Luanda - A DW África falou com o presidente da
UNITA, o maior partido da oposição angolana, sobre a reconciliação entre o
Estado e as vítimas do 27 de maio de 1977. Segundo Isaías Samakuva, ainda há
muito caminho a percorrer.
Fonte: DW Club-k.net
DW África: O que é que pensa sobre esta data memorável
para os angolanos, uma data em que muitas pessoas foram mortas?
Isaías
Samakuva (IS): Infelzmente a história de Angola tem muitas datas tristes. Mas
temos que aceitar que a nossa história é feita precisamente dessas datas. O 27
de maio de 1977 foi um dia em que milhares de angolanos quiseram manifestar o
seu desagrado pela situação que o país vivia na altura. Infelizmente esses
compatriotas, esses manifestantes, foram massacrados bárbaramente e muitos
morreram.
DW África: O que sabe sobre o número de vítimas?
IS:
Os números são contraditórios. Alguns falam de dezenas de milhar de mortos,
outros falam mesmo de centenas de milhar. De qualquer das maneiras morreram
muitos angolanos e, por isso, o 27 de maio de 1977 é uma data que deve ser
relembrada. Creio que este ano os militantes das causas do 27 de maio estarão
mais uma vez a lembrar não só os massacres, como também as causas que quiseram
defender naquela altura.
DW África: Não acha que chegou o momento de todos os angolanos se reconciliarem e esquecerem as divisões do passado?
IS:
Nós andamos há anos a falar do processo de reconciliação nacional, mas o
processo de reconciliação, a que estamos a assistir, ainda não terá atingido os
seus objetivos. Em vez de se materializar o processo de reconciliação nacional,
o que está a acontecer é um agravamento daquilo que se passou. É notória a
vontade de reconciliação dos sobreviventes do 27 de maio. Eles querem virar a
página. Mas infelizmente isso não tem acontecido. Eu conheço muitas famílias
que continuam à procura de certidões de óbito dos seus familiares mortos no 27
de maio. Ora isso dificulta o processo de reconciliação. Para nós seria
desejável que esse e outros aspetos fossem resolidos.
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