De
multinacionais a governos, muitos já antecipam o terremoto na economia mundial
que seria provocado pela saída da Grécia da zona do euro
20 de maio de 2012
JAMIL CHADE, CORRESPONDENTE / GENEBRA – O Estado de
S.Paulo
A operadora de celulares britânica Vodafone passou
a enviar todos os dias para Londres o volume de dinheiro arrecadado na Grécia.
Os euros são quase imediatamente transferidos para dólares ou libras. A
iniciativa é um reflexo de uma nova realidade: nem a Grécia nem o euro inspiram
confiança e, de multinacionais a governos, muitos já antecipam o que seria um
“terremoto na economia mundial” diante da eventual saída da Grécia da zona do
euro.
Seu impacto será uma revisão da posição da Europa
no cenário internacional, de seu modelo de integração e do próprio euro como
moeda de referência. Para muitos no próprio bloco, o momento não é mais nem
sequer o de salvar a Grécia, mas evitar uma contaminação, que derrubaria
economias bem maiores, como Espanha e Itália.
O momento crítico será a nova eleição na Grécia em
17 de junho, a segunda em dois meses. Pesquisas de opinião apontam para uma
vitória de partidos que são contrários às exigências estabelecidas pela Europa
para resgatar a Grécia. Mas, sem esse dinheiro, Atenas não sobreviveria dentro
da zona do euro.
O Estado ouviu analistas, representantes de
governos, bancos e acadêmicos. Todos, de forma unânime, têm a mesma opinião:
uma saída da Grécia terá um impacto global pelo menos equivalente à quebra do
banco americano Lehman Brothers, em 2008, e o euro, ainda que sobreviva, não
será o mesmo.
Por essa razão, a reunião de cúpula do G-8 neste
fim de semana nos Estados Unidos teve em sua agenda um ponto crítico: como
isolar a Europa e impedir que uma eventual saída da Grécia não jogue a economia
mundial de volta em uma profunda recessão, como a de 2009.
Saída. Os EUA já deixaram claro aos europeus que
precisam dar uma solução rápida para a nova crise, sob o risco de desfazer todo
o trabalho de recuperação da economia mundial e abrir uma nova recessão que
poderia ter uma repercussão anda mais nefasta que a de 2009.
No FMI e no Banco Mundial, economistas já começam a
refazer as contas em relação ao crescimento no ano, já prevendo que o contágio
da Grécia mine qualquer esperança de expansão do PIB. Um terço do bloco europeu
já está em recessão e apenas a Alemanha ainda escapa.
Diplomatas em Bruxelas consultados pela reportagem
são céticos em relação à capacidade dos líderes mundiais de criar um muro de
proteção. A Organização Mundial do Comércio (OMC) já disse que economias
emergentes sofrerão, já que a Europa é ainda a maior importadora mundial.
Fundos de pensão que têm recursos em euros perderão, assim como os bancos.
Para a UE, o momento é de definição de seu futuro:
se a Grécia abandonar a zona do euro, a moeda única passará por seu pior momento
e todas as regras do bloco terão de ser reavaliadas. Se o bloco sobreviver com
a Grécia, terá de tomar medidas inéditas de integração e de revisão das
soberanias nacionais.
Para analistas e políticos, chegou o momento de os
líderes europeus abandonarem a controvérsia entre crescimento e austeridade e
entender que o que está em jogo é muito mais crítico: a sobrevivência da zona
do euro.
No gabinete de José Manuel Barroso, presidente da
Comissão Europeia, negociadores reconhecem que insistir na austeridade foi um
“tiro no pé”. “A ideia era criar uma economia sustentável. Mas na realidade
criou uma sociedade insustentável e derrubou governos. A partir de agora, ficar
disputando se Hayek ou Keynes tinham razão não vai salvar a Grécia”, disse
Barroso.
Imagem:
04 - Como ficou a versão final daquela charge sobre a Grécia - Gazeta do ...
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