quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

FRACTURA ENTRE DEMOCRACIA E DITADURA.




Para lá de outras considerações, a virtude heróica do Príncipe, apresentado como um ditador de excepção, que pode ser entendido como o equivalente político dos profetas das seitas religiosas que pululam pelo país, dá-nos a oportunidade de surpreendermos uma concepção da política que é primária e profundamente reaccionária (no sentido de anti-moderna) porque re...conduz à legitimação do arquétipo da predação, do enriquecimento pessoal pela apropriação do património colectivo de um poder patrimonial feudal que morcela o território em coutadas e estrutura a sociedade na base da formação de clientelas e de um laço social não alicerçado na noção de direito e de cidadania mas na de fidelidade, retribuição e favor. E esta essência do poder não se transforma pela sua simples e voluntariosa historização. Mais, a abordagem da violência (ilegítima), que no país sempre teve a sua origem na política de exclusão, nessa pretensão de um indivíduo (ou um grupo de indivíduos) achar que tem mais direitos do que os outros, a turma da ditadura justifica pela necessidade (histórica) de sobrevivência do seu partido e, no egocentrismo fatalista que alimenta a ideia de que a sobrevivência nacional depende da sobrevivência do “eleito”. E aqui está uma fractura entre a ditadura e a democracia. Mas, afinal, esta adesão ao fatalismo histórico, esta “traição” ao materialismo histórico já vem de longe, dos tempos da tese sobre “O papel do líder na revolução” (Dezembro de 1985), altura em que começou a “iconização” de José Eduardo dos Santos para o transformar em “Eu ideal” do regime e sobrepor-se ao “líder imortal”.
Nelson Pestana Bonavena, coordenador do CNER do Bloco Democrático (Angola)

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