sábado, 26 de maio de 2012

Polícia Nacional Descomandada



Luanda -  Um certo desleixo, com algum ar de desorganização, grassa nos dias que correm, na Polícia Nacional de Angola, soube-se de fonte bem informada. Efectivos da PN de determinados sectores estão descontentes com a actual situação de deixa andar que está a desarticular a corporação, referiu a fonte.

Fonte: Club-k.net
Exemplo menos bom para  sociedade
De acordo com a fonte, há descontentamento porque alguns efectivos não recebem os seus salários e demais compensações desde Fevereiro. «Esta situação atinge também os oficiais oriundos de diversos municípios de algumas províncias que se encontram a fazer um curso de aperfeiçoamento e superação na Escola Mártires do Kapolo, em Luanda, e tem feito com que haja reclamações e desânimo, porque são pais de família, muitos deles deixaram as famílias nas províncias de onde vieram e eles sentem-se mal por isso, mas a chefia da Polícia não esclarece os motivos de tais atrasos, nem dá sinais de breve regularização da situação».
A fonte disse ainda que não se compreende porque é que a direcção da Polícia ainda não colmatou essa brecha. Contudo, explica que recentemente situação idêntica já acontecera com os graus de superintendente e superintendente-chefe. «Ao contrário de agora aquele problema não demorou muito tempo, porque supõe-se que alguma chefia envolvida no negócio da aquisição de fardamentos e outros acessórios tinha os contactos em dia e foi facilmente resolvido, que não é o caso actual», sublinhou.

Referiu também, com alguma ironia, que a recente visita do Comandante-geral e outros responsáveis da Polícia Nacional e do Ministério do Interior à China, talvez esteja na base de uma nova cooperação com o gigante asiático, pelo que os passadores de Intendente em falta no país possam já vir de lá.    

Pode não parecer, mas a população de Luanda, com incidência para aquela que vive na periferia da metrópole, a dos bairros menos estruturados e para os utentes nocturnos das diversas estradas da província, há um grande desassossego. Ninguém confia na Polícia, diga-se o que se dizer, porque há muito que a população vive constrangimentos, sofrem assaltos, provocações, abusos de toda a ordem, diurnos e nocturnos, vezes sem conta à vista de agentes da Polícia, mas nada fazem. Além da «lei da gasosa», que se tornou uma prática institucional, os homens que deviam zelar pela lei, tranquilidade e ordem pública, simplesmente fogem ao confronto com os delinquentes como gato escaldado foge da água fria.

A este propósito, a fonte que vimos citando disse que os apelos e pedidos de socorro da população em perigo por ataques de bandidos são geralmente ignorados e, quando avisados de determinada situação, os carros de patrulha simplesmente recusam-se de ir ao local por medo. «Por isso a delinquência faz o que quer e até brinca com a Polícia. Isto só acontece porque a chefia só quer comodidades, luxos e o bem-estar das suas residências ou dos seus ambientes. Geralmente, de noite, nunca há nas unidades policiais, sobretudo nos comandos de divisão, nenhum oficial com autoridade, fica tudo ao ‘Deus dará’ e cada um faz das suas», comentou.
Pode-se dizer que a Polícia trabalha, porque de vez em quando vai dando um ar da sua graça, apresentando aos órgãos de comunicação social, com destaque para a televisão, alguns delinquentes presos por diversos motivos, na sua maioria miúdos, que alguns dias depois já são vistos soltos pelas ruas, vangloriando-se nos seus bairros e locais onde cometeram crimes e fizeram vítimas.

Contudo, a delinquência mesmo, aquela que já tem contornos de crime organizado e de crueldade extrema, essa continua a fazer das suas e mais: está a crescer e a enraizar-se a uma velocidade estonteante que, brevemente, será muito difícil controlar.
O país tem um corpo de Polícia que se diz bem estruturada, com diversos níveis como: ordem pública, polícia canina, polícia montada, polícia especial, polícia de trânsito, polícia de intervenção rápida, protocolar, de protecção de objectivos estratégicos, etc, etc, perfazendo dezenas de milhares de efectivos, senão mais, em todo país. Actualmente, a polícia já não ganha tão mal, é mesmo dos sectores públicos que melhores ordenados auferem.
Na mesma esteira junta-se um outro caso: não há patentes de Intendente e esta lacuna está igualmente a afectar os oficiais que ascenderam recentemente àquele grau policial. «Muitos oficiais recentemente promovidos ao grau de Intendente estão a usar passadores já coçados e velhos que pediram a colegas que passaram por aquele grau, mas outros, que nem sequer conseguiram isso, têm que andar a paisano ou se fardam e usam as patentes do antigo grau ou andam sem patentes, o que deixa constrangido qualquer um.
Em contrapartida, é normal ver-se agentes da Polícia na rua durante o dia. Depois da hora de expediente público, quinze horas e trinta minutos, eles também vão desaparecendo e ao cair da noite, já não se vê nenhum polícia nas ruas de Luanda, até os controladores de trânsito. Tudo fica entregue aos «lobos», mesmo o 113 não funciona ou, se chamar, nunca há resposta. Na periferia já não adianta referir, se aparecem de dia é para «pentear» e de noite é o «paraíso» da delinquência.
Os populares queixam-se, por exemplo, nos bairros da Caop A e B, no município de Viana, dos ralis de motas de duas e quatro rodas, que fazem um barulho infernal e poeira, estendendo-se pela noite adentro até de madrugada, não importa o dia, a música ensurdecedora que é tocada em qualquer lugar, até nas ruas, sobretudo na chamada rua da Fima, incomodando os pacatos cidadãos, trabalhadores que precisam de descanso que, se reclamarem, ainda são violentados. «A Polícia nunca aparece, nunca vimos um só carro de patrulha nas ruas deste bairro, nem de dia nem de noite e há mesmo polícias que aqui vivem e que deviam fazer o chamado trabalho de sector, mas nada fazem apesar de conhecerem os delinquentes e prevaricadores», contou Alberto Ngalula, funcionário público. O cidadão acrescentou que naquele bairro, actualmente, devido às rachas de motas e de carros, que nunca são vistos de dia, há muita delinquência e violação de meninas. «Há dias mataram aqui um jovem, junto da entrada para a passagem aérea que dá para a Vila, passava pouco das 19 horas, mas a Polícia só apareceu no dia seguinte de manhã», lamentou.

É assim em outros bairros de Viana, no Cazenga, em Cacuaco, no Rangel, Sambizanga, Prenda, e um pouco por toda Luanda. Apesar dos gritos da população, onde está a Polícia?


Alguém que ascende a um grau superior quer exibir a sua nova condição, mas quando tem que andar com passadores velhos que já pertenceram a outras pessoas ou ficar sem nada nos ombros, é um autêntico vexame», considerou a fonte citada.

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