“O Facebook e o Twitter têm o potencial de se
transformar em espaços geradores de representações, fábricas de sonhos
inalcançáveis e de infinitas miragens e expectativas que podem levar à
secundarização da cultura de trabalho, promovendo o espírito de mão estendida”,
Armando Guebuza, Presidente da República, Chefe do Governo de Moçambique e
presidente do Partido Frelimo
Maputo (Canalmoz) - O chefe de Estado moçambicano,
Armando Emílio Guebuza, tem uma aversão assumida às redes sociais, nomeadamente
o Facebook, que é a maior rede social usada em Moçambique.
Há poucos meses, Guebuza discursando na sessão do
Comité Central da OJM, lançou fortes ataques contra os utilizadores da rede
social Facebook, apesar dele também possuir uma página naquela rede que em todo
o mundo se estima que tem mais de 800 milhões de utilizadores.
“O Facebook e o Twitter têm o potencial de se
transformar em espaços geradores de representações, fábricas de sonhos
inalcançáveis e de infinitas miragens e expectativas que podem levar à
secundarização da cultura de trabalho, promovendo o espírito de mão estendida”,
disse na ocasião o chefe de Estado moçambicano que é simultaneamente chefe do
Governo e presidente do partido Frelimo.
O chefe de Estado tem motivos de sobra para ter
aversão por esta rede social, porque efectivamente são jovens os seus
principais utilizadores, que por sinal são adversos a seguir políticas impostas
à força.
Quem usa Facebook em
Moçambique
O Facebook é usado em Moçambique um pouco por todas
as pessoas. Mas os utilizadores mais activos são jovens de classe média e com
visão intelectual. São pessoas com formação superior, na sua maioria, que
discutem de uma forma profunda assuntos relevantes do país, desde económicos,
sociais e políticos.
No Facebook fazem-se revelações de factos
históricos comprovados por documentos.
No Facebook, jovens moçambicanos encontram-se com
jovens de diferentes países onde discutem ideias sem censura, sem restrições,
sem custos elevados.
No Facebook, moçambicanos com experiência e
conhecimento comprovado, vivendo no exterior por diversas razões, discutem
ideias de forma aberta com os moçambicanos que estão no país.
Alguns documentos e imagens que mostramos neste
artigo foram extraídos do Facebook e o seu conteúdo e valor são de preocupar
qualquer líder de um regime que adoptou a mentira e falsidade como modelo para
manter o povo a que pertence, desinformado.
Aliás, a lição já foi aprendida a partir da chamada
Primavera Árabe, onde o Facebook foi um dos principais motores usado pelos
jovens para se rebelar contra os regimes ditatoriais. Foi assim na Tunísia,
Egipto, Líbia… Em todos eles, os regimes colapsaram.
Importa referir que o próprio cidadão Armando
Guebuza é utilizador do Facebook, como o são muitos estadistas um pouco por
todo o mundo. Apesar de não gostar desta rede social, Guebuza possui uma conta
no Facebook, com 5.073 seguidores até o dia 21 Agosto de 2012. A página do
estadista moçambicano geralmente anda desactualizada. Só escreve assuntos previamente
apresentados à sociedade seja em discursos ou em despachos presidenciais. Por
exemplo, até à terça-feira desta semana, a página do chefe de Estado não tinha
nenhuma actualização por ele escrita, nos seis meses deste ano. Só estavam lá
mensagens de cidadãos diversos que escreveram para o chefe de Estado
apresentando diversas questões, mas sem resposta.
Desmontada
mais uma grande mentira da Frelimo
Declaração da fundação da
Frelimo em Acra publicada no Facebook
O documento revela o verdadeiro local, a verdadeira
data e os verdadeiros fundadores da FRELIMO e está devidamente assinado
Um
jovem moçambicano a viver nos Estados Unidos, de nome Miller Matine, publicou
há semanas no Facebook, um documento autêntico que se não deita abaixo toda a
versão do regime sobre a fundação da Frente de Libertação de Moçambique
(FRELIMO), pelo menos cimenta as dúvidas que existem sobre a história oficial
desta organização que está no poder desde a Independência Nacional.
O
documento é a declaração da fundação da FRELIMO em Acra, capital de Ghana, no
dia 02 de Fevereiro de 1962. De três parágrafos, o documento é assinado pelos
representantes da MANU e UDENAMO, nomeadamente: Mateus Michangi Mole
(presidente da MANU); Lourenço Milinga (secretário Administrativo da MANU);
Hlomulo Chitofo Guambe (Presidente da UDENAMO) e; Calvino Zaqueu Maxayeye
(Secretário Nacional da UDENAMO).
