terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Quim Ribeiro põe a boca no trombone


Luanda - Começou há cerca de duas semanas o julgamento de Joaquim Vieira Ribeiro e de outros 20 seus lugares -tenentes. De notar, logo de entrada nesta abordagem, que jamais foi organizado um processo judicial que se tivesse arrastado durante tanto tempo como este. Isto já se conta em anos e durante esse tempo todo o Club-K, tem-se limitado a acompanhar com o maior sentido de responsabilidade e imparcialidade, para não ser conotado como estando a defender uma das partes e falsear a realidade dos factos, como muitos tentaram outras vezes fazer.

*Ekosi Elavoco Fonte: Club-k.net

Denuncia interferência do SINFO
Vamos, no entanto, ter que exercer a função que nos foi outorgada de informar os nossos leitores internautas e para começar o que de mais relevante temos a revelar é que as coisas não se passaram bem, isto para não dizer que se passaram bastante mal.
Com efeito, no passado dia 20 do mês em curso, o réu Domingos José Gaspar denunciou os maus tratos de que foi alvo na Procuradoria Militar. Disse ter ficado 22 dias incomunicável, sem direito a qualquer tipo de contacto com os seus familiares e advogados e submetido a uma curiosa e achinesada tortura mental e física, ao ser obrigado a fazer as suas necessidades, maiores de menores, mais concretamente fezes e urina, num saco em plástico, do tipo “embalagem” de zungueiras, que se vendem em quase todas as cantinas que por ora invadidas por cidadãos estrangeiros e se vão multiplicando nos nossos bairros.
O referido arguido revelou que foi submetido por diversas vezes a diversas formas de coacção nas suas declarações tendo inclusive sido ameaçado pelo tenente - general Adão Adriano, Procurador Adjunto da República e Procurador Adjunto das FAA, no sentido de falar a verdade, mas uma verdade que incrimina-se, a qualquer custo, o ex-comandante provincial da Polícia de Luanda, Joaquim Ribeiro.
Esse alto oficial e fiscalizador da legalidade, a certa altura não se conteve e saltou dos carretos para o intimidar, batendo na mesa e dizendo “Porra!”, diz a verdade, porque nós já a sabemos, para não apanhares também de tabela, como criminoso”.
Enfim, uma maneira como outra de obrigar a dizer o que querem ouvir aos que estão em má posição para se poderem defender.
Aquando de uma acareação, o réu Domingos José Gaspar teve a oportunidade de dizer o que o atormentava ao Procurador Adjunto da República e das FAA e este limitou-se a dizer: “EU SEI QUE VOCES CAGAM EM SACOS DE PLÁSTICOS”, referindo-se aos outros colegas de 22 dias de infortúnio; João Lango Caricoco e Paulo Rodrigues.
“A MINHA TRAVESSIA NO DESERTO E DOS MEUS HOMENS COMEÇOU QUANDO NÓS DESMANTELAMOS OS CARTEIS DA DROGA NO AEROPORTO INTERNACIONAL 4 DE FEVEREIRO E PORTO COMERCIAL DE LUANDA”
Nesta senda triste semeadas de actos cujo objectivo pouco mais além iam que servirem para humilhar e achincalhar os arguidos, muito precisamente no 22 de Fevereiro, chegou enfim outro grande dia, com o depoimento do ex-comandante provincial da Polícia de Luanda.
Joaquim Ribeiro disse alto e bom tom não ter sido este processo instruído de forma imparcial, isenta e com vontade de se descobrir a verdade, pois quando os seus homens e a DNIC estavam a investigar o caso dos homicídios do Zango, não se sabe bem por que razão eles foram pura e simplesmente retirados de cena, surgindo um órgão sem competência para instruir casos do género.
Isso aconteceu por ocasião da sua suspensão do cargo de comandante de Luanda e com a introdução de outros órgãos no processo, que interferiram e desviaram o curso dos acontecimentos, prendendo inocentes e mantendo os criminosos fora do circuito e dos acontecimentos que se encontravam claramente inseridos do processo pendente. O SINFO, através de Miguel Muhongo e Julinho, foram as testas de ferro de uma máquina que apagou os dados do crime, pois o que acontece foi que, por motivos a esclarecer ou por não terem competência para exercer funções de investigação, eles montaram toda uma trama que não levava em linha de conta todos os dados reveladores de situações que, por essa razão, nunca chegaram a ser esclarecidas com a devida equidade.
