– ao mesmo tempo, terra de miséria para a maioria das e dos angolanos
Entretanto, se Angola é o novo eldorado dos jóvens e, também, um mercado importante para os Empresários portugueses, não o tem sido para a maioria das e dos angolanos. As condições de vida da elite dominante angolana e da maioria dos estrangeiros que vive em Angola contrastam com a a pobreza e a miséria em que estão mergulhadas a maioria das e dos angolanos. Citando o jornal O País numa matéria divulgada também pelo angolaresistente, tenha-se em consideração que: “Os indicadores económicos e sociais apresentados para assinalar o dia da ONU apontam para a existência de aproximadamente sete milhões de pessoas que ainda vivem com menos de 1,75 dólar por dia. Para além disso, um milhão de crianças continuam fora do sistema de ensino primário, bem como milhões de angolanos não têm acesso aos serviços de água e saneamento adequado.“Estas discrepâncias e iniquidades perigam a conquista dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”.
No contexto dessa pobreza e miséria extrema em que vivem, muitas angolanas e angolanos têm sido vitimados por violações dos direitos humanos por via de desalojamentos forçados que lhes impõem a deslocação para sítios onde não existem condições de alojamento e de vida condigna. Esses abusos do poder, objectivamente, deserda-os e assim exclui do desenvolvimento as vitimas desses actos revelando que o desenvolvimento, como na época colonial portuguesa, não é de todas e todos e para todas e todos mas apenas para quem é parte da minoria nacional e estrangeira que o promove, colocando-nos assim face à instalação e desenvolvimento dum sistema endocolonialista que é o que realmente vigora ao invés do Estado de direito democrático estabelecido pela Constituição.
O Governo português e as portuguesas e portugueses que só vêm em Angola a possibilidade de negócios e de empregos que para não perigarem se calam sobre a situação da maioria do povo angolano e, especialmente, se calam perante as violações dos direitos humanos estão a ser cúmplices por omissão dos que ordenam e executam essas violações e desse modo a colocar-se face às angolanas e angolanos como indesejáveis. Fazemos questão de lembrar a cada portuguesa ou português e a pessoas de outras nacionalidades que venham para Angola ganhar o seu, ignorando a exclusão e miséria que nos é imposta, que directa ou indirectamente é cumplice do sistema endocolonial que lhe proporciana essa possibilidade de geração de rendimentos. Pergunto-lhes qual seria a sua posição se fossemos nós a ir ganhar o nosso em Portugal feito terra de oportunidades para todos menos para os portugueses?
O Governo de Portugal tem obrigações para com a promoção e defesa dos Direitos Humanos de que se tem demitido para não perigar negócios. A União Europeia de que Portugal é um país membro estabeleceu de forma inequivoca as obrigações dos seus estados membros no que aos Direitos Humanos diz respeito mas além dos estados membros da UE, ela mesmo por via da sua Comissão Europeia, têm dado o sinal verde à prática de cumplicidade por omissão com violadores dos direitos humanos em Angola, não os contestando como se deveria obrigar em respeito pelas suas próprias normas. A força económica e política que os rendimentos do Petróleo colocam nas mãos do autocrata José Eduardo dos Santos tem vergado aos seus pés os governantes portugueses e de outros países da União Europeia que não têm ousado contestar o regime real, a ditadura, que nos impõe, disfarçada de democracia para europeu ver. No meio disso tudo ganha-se dinheiro, muito dinheiro, enquanto se dança kizomba. angolaresistente
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“Portugal é um país fechado, velho, sem perspetivas. Em Angola há todas as armadilhas que se possam imaginar, mas é o futuro. Uma terra de desafios. E eu arrisco!” Paula Cardoso, lisboeta, está na casa dos 30 anos, é ambiciosa e pertence a essa jovem geração de portugueses que se sente “condenada”, sem futuro.
Desde há cinco anos, segundo o Observatório das Migrações, 350 mil pessoas deixaram este país, atingido por uma violenta crise, apontado como um elo fraco da União Europeia, à beira de um colapso à grega. Um êxodo comparável ao da década de 1960. Os portugueses emigravam, sobretudo, para o Reino Unido, a Espanha e a Suíça.
Mas, desde há três anos, surgiu um outro eldorado, mais longínquo: Angola. Esta antiga colónia portuguesa, que se tornou independente em 1975 após uma longa guerra, está a sete horas de voo de Lisboa, no sul da África. O país tem um território 12 vezes mais vasto do que Portugal. É a “terra dos desafios” onde espera lançar-se Paula Cardoso e tantos outros.
O fenómeno está em grande crescimento. Em 2006, há registo de apenas 156 vistos de portugueses que partiram para a ex-colónia. No ano passado, o número subiu para 23 787. Atualmente, vivem em Angola 100 mil portuguesas, ou seja, quatro vezes mais do que os angolanos que vivem em Portugal onde, por causa da crise, chegam a conta-gotas. “Isto faz-me pensar na época das descobertas, quando os nossos antepassados partiram para África para fugirem, também eles, à crise económica”, sublinha Mário Bandeira, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.
Fonte: Expresso
http://www.angolaresistente.net/2010/10/23/angola-o-novo-eldorado-dos-jovens-portugueses/
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