UM DOS LUGARES COM MAIS CRESCIMENTO NO MUNDO
Economia
A dependência do petróleo levou, contudo, a algumas anomalias surpreendentes, nota David White.
Os valores em causa podem fazer com que a Europa se torça de inveja: onze por cento e crescimento médio anual na última década, um excedente orçamental de dez por cento do produto interno bruto no ano passado, exportações três vezes superiores se comparadas às importações e reservas internacionais a duplicaram em três anos. Mas existem outros indicadores que também fazemtorcer de inveja os angolanos. De acordo com o instituto oficial de estatísticas, uma em cada três pessoas com mais de quinze anos é incapaz de ler ou escrever, três quintos da população não têm acesso à electricidade e penas um em cada três tem um fornecimento adequado de água potável e saneamento.
"Facilmente conseguimos ver o progresso, mas seráque eleé suficiente?"É a pergunta de um funcionário internacional em Luanda, que acrescenta:"Não está a ser tão rápido e significativo quanto deveria."
Um dos rostos de Angola é a prova impetuosa da riqueza do petróleo – construção em todos os lugares, as ruas entupidas de veículos 4x4, agências bancárias proliferando e o primeiro shopping centerde estilo brasileiro, o must‐have de economias africanas emergentes.
O outro é um país que ainda sofre os efeitos de pós quarenta anos de insurgência e guerra civil, eprovavelmente com um quarto da população agora concentrada em favelas na capital.
As estatísticas são irregulares. O último censo foi em 1970, quando a população era de 5,7 milhões. Daqui a um ano, no novo censo, espera‐se encontrar cerca de 20milhões. O último inquérito oficial sobre o agregado familiar estima que a taxa de pobreza sejade 36,6 por cento, metade do valor de 2000‐2001, antes de a guerra civil terminar. Autoridades internacionais concordam com que a pobreza diminuiu, mas acham que a taxa real é maior do que 45 por cento.
Apesar dos seus defeitos, a economia sofreu uma mudança extraordinária desde o fim da guerra, quando a inflação anual superava os cempor cento, o governo não conseguia pagar as suas dívidas e o movimento de pessoas e bens era obstruídopor campos minados e estradas cortadas.
Angola tem tido um bom desempenho, acima da média africana, tornando‐se um dos lugares com maior crescimento no mundo. Está entre os países africanos com menor dependência de ajudas. Como um sinal de confiança, o governoestimulou a ideia de uma primeira emissão de obrigações internacionais – um projecto que agora, aparentemente, está parado por causa da turbulência no mercado da dívida.
No entanto, a economia é extremamente vulnerável aos preços do petróleo, como ao impacto de uma desaceleração na China, o seu principal cliente. Desde maio que os preços fragilizados do petróleo bruto e a seca generalizada já reduziram as expectativas para 2012. Depois de uma projeção inicial do governo de crescimento mais do que triplicando a 12,8 por cento, segundo algumas estimativas privadas,a taxa provável é colocada em cerca de 7 por cento.
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As ruas entupidas com veículos 4x4 e o primeiro shopping center em estilo brasileiro, o must‐have de economias africanas emergentes.
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Contínua a ser uma economia desequilibrada, sofrendo de uma escassez de competências, de má qualidade no ensino, serviços deficientes, falta de capacidade empresarial e um acesso difícil do setor privado para aceder aos financiamentos. Com uma certa fama de corrupção e gestão pública opaca, o país mantém‐se com um ranking baixo como lugar para fazer negócios.
O ritmo forçado de transição e a dependência quase total do petróleo deram origem a anomalias. Um deles foi o poder exercido pela Sonangol, a companhia estatal de petróleo e a máquina de gestão mais eficaz de Angola, como um promotor para todos os fins e uma tesouraria substituta.
No ano passado, o Fundo Monetário Internacional descobriu "grandes rubricas de financiamento residual" em contas públicas a partir de 2007 a 2010 – uma incompatibilidade entre o saldo fiscal global e fontes de financiamento identificadas.
A discrepância corresponde essencialmente a despesas não declaradas feitasdirectamente pela Sonangol, com os lucros do petróleo que deveriam normalmente passar à tesouraria, chegou aos US $ 31.4 mil milhões, cerca de um ano inteiro de receita fiscal, o que em parte explica a falta de liquidez do governo durante os anos com crescimento mais lento. A maioria do dinheiro, desde então, já foi contabilizada.
Estes fundos geridos pela Sonangol serão transferidos gradualmente, num processo orçamental ortodoxo. Outra questão é o custo de subsidiar os preços baixos dos combustíveis nacionais, considerando‐se que tenham absorvido mais de 7 por cento do PIB no ano passado. Após a experiência da Nigéria, onde o governo tentou retirar o subsídio aos combustíveis no início do ano,a agitação popular forçou a voltar atrás na sua decisão, é improvável que Angola tente a mesma coisa. A dependência do petróleo gera graves distorções, bem como riscos. Já foi no passado o segundo país mais industrializado no Sul de África, mas Angola tem pouca coisa para vender além de diamantes, gás e alguns produtos refinados.
Com um fluxo de receita em dólares empurrando para cima o valor da moeda kwanza, geralmente é mais barato importar do que produzir localmente. "A economia angolana não é competitiva", informa
Manuel Alves da Rocha, professor de Economia da Universidade Católica de Angola. Salienta que o governo está num beco sem saídae conta com uma elevada taxa de câmbio para conter a inflação.
O governo indica que partes do PIB do sector industrial caíram de 24 a 26 por cento no final do governo português, em 1975, para 4 por cento, em 1990, e manteve‐se nesse nível. Ainda assim, se não conseguir resolver os problemas de electricidade e água, prevê atingir os limites de crescimento nos próximos dez anos, mesmo havendo um grande potencial na agricultura e noutros recursos.
Após dez anos de reconstrução, Angola está à procura de uma base mais ampla de crescimento para se proteger do mercadovolátil do petróleo. Mas, comosalienta um perito internacional, "vai demorar muitos anos para ver uma economia florescente e diversificada.
In Aléxia
Gamito. Facebook
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Aléxia Gamito
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