Kim Ribeiro também não perdeu a oportunidade de relembrar aos seus algozes que tinha 28 anos de farda, sendo 36 ao serviço da Policia Nacional, isto sem esquecer que já foi responsável de muitos eventos e devolveu o troco, pelo que não poderia em caso algum roubar o que não viu, tal como ele é por ora acusado por pessoas que não estão isentas de um certo pendor de parcialidade inaceitável em processos como este.
Agora aqui, neste imbróglio que está longe e parece mesmo estar cada vez mais longe de se aproximar da verdade dos factos, na medida em que interferiram nas investigações grande número de parasitas, surge um outro dado, no caso de Fernando Gomes Monteiro confirmar que tinha 3.700.000 USD em casa.
É que nessa altura ele poderá ser arrolado como arguido, depois de ter saído, em liberdade provisória, mediante caução, de outro processo no “Caso BNA”, o que não irá de modo algum simplificar o caso.
Quando questionado sobre uma eventual brigada de baixa visibilidade, Kim Ribeiro não pôde, a seu ver, ou não quis assumir perante o Tribunal que a Polícia e outros órgãos militares têm de facto ao seu serviço esquadrões da morte. Kim Ribeiro disse que, em homenagem e respeito ao Estado que lhe paga, não se encontra numa situação que lhe permita revelar segredos de Estado, “PORQUE AMANHÃ O PAÍS PODE NÃO ACORDAR”, pelo que prefere sofrer as consequências do seu silêncio ao recusar revelar segredos que podem prejudicar o país.
Outra revelação bombástica foi de que tudo isso, quer dizer, toda a perseguição de que foi alvo, começou por ele próprio, e os seus colaboradores mais chegados, no exercício das suas nobres funções, “TEREM CONSEGUIDO DESMANTELAR OS CARTÉIS DA DROGA QUE OPERAVAM NO AEROPORTO INTERNACIONAL DE LUANDA E PORTO COMERCIAL DE LUANDA”.
Queixa-se Kim Ribeiro de que tais incursões no mundo da droga, que ele faz valer como actos de coragem e de extrema validade para a sociedade em geral, nunca tenham sido recompensados como deveria ser, nem que fosse apenas com uma menção de mérito.
“ATÉ ALI EU ERA BOM MENINO, DISCIPLINADO, OBEDIENTE E HUMILDE, MAS TÃO SÓ CORTAMOS OS PASSOS DA DROGA E COMEÇAMOS A VIVER TODA ESTA SITUAÇÃO, MAS ESTE ÓRGÃO ESTRANHO A INVESTIGAÇÃO (SINFO) SABE QUEM SÃO OS VERDADEIROS ASSASSINOS DOS HOMICIDIOS DO ZANGO”.
E, para terminar - por enquanto, pois o andor ainda nem saiu do adro -, o comandante Kim Ribeiro afirmou, peremptório, que o SINFO sabe quem foram os prevaricadores e quais são os verdadeiros actores deste crime de que ele é acusado.
Esperemos para ver o que ainda vai sair deste julgamento, muito, mas mesmo muito mal amanhado, como podendo ser considerado uma revelação.
E, finalmente, Kim Ribeiro ao ser questionado pela forma como decorreu o seu interrogatório foi peremptório: “Eu sou o mais interessado na descoberta da verdade e sempre me dispus a colaborar com as autoridades, mesmas aquelas que não têm competência, mas quando fui ouvido pelo tenente - general, Adão Adriano, procurador adjunto da República e das Forças Armadas, pessoa que tinha uma grande estima, a forma como o fez, senti e descobri, que não era a verdade que se quer neste processo”.
E assim anda este recambolesco processo, com muitos vícios, sendo o maior o facto dos réus não terem sido notificados da acusação, com a justificativa esfarrapada de ser assim no Supremo Tribunal Militar, o que configura uma violação a Constituição, pois o militar não pode ser menos cidadão que os demais. Se houver ombridade e o regime de Eduardo dos Santos não continuar a espezinhar a lei e a descartar os seus servidores, então só a anulação deste processo poderá credibilizar o regime, porque senão é a aceitação da existência, como o próprio Tribunal está a reconhecer existir ESQUADRÕES DA MORTE NA POLÍCIA, NA SEGURANÇA DE ESTADO E NAS FORÇAS ARMADAS, sob conhecimento do Presidente da República.
Esta parece a hora da verdade. Vamos esperar pelos próximos passos, mas tudo indica que estes tipos de julgamento onde se faz teatro, servem para dividir ainda mais os órgãos policiais e militares, que os tornarão, amanhã, aliados das grandes sublevações sociais a exemplo dos outros países no norte de África, sendo agora, a Síria um sério exemplo...

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