segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

As toalhinhas e o sexo em Angola


Num voo Brasil-Angola, fiquei sentada ao lado de uma mulher nos seus 70. A empatia foi rápida, a conversa mais demorada mas muito divertida. Falámos de filhos, de animais de estimação, das distâncias geográficas entre os casais e de impactos no casamento. A minha dura já 7 anos, por anteciparmos um Portugal sem viabilidade económica. A distância entre ela e o marido prende-se com outras razões: ele permanece na fazenda fora da capital, onde a guerra tudo destruiu, menos a produtividade da terra. Ela veio para a capital educar os sete filhos dela, mais os dele (que descobriu e adoptou), mais os netos. Fez questão em criá-los. 'Vó Lucinda', uma matriarca de bons exemplos, atenta a toda a sua trupe, foi dando instruções: "João, apanha esse lixo do chão"; "Neuza, cumprimenta a senhora". "Senhor comissário de bordo, encontrei uma mana..." A mana era eu! Que ternura!

Faranaz Keshavjee (www.expresso.pt)

O almoço ia ser servido. Chegaram as toalhinhas húmidas. Ensonadas, limpámos as mãos. A hospedeira passou e pegou a minha. Olhei para o lado, Lucinda estava de olhos fechados e a toalha embrulhadinha na mão. Uns minutos depois, do outro lado do corredor vimos o tabuleiro das toalhas sujas ser despejado. Lucinda perguntou-me: 'já passou o tabuleiro'? 'Já', disse. 'Ainda bem, esta também vai comigo! Já a guardei no bolso'.
Lucinda sempre quis ouvir e aprender com as mulheres mais velhas. Curiosamente, eu gosto de conhecer gente, culturas, e sobretudo ouvir histórias de mulheres mais velhas, principalmente de lugares que visito pela primeira vez.
Contou-me que logo depois de ter tido o primeiro filho a sogra lhe deu um conselho? 'Uma mulher deve sempre usar uma toalhinha. É bom, disse a sogra, para evitar o vento... Pensei que Lucinda se referia à forma de a mulher manter a higiene íntima, e prevenir situações embaraçosas no período pós-parto. Mas não. Lucinda usa as toalhinhas desde há 45 anos! E não passa sem elas. Já juntou algumas, destas viagens que faz para visitar a familia. Gosta porque, ao contrário das que compra, 'estas dão maior conforto, são mais fininhas, e lavam-se muito bem. E a mulher fica sempre limpinha'.
Depois de mais um tempo falando sobre assuntos mais de mulher, tipo infidelidades, apetências sexuais da mulher, quando o homem já 'não se mexe', e que a mulher 'nunca morre da cintura pra baixo', arrisquei e perguntei o que queria dizer com 'usar toalhinha para não apanhar ventos...' Lucinda explicou calmamente, e em voz baixa, que a toalhinha mantem sempre os genitais femininos quentes. Toma-se um banho quente, aquecendo e refrescando aquela parte, e usa-se a cueca com a toalhinha. Depois, ao despir ao lado do homem, ele encontra aquele lugar sempre quentinho. Ah! Faz sentido. E se calhar, disse eu, com a tal toalhinha, e o quentinho, ficamos sempre desejando... 'Pois; é isso, mana'!
Se por acaso as companhias aéreas passarem a ter um déficit de toalhinhas, podemos ficar satisfeitos por elas terem encontrado lugares seguros e de felicidade. Em Angola também há vida, há alegria, beleza e paixão, e muito para dar e receber.

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