Nos
três parágrafos deste documento escrito lê-se o seguinte:
“No
final da conferência dos combatentes pela libertação em Acra, os delegados das
organizações nacionais de libertação moçambicana, nomeadamente União Nacional
Democrática de Moçambique UDENAMO, União Nacional Africana de Moçambique,
(MANU), encontraram-se para discutir o objectivo da união das duas organizações
políticas, numa frente comum com o objectivo de combater o colonialismo
português e o imperialismo em Moçambique.
A 02
de Fevereiro de 1962, o povo moçambicano, o povo africano e o mundo
testemunharam o desejo do povo moçambicano de formar uma frente unida conhecida
como Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
Os
membros da UDENAMO e MANU presentes são automaticamente membros da Frelimo. Em
adição a estes, Frelimo aceitaria indivíduos, grupos, associações, sociedades
de cariz político e não político organizadas por moçambicanos a serem membros,
contanto que tais indivíduos e organizações aceitassem o objectivo da Frelimo
que era a libertação total de Moçambique via luta armada”
Este
documento gerou debates acérrimos sobre a veracidade da história de Moçambique.
São debates participados por gente séria e formada, participado de forma
alargada que nenhum meio de comunicação social moçambicano, seja rádio, jornal
ou televisão, seria capaz de organizar. Surgiram centenas de comentários a
criticar a mentira da história de Moçambique e claro, houve alguns que tentavam
justificar porquê os moçambicanos foram ensinados desde sempre que a FRELIMO
fora fundada a 25 de Junho de 1962, em Dar-Es-Salam, na Tanzania, por Eduardo
Mondlane.
Jovens
com formação superior admiravam-se do conteúdo daquele documento. Em todos os
anos de formação nunca tinham ouvido falar dele. Pessoas como o vice-ministro
das Pescas, Gabriel Muthisse, e o historiador moçambicano, Egídio Vaz,
participam nesses debates, conferindo seriedade do assunto.
Samora Machel foi membro n.º 66.186 da FRELIMO
Igualmente
no Facebook foi publicado o cartão de membro da FRELIMO, de Samora Machel. Como
pode ser visto aqui, leva o número 66186, emitido em Dar-Es-Salam, a 22 de
Fevereiro de 1965. Foi assinado por Silvério Nungo, então Secretário
Administrativo da FRELIMO.
O
cartão publicado na rede social gerou longo debate com centenas de comentários.
Muitos jovens questionaram como Samora se tornaria no Presidente do Movimento e
primeiro Presidente de Moçambique, se afinal se tornara membro efectivo da
FRELIMO em 1965. Muitas hipóteses foram levantadas. Entre elas houve quem disse
que Samora teria promovido matança dos seus superiores hierárquicos para chegar
ao cargo. Um dos nomes citados como tendo sido vítima dele foi Filipe Samuel Magaia,
natural de Mocuba, que então era Chefe da Defesa, cargo que Samora viria a
ocupar após a morte de Samuel Magaia, acumulando também com o de Segurança.
Assim passou a ser chefe de Defesa e Segurança.
Carta de Uria Simango sobre a situação sombria da Frelimo
Ainda
no Facebook foi publicado um documento escrito pelo Reverendo Uria Simango,
descrevendo a situação sombria em que a Frelimo vivia no momento, em 1969, após
o assassinato de Eduardo Mondlane. Eis um extracto documento:
“A morte de Silvério Nungu”
“De
que eram frequentes mortes a sangue frio e deliberados assassinatos no nosso
exército, era assunto de aquecidas discussões dentro e fora da FRELIMO. Os
desertores sempre disseram que isto estava sendo feito e os chairmen de Cabo
Delgado levantaram o assunto como a maior razão da sua exigência de secessão.
Os nossos oficiais militares sempre recusaram as alegações e isto criou duas
linhas diferentes de opiniões. Toda a gente procurou pelas evidências. A morte
do camarada Nungu deu uma luz para toda a questão, e ficou provado que todas as
alegações eram verdadeiras.
Ninguém
é contra a aplicação da pena capital para aqueles que o merecem, aqueles que
colaboram ou são nossos inimigos. Mesmo assim, cada caso deve ser examinado
cuidadosamente e ver-se se a necessidade de dar tamanha punição é justa ou não,
pois doutra forma torna-se vandalismo. Em relação aos assassinos dos camaradas
Filipe Magaia, Mateus Muthemba, Paulo Samuel Kamkhomba e Silvério Rafael Nungo,
os seus assassinos deviam ser punidos de modo devido, nenhuma piedade deve ser
mostrada aos envolvidos, por serem realmente inimigos da revolução e do povo
moçambicano.
