minuciosa pelo
Executivo do Presidente José Eduardo dos Santos e a leitura de um comunicado,
em que um grupo desconhecido, se vangloriava de ter cometido um crime, em
circunstância alguma teria passado sem o aval das autoridades. Os extremistas
pró-governamentais inspiraram-se no modelo de comunicados de organizações
fundamentalistas árabes para transmitir a sua imagem de terror.
Ao
retirarem-se do local do crime, as milícias, segundo várias testemunhas
oculares, efectuaram três disparos para afugentar a vizinhança que se começava
a reunir na rua, e o fizeram em viaturas Land-Cruiser alegadamente atribuídas a
oficiais da Polícia Nacional. Em várias manifestações, reprimidas pela Polícia
Nacional, o grupo de agressores realizava sempre os seus actos de violência com
protecção policial. Alguns dos seus membros são identificados como oficiais
desta corporação.
Desde a
passada segunda-feira, os organizadores das manifestações contam com um
programa radiofónico bi-semanal na Rádio Despertar, onde pretendem promover a
liberdade de expressão e falar de protestos. Segundo Carbono Casimiro, a
reunião, que sofreu o ataque, “visava traçar novas estratégias para o nosso
programa de rádio, e estávamos também a discutir outros problemas de
organização interna e projectos”. A Rádio Despertar emite, desde 2006, como
parte dos Acordos de Paz que permitiram, à UNITA, a transformação da sua então
estação emissora Voz do Galo Negro (Vorgan) em rádio comercial. Esta emite em
Luanda apenas, em Frequência Modelada (FM), e tem vindo a aumentar a sua
audiência pela sua linha editorial marcadamente anti-regime.
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