Em
fins de Fevereiro e começos de Março deste ano, depois da morte do Dr.
Mondlane, anterior presidente da FRELIMO, algumas pessoas oriundos do sul do
país, entre os quais Samora Moisés Machel, Joaquim Chissano, Marcelino dos
Santos, Armando Guebuza, Aurélio Manave, Josina Abiatar Muthemba, Eugénio
Mondlane e Francisco Sumbane, tiveram várias encontros em casa de Janet Rae
Mondlane, na Baía das Ostras. Esta última também tomou parte nas reuniões.
Estudaram as circunstâncias que envolveram a morte do Dr. Mondlane como membro
da sua tribo, e a questão de quem o teria morto. Janet informou os presentes
que Filipe Magaia, Sansão Muthemba e o Dr. Mondlane tinham sido mortos por
gente do norte (da Beira ao rio Rovuma) porque estavam contra nós, os do Sul.
Corrigiram-na, sendo-lhe dito que a morte de Magaia tinha sido perpetrada por
uma pessoa do Sul e não do norte. Discutiram também a forma de defenderem e
salvaguardarem os interesses da gente do sul.
Ficou
assente nas reuniões que Uria Simango, Silveiro Nungu, Mariano Matsinhe e
Samuel Dhlakama eram seus inimigos e deviam, portanto, ser eliminados. Esta
decisão foi criticada por dois homens idosos, Francisco Sumbane e Eugénio
Mondlane, primo do falecido presidente. Insistiram que todos deviam cooperar e
trabalhar com Simango e que o contrário era tribalismo. O seu conselho não foi
seguido. Foi decidido que durante a reunião seguinte do Comité Central,
devia-se tomar algumas acções. Se for impossível persuadir Simango e Nungu a
deslocarem-se ao interior, devia-se usar a força (rapto). Marcelino alertou os
presentes de que matar Simango neste momento, poderia produzir maus efeitos
porque ele era conhecido internacionalmente, contudo, concordou em matar Nungu,
e eliminar politicamente Simango no campo internacional, numa primeira fase
Depois
de em Julho receberem a informação da morte de Nungu, discutiram como proceder
para a liquidação dos restantes, sendo a vítima seguinte Simango. Foi decidido
que os membros do Concelho Presidencial deviam ir ao interior do país
separadamente para inspeccionarem o trabalho em três províncias onde estamos
empreendendo a luta armada, Cabo Delgado, Niassa e Tete. -”Se Simango for não
voltará, será o seu fim” -declararam Samora e Marcelino dos Santos”.
Esta
é apenas uma parte do documento de 18 páginas escrito por Uria Simango e
publicado no Facebook. Depois seguiu-se um longo e continuo debate sem
restrições, onde as pessoas dizem o que lhes vai na alma.
Muitos
dos utilizadores do Facebook fazem-no via telemóveis com acesso à Internet, o
que permite estender a rede dos utilizadores a milhares de jovens que não tendo
computador com acesso à Internet, têm um celular com pelo menos 10 meticais de
crédito para entrar na Internet.
Artigos de jornais replicados no Facebook
Textos
publicados em jornais independentes com pouca tiragem são replicados no
Facebook através de scanners e debatidos por milhares de pessoas. Moçambicanos
no exterior sem acesso aos tais artigos que são publicados em jornais
impressos, pessoas que vivem em zonas onde os jornais não chegam, pessoas sem
posse para comprar jornais, passam a ter acesso aos artigos via Facebook.
Por
exemplo, a recente entrevista concedida pelo Professor António Francisco ao
Semanário Canal de Moçambique foi replicada em diversas páginas de Facebook e
comentada por milhares de pessoas.
Assim,
o Facebook se torna num espaço de debate de assuntos relevantes, que moldam jovens
através de revelações que seriam quase impossíveis em jornais ou outros meios
de comunicação social.
O
Facebook não tem limite de tiragem nem tempo limitado de noticiário. Não é
censurável. A pessoa basta entrar, lê tudo o que quiser e expõe as suas ideias
livremente. Assim se explica como um líder com tendências ditatoriais tem
aversão a esta rede social. (Borges Nhamirre in Canal de Moçambique)